Vinte e Sete (Roy)

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— Foda-se o sistema!


Antes de conhece-la, eu estava pensando seriamente em morar sozinho. Estava pensando em alugar algum quarto, que fosse, só para ficar longe das intrigas dos meus pais. Por mais que eu não desse a mínima, não adiantava nada, pois por fora eu estava calmo e sereno, como se não ligasse, mas por dentro eu estava prestes a gritar com os dois e manda-los para um lugar sem luz. Porém, ao contrário deles eu tinha um pouco de juízo. Bem, ou quase. Mas eu sabia que ninguém iria alugar um quarto no final da esquina para um garoto de dezesseis anos. Apenas sonhava com isso. Mas assim que eu estivesse prestes a fazer dezoito anos, eu iria embora, sem falar para eles aonde eu iria. Nada de bilhetes. Nada de mensagens na caixa postal. Nada de Roy Andrew. Seria apenas eu e minha nova vida longe de encrencas familiares. E quem sabe, formaria minha própria família, conhecendo uma garota legal ou um garoto, quem sabe?

Mas foi naquele dia que tudo mudou. Quando meu pensamento em fugir e deixar meus pais para morar sozinho mudou.

Eu estava na maldita escola, no sétimo círculo do inferno; pois eu acreditava que aquele lugar era o inferno de Dante; quando aquele anjo apareceu. Seu armário era do lado do meu, tecnicamente colado, sem ser dois armários para esquerda ou para a direita. Não, ele era ali. Eu havia deixado cair meu livro de História da Segunda Guerra, por causa do panaca do Steven ter 

jogado a merda de uma bola de tênis na minha cara. Mas assim que eu fui me abaixar para pegar o livro, havia pés com coturnos pretos no lugar onde deveria estar o livro. E foi como uma cena de filme. Fui levantando o olhar, até ver a garota que estava segurando o tal livro que eu havia deixado cair.

Ela deu um lindo sorriso para mim, entregando-o, enquanto dizia seu nome. Genevieve Snow.

— Prazer, me chamo Roy Andrew. — Estendi a mão para cumprimenta-la e ela respondeu, apertando-a fortemente.

E foi naquele instante que nos tornamos melhores amigos. As pessoas até achavam que eu estava namorando Genevieve, pois éramos muitos próximos. Steven ficara até embasbacado, pois ele pensava: como ele, um garoto nada descolado, nerd, sem um pingo de aventura nas veias poderia ter pego a garota mais gata do colégio.

Mas não a namorava, porém, com o passar do tempo algo havia se tornado mais que amizade.

Lembro-me como se fosse ontem, quando ela me levara para a sua "segunda casa" fora do inferno, que era a primeira.

Ao sairmos do ônibus numa tarde de sexta-feira ao pôr do sol, chegamos a um lugar que eu nunca poderia imaginar que ali seria a sua segunda casa. Depois de atravessarmos a rua para o outro lado da calçada, pegando uma viela, que de relance parecia ser sem saída, chegamos a um lugar que cruzava junto a linha do trem de carga.

Era o cemitério-de-coisas-largadas da cidade. Ali havia tudo o que não servia mais para as pessoas. Tudo estava abandonado, desde carros velhos a brinquedos quebrados e fantoches do clube de teatro infantil.

Ali, antes, era o lixão da cidade, onde acontecia as coletas e as reciclagens, porém com a mudança de prefeito, acabou por mudar a localidade do lixão, colocando-o em um lugar onde não houvesse tanto incomodo por causa do mal cheiro.

E agora, ali servia como depósito para cidade inteira colocar coisas que não usassem mais. Não tinha odor e nem nada do gênero, mas a energia que aquele lugar transmitia era de pura paz e mais alguma coisa que até hoje nunca soube distinguir. De vez enquanto o trem passava, cortando a cortina do silêncio que ali havia.

O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora