Treze

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— Ela procurava as flores sem saber

que a primavera morava dentro dela.


Eu não sei o que minha mãe viu em Roy, mas parecia que tínhamos recebido uma pessoa de figura muito importante em casa. Nunca a vi fazer aquelas coisas que fazia para Roy, com mais nenhuma outra pessoa. Nem mesmo quando apresentei Elisabeth pela primeira vez.

— Minha mãe deve ter gostado muito de você, Roy! — Disse, enquanto subíamos para o meu quarto. Tínhamos acabado de almoçar.

— Por que diz isso?

— Ela nunca foi tão legal, a ponto de fazer tudo aquilo que ela fez. Tipo, não parar de oferecer as coisas, sempre dar atenção para o que falava; perguntar. Ela nunca fez isso.

— Bem, que sorte a minha, não é mesmo? — Disse Roy, dando uma leve risada entre dentes.

Assim que passamos da porta e entramos, no que eu gostava de chamar que era o meu mundo onde podia me refugiar em qualquer situação, Roy foi direto para a minha estante de livros.

— Achei que você tivesse mais livros.

— Não muitos, mas o que tenho, são maravilhosos e não troco por nenhuma outra coisa.

— Por falar nisso, ainda está lendo aquele?

— Sim, estou sim. Já estou no finalzinho, na verdade.

— E como está indo o livro? — Fiz um sinal para que Roy se acomodasse em minha cama.

E assim, ele se sentou, me olhando sem desviar seu olhar.

— Não posso reclamar. Ele me admirou bastante.

— Pode me emprestar ele depois que terminar?

— Claro que posso, mas antes você precisa ler esse — Segui para a estante, onde tirei um livro de capa dura e de cor amarronzada. — "Nunca me deixe ir".

— Esse é o nome? Do que se trata?

— Fala sobre duas garotas, que são amigas e tals... Porém, uma delas decide dar fim a sua vida, depois de muitos ocorridos horríveis. Então, a garota tenta ajudar sua amiga, querendo lhe mostrar que a vida não era um mar de amarguras e decepções. E ela larga tudo para não deixar que ela se mate.

— Nossa... Que história intensa.

— Sim... Mas é muito boa.

— E ela consegue? Ou a garota se mata?

— Isso você vai ter que descobrir.

Roy pegara o livro de minha mão e o acariciara, depois o colocando em sua bolsa.

Em seguida, ele retira um pequeno caderno que continha algumas figuras coladas e letras de todas as formas e fontes.

— Tome!

— O que é isso?

— Esse é o tal caderno de frases que eu tenho. Anoto todas as frases que acho boa, aí.

Ao abri-lo, vi grandes e curtas frases, às vezes contendo o nome do autor logo embaixo ou até mesmo não.

— Se importa de deixar comigo hoje? Quero lê-lo com calma.

— Claro que não. Pode ficar. Assim que terminar, você me devolve.

Levei o caderno de Roy até minha escrivaninha.

Em seguida, fui para a grande almofada que tinha do lado da minha escrivaninha no carpete do quarto, me jogando completamente em cima.

— Cansado? — Perguntou Roy.

— Um pouco.

Roy seguiu para onde eu estava, sentando-se logo a minha frente. Pedi para que pegasse alguns dos travesseiros da minha cama para se acomodar, mas não hesitou em voltar, apenas se acomodou e ficou ali, me olhando.

Era um tanto constrangedor, mas algo curioso.

O que é que ele estava fazendo, afinal?

— Você é uma caixinha de surpresas, Roy.

— Por que diz isso?

— Não sei... Sempre está me trazendo aspectos novos de seu mundo e eu gosto disso. Mas às vezes não entendo. Como, por exemplo, agora.

Roy deu um sorriso entre dentes novamente.

Um sorriso que me fez pensar: Meu Deus, que perfeição!

— Por incrível que pareça, corujinha, você faz parte do pequeno grupo de que entende o que penso ou até mesmo falo.

— É mesmo?

— Mesmo. Se eu tento ser eu mesmo perto dos meus pais, por exemplo, vou ficar taxado como louco.

— Mas você não é louco. Você só tem uma maneira diferente de ver as coisas.

— Pelo qual você entende.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora