Dezesseis

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— O que você tem, todo mundo pode ter,

mas o que você é, ninguém pode ser.


Então era assim? Era isso que as pessoas sentiam? E é o tal do sentimento que emana de dentro, que te faz ter borboletas no estômago, formigamento sobrenatural nos dedos e uma vontade imensa de sentir os lábios de outra pessoa nos seus?

Eu sei, pode não parecer verdade nada que eu expresse ou fale aqui, porém estou falando o que, realmente, nunca aconteceu comigo. Tudo isso despertara de uma só vez, o que me fez querer me esconder por não saber lidar com isso. Mas apesar desse sentimento "estranho", ele é bom de ser sentido.

É como se tudo ao seu redor não girasse mais em torno de você e sim aquela pessoa. Aquela pessoa virasse o seu mundo, o seu universo. Virasse aquilo que você precise para viver. Uma pílula. Um antidoto. Uma poção mágica, talvez.

Não. Não é nada disso. É só o fato dela estar ali. Dela existir. De você poder tocá-la, senti-la. Olha-la. E dizer o quanto está agradecida por ela se fazer presente em sua vida.

Então tudo isso estava guardado dentro de mim, esperando o momento certo de se abrir, por ter a certeza de ter achado a pessoa ideal.

E lá estava ele.

Seus braços cruzados atrás da cabeça, suas pernas entrelaçadas uma nas outras, enquanto observava a paisagem de um céu logo a cima, revestida por um

pano negro e lindos pingos de puro calor e brilho, mais conhecido como estrelas.

— "Quando eu sinto necessidade de religião, eu saio à noite e pinto as estrelas". — Eu não parava de observá-lo. Ele estava deitado sobre a grama verde do recinto, olhando para o céu. Enquanto eu estava sentado com as pernas cruzadas ao seu lado. Roy fechou seus olhos logo em seguida que dissera aquela frase. — Sabe de quem é essa frase, corujinha?

Ele falava comigo ainda com seus olhos fechados, como se estivesse observando algo que eu queria ver também em sua mente.

Parecia que Roy era uma pintura feita a óleo. As curvas de seu rosto. O formato e entradas de cada parte, tão perfeitamente, pintadas... Era confortante em vê-lo. Ele parecia tão em paz consigo mesmo, que por um momento me senti na inveja de ele conseguir chegar a esse grau.

— Não faço a mínima ideia.

— Van Gogh. Vicent Van Gogh.

— Não fazia ideia de que ele escrevia também.

— Ele era um homem de muitas coisas. Até mesmo de enxergar a forma das coisas de um outro jeito. Um jeito que só ele sabia entender e poucos conseguiam lhe acompanhar. Bem, acho que ninguém conseguia lhe acompanhar.

Não disse nada.

Afinal, o que iria dizer? Tudo em Roy me fazia ter a vontade de querer questionar. De querer saber mais. De querer ir mais a fundo e descobrir se é realmente real. Se é tudo verdade ou um mito.

Queria poder entrar em seu mundo e saber como eu posso enxergar... Como eu posso ver... Como eu posso sentir.

— Van Gogh, em um dia de muita chuva, resolvera pintar um quadro. Não se importando se iria lhe molhar ou até mesmo se ele iria ficar doente. E isso me fez pensar em algo.

— O que te fez pensar?

— Me fez pensar a respeito de que, não importa o clima, a situação que você se encontra ou até mesmo o que os outros vão dizer depois. Se você faz aquilo porque gosta, então o que te impede de seguir em frente? Seus próprios pensamentos? O NÃO em sua cabeça? Aperte o botão do foda-se cara, e só vai mesmo estando com medo e com receio. Pelo menos se não der certo, você pode dizer que tentou. E tente novamente.

Ai Roy, o que você tem que faz chamar tanta a minha atenção?

Estava prestes a me levantar, pois minhas pernas estavam começando a doer, quando acabei me desequilibrando e caindo em cima de Roy.

Ficamos frente a frente, com a face de nossos rostos quase grudadas umas nas outras, olhando para os nossos universos. Nossas respirações ofegantes. Provavelmente nossos corações batiam na mesma frequência, quase fazendo uma sintonia melódica.

— Me desculpa, Roy. — Disse, sem jeito, mas ainda estando em cima dele.

— Está tudo bem, corujinha. — Ele deu aquele sorriso.

Por um certo instante, quase não tive controle sobre meu corpo, pois meu rosto estava cada vez mais próximo do seu. Conseguia sentir a respiração que emanava de Roy em meu rosto. Minha garganta seca e meus lábios prestes a fazerem algo que eu não achava que fosse certo. E por um breve instante, pude ver Roy responder na mesma frequência. Sem pressa, apenas deixando rolar.

Bip.

Um som alto fez nós dois acordar para a realidade.

Acabei levantando de cima de Roy, pedindo desculpas mais uma vez.

Ao ver o que era, o som vinha da bolsa de Roy.

— Desculpa, é minha mãe. Ela está perguntando onde eu estou.

— É... Acho que já está na hora de irmos, não é?

— Pois é...

— Vamos então?

— Vamos. Vamos sim.

Por uma fração de segundos talvez tivesse acontecido algo que eu nunca iria esquecer em toda a minha vida.

Apesar de que aquilo, eu não iria esquecer nunca. Jamais.




O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora