Quatorze

68 7 2
                                    

— Quando tudo for pedra,

atire a primeira flor.


— Gostaria de ir ao Cantinho das Estrelas de novo?

Roy e eu ainda estávamos sentados no chão do carpete. Bem, ele estava sentado no chão, enquanto eu estava em cima da almofada gigante. Ainda de frente, um para o outro, ficávamos nos olhando, como se fosse um jogo de quem tem mais paciência em fazer aquilo. Até o silêncio ser cortado pela pergunta de Roy.

— Aonde?

— Aquele lugar que eu te levei... Eu o chamo assim. O Cantinho das Estrelas, onde a gente pode estar bem mais perto delas.

Por mais que Roy parecesse gostar de, absolutamente tudo, as estrelas eram as que mais lhe chamava atenção. Isso estava óbvio.

— Como vamos fazer isso? Você vai para a casa e assim que meus pais dormirem, você volta?

— Claro que não. Vou perguntar para a sua mãe se ela deixa. Vamos agora mesmo, assim aproveitamos o fim de tarde. E se tivermos sorte, ainda conseguiremos pegar o pôr do sol.

Não era uma má ideia, porém não tinha tanta certeza se ela deixaria. Minha mãe nunca me deixava sair para outro lugar. Ela era muito protetora. Ao extremo, na verdade. Até mesmo para a casa de Elisabeth ela implica. Passa horas falando com a mãe de Elisa no telefone e quando está certa, acaba deixando.

Estava até esperando o não que receberia dela.

— Claro que podem!

Aquilo não estava certo. Minha mãe havia batido com a cabeça ou Roy fez uma lavagem cerebral nela. Com certeza, Roy é um mandingueiro.

— Não se preocupe, iremos voltar cedo para a casa. — Disse Roy, colocando novamente a mochila nas costas, pois havia tirado e colocado no chão por estar um pouco pesada.

— Tudo bem. Sei que Ettore deve estar seguro em suas mãos.

Eu estava parado na cozinha, com um semblante surpreso, fazendo uma cara de quem não estava entendendo nada do que estava acontecendo.

— Ettore, querido, tome... Coloque isso na sua mochila, caso sintam fome. — Um pacote de salgadinhos e uma garrafa média de suco natural.

Eu não falei nada em nenhum momento, apenas segui, como deveria seguir.

***

— Sinceramente... — Tentava dizer, enquanto subíamos a pequena ladeira para o Cantinho das Estrelas. Talvez nunca iria me acostumar com aquilo. —..., eu não faço ideia do que aconteceu com a minha mãe.

— Por que você acha que há algo de errado com ela, corujinha?

— Simples... Ela nunca me deixa sair. Até com Elisabeth ela empaca. Agora com você, foi algo que eu nunca esperaria.

Roy apenas virou para me olhar e deu mais um sorriso que por um fim iria ser entre dentes.

— Vamos lá, estamos quase chegando.

Quase chegando... Essa era a frase que Roy sempre falava, mas nunca se concretizava.

Assim que chegamos ao topo, onde estávamos na noite passada, "corri" direto para o banco, aonde já fui logo me deitando, pois não me aguentava de cansaço, enquanto Roy apenas tirou a mochila das costas, esticou os braços e foi para a beirada do abismo, se apoiando na grade.

— Corujinha, posso te perguntar uma coisa?

— Se não for algo que desgaste mais do que subir essa ladeira abençoada, pode sim.

Roy riu com o meu comentário e logo seguiu para a pergunta.

— Você já se apaixonou?


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora