Vinte

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— Decifra-me, mas não conclua.

Eu posso te surpreender.


Infelizmente Elisabeth não conseguira ir conosco para o Cantinho das Estrelas. Ela teria que acompanhar sua mãe em algo mais importante e que nosso passeio ficaria para depois.

Mas lá estávamos nós, Roy e eu, sentados sobre a grama, olhando o céu estrelado logo a cima de nós, como se estivéssemos admirando a arte de um grande e renomado pintor.

Estávamos em total silêncio, como se aquele lugar fosse uma biblioteca, onde não poderia fazer nenhum som se quer. Porém, quem iríamos incomodar? Os únicos seres dali eram apenas nós dois.

Ainda com seus olhos sobre o céu, Roy tomou a iniciativa de quebrar a barreira do silêncio, dizendo:

— Corujinha, eu não sei se vou aguentar por muito tempo.

— Aguentar o quê, Roy?

— Lembra de quando eu disse que estava apaixonado por outra pessoa?

— Lembro sim.

— Então... A cada momento que eu passo com essa pessoa, meu coração a ama mais. Eu não sei se vou aguentar muito tempo. Eu preciso contar a ela o quanto a amo e o quanto quero ficar perto dela.

— E por que não conta?

— Medo. Medo de não ser correspondido. Medo de eu acabar com uma amizade, que por mais não tenha tanto tempo assim, possa desmoronar como um castelo de cartas.

Levantei-me, fazendo o mesmo que ele fizera no dia em que estava na minha casa. Segui para me sentar em sua frente. E ao olhar seus universos que brilhavam e lagrimejavam de um choro que estava prestes a vir, comecei a lhe dizer:

— Roy, não sei se sou a pessoa certa para lhe dizer isso, mas eu penso dessa forma: É melhor tentar algo, do que se arrepender mais tarde e saber toda a verdade, só pelo medo de não ter tentado. Talvez essa pessoa o ame, assim como você ama ela, porém ela também tem medo de se abrir. Tecnicamente, vai ser algo que puxa o outro. Quem sabe você se abrindo para essa pessoa, ela também se abra, dizendo que sente o mesmo por você.

— Tem razão corujinha. Devo fazer isso.

— Isso. Tem mesmo.

Roy se levantou, seguindo para a grade, se apoiando com seus braços entrelaçados e olhando a bela paisagem estagnada a sua frente, onde saberíamos que não iria para lugar algum.

— Roy?

— Sim?

— O que foi?

Segui para junto a ele, estando alguns centímetros longe.

Roy se virou para me encarar, se agachou, com um joelho no chão, enquanto seu outro pé fazia com que se equilibrasse naquela posição.

Roy estava com lágrimas em seus olhos, que rolavam por sua face. Pegou minha mão direita logo em seguida e deu um leve beijo, me olhando fixamente. E começou dizendo:

— Talvez não tenha ficado claro sobre essa pessoa. Mas espero que agora seus olhos abram para quem estou falando. Por mais que tenhamos nos conhecido há tão pouco tempo, você acabou despertando algo dentro de mim que desde o meu último relacionamento não achei que fosse capaz de sentir de novo. Ao olhar para você, meu coração bate rápido, como se você mexesse de alguma forma comigo. Como se o meu mundo e o meu universo fosse você. Como se eu precisasse de você para respirar. Não sei se você percebeu, porém você também abriu meus olhos para muitas coisas. E essa é uma. Abriu meus olhos para um amor que eu nunca tive antes. E eu amo você do fundo do meu coração, como nunca amei ninguém. E não sei você vai me corresponder da mesma forma, mas aí vai... — Cada palavra, era uma flechada do cupido em meu coração. — Corujinha, você quer namorar comigo?

Aquilo foi o bastante para que eu pulasse em cima de Roy e o beijasse, sem medo de o tempo passar.

O puxei para cima, segurando suas duas mãos.

Sem desviar o olhar de seus universos, aproximei ainda mais de seu rosto, com a respiração ofegante, as mãos suando, meu coração batendo tão forte que poderia pular para fora do meu peito e com um leve e doce beijo, nossos lábios se entrelaçaram, dando-lhe a resposta para sua pergunta.

Mas no mesmo instante, tudo começou a tremer.

O que estava acontecendo? Um terremoto? Como poderia haver terremotos ali na cidade? Ficávamos num lugar onde se chegasse algum terremoto, viria numa frequência baixa, quase não dando para senti-lo.

O chão começou a rachar, debaixo de nossos pés.

E assim que puxei Roy para sairmos dali me dei conta que ele havia sumido.

E no mesmo momento, um abismo se abriu logo abaixo de mim. E então cai, num buraco que parecia que não tinha fim.

A horrível sensação de se estar caindo.

E então, num súbito susto, acordei ofegante.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora