Onze

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— Dedique mais tempo ao que

realmente te faz feliz.


— Para onde que é que você está me levando, Roy?

Estávamos subindo uma pequena colina, que parecia não levar a lugar algum. Sem mencionar a horrorosa floresta que ficava ao anoitecer. As árvores não deixavam a luz da lua penetrar sobre o verde do chão, o que deixava a paisagem como uma cena de terror.

Eu estava ofegante e cansado. Parecia que tínhamos corrido uma maratona. Estava torcendo para que 

lá em cima ainda tivesse grama, assim eu poderia me esparramar pelo chão.

— Estamos quase chegando.

Roy não parecia nem um pouco cansado. Era como se já estivesse se acostumado com aquilo. Não via em seu semblante, uma pessoa cansada por andar, ou melhor, por subir demais. Até mesmo estar ofegante. Ele não demonstrava nenhum desses indícios.

— Pronto, chegamos.

Ao chegarmos no topo da pequena colina, fomos presenteados por uma paisagem sem igual.

Bem a nossa frente havia um pequeno lago e um banco feito de gesso logo na beirada, provavelmente para as pessoas se acomodarem. Havia uma grade que impedia de alguém de se jogar de um abismo e ter fraturas graves, porém era muito bem apreciado pelas luzes das casas e pelos postes das ruas, da parte leste da cidade.

E o mais importante estava logo em cima de nossas cabeças.

Roy apontou para cima e logo fomos muito bem recebidos por milhões e trilhões de estrelas que brilhavam sem cessar no céu.

Ele me pegou pelo braço e me levou até o banco, fazendo com que nós dois se sentássemos.

— Como assim eu nunca ouvi falar desse lugar?

— Normal. Provavelmente seus pais nunca falaram sobre essa parte da cidade.

— Por quê? O que tem demais?

— Tecnicamente parece mais uma história da sereia Iara.

— Como é?

— É uma das lendas do folclore brasileiro. Porém, o que houve aqui talvez não chegue aos pés.

— Mas o que aconteceu aqui?

E logo fizemos a mesma cena do parque, novamente.

Roy tirou um cigarro de seu maço que estava no bolso. Fiz o gesto de como estivesse acendendo um isqueiro. E assim que dera uma tragada em seu cigarro meio imaginário e meio real, começou a falar.

— Antes, a parte desse lugar da cidade, era um local de puro lazer. A maioria das pessoas vinham nos finais de semana, ou para namorar ou apenas para trazer a família, pois não tinha outro lugar para ir para aproveitar o dia. Até que algo ruim aconteceu.

— E o que aconteceu?

— Um garoto de 15 anos de idade, sempre gostava de vir aqui e observar a paisagem, sentir a brisa fria que o vento lhe dava e até mesmo sentir o cheiro da terra molhada que o lago proporcionava. Porém, o especial era ver elas. As estrelas.

— Mas o que tem de ruim nisso?

— O ruim é que ele se matou para se juntar a elas. Ele era tão vibrado nelas, que queria ter uma só para si. Mas já que sabia que não podia ter e que nunca isso iria acontecer, a única opção foi se juntar a elas.

— E o que ele fez?

— Ele quis mergulhar no lago e deixar seu corpo. Porém, não tinha coragem para fazer isso. Na verdade, era um jeito que ele não queria morrer. Então ele se jogou desse abismo. Esse é o porquê dessas grades. Antes não havia isso aqui.

— Meu Deus... Como você sabe de tudo isso? Como isso pode ser verdade?

— Na verdade, não é. Eu que acabei de inventar.

Apesar de estar decepcionado, não tive outra reação a não ser dar um riso de desconforto.

— Sério? Cara, eu achei que fosse de verdade.

— Bem, a parte de as pessoas virem aqui, sim. Ainda elas vêm. Porém, não como antes.

— Eu super acreditei nisso.

— Muito obrigado!

— Você deveria começar a escrever esses tipos de histórias.

— Eu escrevo em um caderno que eu tenho, pequenas frases de reflexões. E isso me faz bem. E todas as noites eu venho aqui e olho para elas, para ter uma ajuda quando não consigo escrever.

Ficamos nos olhando por um momento, como se tivéssemos lendo um ao outro. Ou pelo menos as nossas almas lendo uma a outra.

Roy fez o gesto de apagar o cigarro, jogando-o no chão e pisando em cima.

— Porém, corujinha, me sinto assim às vezes.

— Como assim?

— Sentir-se atraído por elas. Como se elas tivessem algo a mais para me proporcionar.

— Não está pensando em...

— Não, claro que não. Só estou dizendo que às vezes, eu acho que deveria saber algo a mais.

— Digo o mesmo.

— Mesmo?

— Sim. Mesmo.

— Mas o que te faz achar que precisa saber algo?

— As estrelas!


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora