Sete

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— Quando eu sinto necessidade de religião,

eu saio à noite e pinto as estrelas.


— Ettore, por favor, me dê um motivo para não deixar a aula de química e voltar com uma arma para matar a professora?

— Meu Deus Elisabeth, que horror.

— Eu não estou aguentando mais. Caraca, eu devia me preocupar é com as palavras. Não vou me formar em química, droga. Isso tudo é para quê? Para ensinar que não devo beber cândida?

Não pude deixar de rir do comentário de Elisabeth. Até mesmo na raiva, conseguia ser sarcástica a ponto de fazer todo mundo ao seu redor rir.

— Eu espero que estejam prestando atenção na aula, pois depois lágrimas vão rolar na hora da prova. — Disse a professora Elisa, nos fuzilando com os olhos.

— Desculpa, professora, estamos prestando atenção sim.

Então ela volta para a anotação de seu lá sei o que estava anotando.

— Bem, pessoal, atenção para a chamada. E espero que escutem bem, pois quem não responder, vou pôr falta.

Estava havendo alguns cochichos, mas logo se cessaram quando a professora falou que iria colocar falta para quem não respondesse.

E assim, ela fora chamando um de cada vez, passando por Elisabeth e por mim e enfim, chegando a... Roy?

— Roy Andrew?

— Ele deve ter faltado, professora. — Disse uma garota do outro lado da sala.

— Ok...

E continuou fazendo a chamada normalmente.

— Ettore, será que é o seu amigo?

— Eu não sei. Eu saberia se ele tivesse me falado o sobrenome.

— Não duvido que seja. Qual é o individuo em toda a sua existência que se chama Roy? Já ouviu esse nome antes?

— Não, nunca.

— Então... Aposto um lanche na cantina que é ele.

***

— Enfim livres! — Disse Elisabeth, estendendo os braços para cima em forma de agradecimento.

Não curtia muito química também. Só gostava das experiências que fazíamos no laboratório. Mas quando chegava a parte de exatas, era onde eu travava completamente.

— Que aula vamos ter agora? — Perguntou ela.

— Acho que é... — Tinha uma pequena anotação na palma da minha mão esquerda. —...leitura.

— Perfeito. Preciso dar uma relaxada mesmo. Provavelmente o sr. Magório vai falar para pegarmos algum livro das estantes e prateleiras e começar a ler e depois fazer um pequeno resumo do que se entendeu até agora.

— Bem provável, Elisabeth.

***

— Bem turma, quero que vocês peguem qualquer livro aqui da biblioteca, leiam e depois quando der o sinal, em casa façam um resumo do que entenderam até agora da história, está bem?

— Eu falei. — Cochichou Elisabeth ao meu lado.

Logo pegamos nossos livros e começamos a ler.

Elisabeth pegara o livro A Megera Domada, enquanto eu havia pego o livro A Mansão Hollow da Agatha Christie.

Passados alguns minutos de leitura, escutamos o bater da porta logo atrás. E foi um som bem forte, estrondoso.

— Está atrasado, mocinho! Por isso, vai levar ocorrência.

— Não vai ser necessário, professor. Eu estava na sala da diretora. Aqui está um bilhete que ela me mandou entregar para o senhor, caso isso fosse ocorrer.

— É... Bem... Tudo bem. Sente em qualquer lugar. Pegue um livro e comece a ler. Depois eu quero que faça um resumo do que entendeu até onde parou em casa, está bem?

— É o senhor quem manda.

Pareceu que o sinal tocara em torno de cinco segundos.

Eu estava superconcentrado na leitura, assim como Elisabeth também estava.

Porém, não conseguia parar de sentir a estranha sensação de estar sendo observado.

Às vezes, parava minha leitura para procurar pela biblioteca se havia alguém me olhando. E não demorou muito para encontrar Roy me olhando de relance. Entretanto, toda vez que meus olhos encontravam os dele, ele desviava o olhar, voltando para o livro que tinha pego, tentando disfarçar.

— Eu passo na sua casa hoje de noite para darmos uma última revisada no trabalho, ok?

— Claro. Vou pedir para a minha mãe fazer aquela torta de calabresa que você gosta.

— Aquela com requeijão e muçarela?

— Exatamente.

— Já estou contando os minutos, Ettore. Bem, eu preciso ir. Minha mãe está ali na frente. Você vai querer carona ou vai a pé de novo?

— A pé.

— Está bem, até mais tarde.

— Até!

Estava prestes a me virar para pegar o caminho de volta para casa, quando parei bem em frente a Roy, que estava me olhando atentamente.

— Olá corujinha!


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora