Doze

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— Resolvi pensar menos, me preocupar

menos, ligar menos, deixar as coisas acontecerem.


— Juro que por um certo instante, eu pensei em ir na sua casa depois da escola e te esfaquear inteiro. — Disse Elisabeth, enquanto saíamos da sala de matemática para o intervalo.

— Eu disse que viria. Não poderíamos perder esse trabalho por nada.

— Eu sei, meu querido, só que você não chegava, então fui ficando cada vez mais nervosa com sua ausência.

Elisabeth era incrível em fazer milhares de coisas enquanto conversava e andava ao mesmo tempo. Com uma piranha na boca, juntava todo o seu cabelo atrás da cabeça, enquanto segurava alguns livros por debaixo do braço.

— Tem certeza de que não quer ajuda?

— Jshd5@!?jkc.

— O quê?

Elisabeth enfim prende a piranha em seu cabelo.

— Eu disse que não precisava, obrigada. O que eu quero saber é por que você chegou atrasado? Você nunca chegou em um único dia, pelo que eu me lembre, atrasado na escola. Principalmente numa apresentação.

— Roy apareceu em casa ontem. Algumas horas depois, assim que você saiu.

— Sério? O que ele foi fazer lá? E outra, como é que ele sabia onde você morava?

— Isso é algo de que eu não me toquei.

— Esse garoto me parece um tanto estranho, Ettore.

— De certa forma, mas um estranho bom. Do bem, digamos assim.

— Como pode saber isso?

— Eu o convidei para ficar conosco na hora do intervalo, tem algum problema?

— Não, não tem. Mas vou logo lhe avisando, se eu não for com a cara dele, apesar de ele ser um gatinho, não me force uma amizade, ok?

— Tudo bem.

Seguimos para o refeitório, onde habitava milhares de pessoas e grupos clichês de escolas. Nerds, CDF's, populares, patricinhas e por aí vai.

E ao longe, avistamos Roy, sentado numa mesa vazia que continha três cadeiras, contando com a dele. Ele já estava com sua bandeja, aproveitando muito bem sua maçã-verde, seu sanduiche de pasta-de-amendoim, seu suco de caixinha e seu pudim de chocolate.

Elisabeth adorava pudim de chocolate.

— Oi Corujinha, oi... — Disse Roy, se levantando e dando um olá com as mãos.

— Essa é Elisabeth, Roy.

— Oi é um prazer.

— Digo o mesmo, Roy.

Não esperava muito da reação de Elisabeth, porém o ato de Roy com ela foi algo que realmente conquistara a amizade da garota de óculos e de cabelos ruivos.

— Espero que você não se incomode Elisabeth, mas deixei esse pudim para você, pois era o último.

Pudemos ver os olhos de Elisabeth brilharem. E naquele momento eu soube que ela adoraria ter Roy como um amigo. Não porque ele guardar pudins de 

chocolate para ela, mas pelo fato de ter sido generoso a ponto de ter guardado um pudim de chocolate para ela.

— Por favor, sentem-se.

***

Era algo reconfortante e desconfortante ao mesmo tempo, querer saber o que se passava na cabeça de Roy. De como era seu mundo. E como ele aproveitava o máximo daquilo tudo.

Algo em Roy despertava uma curiosidade insaciável de querer procurar, pesquisar, ir atrás, se perguntar o porquê daquilo e o porquê disso. É como se cada pergunta tivesse sua resposta, não importante se ela fosse algo religioso, científico ou sei lá mais o quê, porém que fizesse sentido em tudo.

Fizesse sentido pelo menos para mim.

— Foi bom conhecer você melhor Roy, de verdade. E obrigado pelo pudim. — Disse Elisabeth, dando tchau para nós, enquanto seguia para o carro de sua mãe.

— Vai fazer algo agora, depois da escola? — Me virei para Roy.

— Não, por quê?

— Que tal você ir para a minha casa? Meu pai não vai estar, mas pelo menos você conhece a minha mãe.

— Eu iria gostar muito.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora