Vinte e Um

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— Às vezes, não há nenhum aviso. As coisas acontecem

em segundos. Tudo muda. Você está vivo. Você está morto.

E as coisas continuam. Somos finos como papel.

Existimos por acaso.


É sério isso?

É claro que tudo isso só poderia ter sido um sonho. Não estava nem aos pés de se tornar realidade.

Eu havia pego no sono enquanto terminava de ler os últimos capítulos do livro.

Ao olhar para o relógio que ficava em cima da minha escrivaninha, marcava exatamente 20h30. Eu havia dormido cinco horas inteiras. Não sabia que meu corpo precisava desse sono todo.

Levantei, colocando o livro em cima do meu criado-mudo.

Segui para a cozinha, pé ante pé, para não acordar meus pais, que provavelmente já estavam no terceiro sono. O piso de nossa casa era de madeira, revestida com carpete, porém ainda havia algumas tábuas que rangiam; que poderiam muito bem tomar lugar do despertador pela manhã.

Mas algo estava errado.

Ou alguém tinha deixado a luz da cozinha acesa ou ainda alguém estava acordado.

Segui cautelosamente para perto da porta, esperando encontrar alguém na cozinha, porém a minha primeira teoria estava certa. Provavelmente mamãe ou papai haviam deixado a luz acesa.

Segui para o armário, para pegar um copo, pois minha garganta estava seca, como se eu tivesse engolido areia. Mas foi quando me deparei que ele estava aberto. A porta do armário estava aberta. E havia uma pequena poça de água logo abaixo.

Como eu não a tinha sentido antes? Estava tão cansado assim para não perceber?

Depois de ter arrumado a pequena bagunça que mamãe havia deixado em cima da mesa e de secar a poça, tomei um gole de água e segui para o quarto novamente, percebendo que não estava ouvindo os roncos do meu pai. Isso era impossível, pois ele sempre roncava todas as noites.

Talvez não esteja fazendo sentido para você, mas para mim faz todo sentido. Mamãe até tem que colocar algo em seus ouvidos para conseguir dormir.

Foi então que cheguei perto da porta, colocando meu ouvido esquerdo perto da madeira para conseguir escutar algo. Mas nada. Absolutamente nada.

Ao girar a maçaneta, me deparei com a cama toda arrumada e um silêncio total.

Como assim? Onde estão meus pais? O arrebatamento chegou e eu fui deixado para trás ou o quê?

Foi quando naquele exato momento, escutei o telefone de casa tocar na sala.

Aquilo já estava começando a me assustar. Parecia mais uma cena de terror. Eu estava num filme e não sabia?

Desci correndo para atender o telefonema, quase caindo num dos degraus e rolando escada abaixo.

Ao pegar o telefone, só pude escutar a voz de meu pai do outro lado da linha, perguntando para uma outra pessoa presente se ela estava bem. E logo em 

seguida pude escutar uma sirene de ambulância e a ligação veio ficar muda.

O que estava acontecendo, afinal?

Voltei correndo para o meu quarto, colocando meu All Star de maneira quase impossível nos pés e logo depois peguei uma blusa de frio.

Procurei onde estava as chaves de casa, porém não as estava encontrando, mas não tinha tempo a perder.

Deixei as coisas como estavam; as portas apenas encostadas e as janelas fechadas, porém sem trinco. Chegando a conclusão de que qualquer um poderia roubar a nossa casa caso quisesse.

E fui apenas torcendo para que nada, seja lá o que tivesse acontecido, fosse algo grave.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora