Vinte e Quatro

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— Não haverá borboletas

se a vida não passar por longas

e silenciosas metamorfoses.


Os médicos disseram que ela baterá a cabeça muito forte, fazendo-a a ponto de desmaiar, mas graças que não fora algo tão grave. Os resultados dos exames haviam saído. Nada havia sido fraturado; nenhuma parte da cabeça havia sofrido algum dano. E as dores foi algo normal, pelo fato da batida forte que ela tinha dado quando caíra. Mas ainda ela teria que ficar pelo menos mais uma noite no hospital para observação, caso algo venha aparecer. Se até amanhã de manhã ela estivesse reagindo melhor ainda aos medicamentos, ela teria alta logo pela tarde.

— Qualquer coisa ou até mesmo dúvidas que tenha sr. Scott, é só mandar me chamar, está bem? — Disse o médico.

— Tudo bem. Muito obrigado, doutor.

O doutor seguiu para fora do quarto. Mamãe tinha acabado de chegar do exame. Estava muito exausta. A única coisa que fizera quando chegara no leito, foi olhar para mim, com os olhos ainda semicerrados, dizer meu nome num sussurro e voltar a dormir. E agora, ela dormia como um anjo.

— Filho, acho melhor você voltar para casa. Amanhã você tem aula. Precisa descansar.

— Que? Claro que não. Eu não vou ir para a escola. Minha mãe está aqui, não vou deixa-la.

— E eu vou cuidar dela. Você acha que sua mãe iria querer que você perdesse aula por causa dela? Por favor, vá para casa e descanse. Amanhã você vem depois da aula para levarmos ela embora.

— Mas pai...

— Por favor, Ettore. Sei que quer ficar com sua mãe. Mas ela está bem agora. Não temos mais nada para fazer a não ser esperar como ela irá reagir aos medicamentos, então... Vá para casa.

— Tudo bem.

Peguei a minha blusa que estava posta sobre em cima da poltrona e segui para onde minha mãe dormia, amarrando-a em minha cintura. Dei-lhe um beijo suave em sua testa e acariciei seus cabelos. Virei-me para o meu pai, dando-lhe um abraço e pedindo para que me ligasse, caso algo acontecesse.

E lá fui eu, pegando o mesmo caminho que vim correndo. Agora voltando calmamente, mas ainda com o coração apertado de uma forma que eu não consegui distinguir o porquê e o que era aquele sentimento todo.

***

É claro que eu não conseguiria dormi àquela noite. Primeiro, porque já tinha dormido a tarde toda. Segundo, minha mãe estava no hospital, por mais que estivesse bem, meu cérebro não me deixaria em paz por pensar que ela estava dormindo em um leito,

enquanto tomava várias medicamentos orais e injetáveis.

Não entrei para dentro de casa. Muito pelo contrário. Sentei no degrau da escada da varanda, que ficava na frente de casa.

O céu estava todo revestido de negro com pequenos pontinhos brilhantes, não podendo e nem que quisesse contar, pois eram muitos. Naquele instante, eu só queria que alguém estivesse comigo. Mas eu sabia quem poderia me ouvir, pois foi Roy quem dissera. Elas. As Estrelas.

Segurei minhas pernas, encostando meu queixo nos joelhos.

Estava prestes a fazer algo, que se eu fizesse, não teria mais volta alguma. E eu sabia que não iria conseguir parar.

Mas ao deparar com um garoto que estava me olhando de longe, do outro lado da rua, com um semblante confuso, soube que não precisava eu ter medo. Não precisava me segurar. Seria bem melhor eu colocar tudo o que estava sentindo naquele momento para fora. Guardar aquilo só iria acrescentar mais dinamite para algo que estava a ponto de explodir dentro de mim.

Aquele garoto estava vindo em minha direção, com uma bolsa de lado e segurava suas mãos a frente do corpo, com uma cara de que não estava entendendo o que estava acontecendo.

— O que aconteceu, corujinha?

Não disse nada, apenas fiz um gesto que eu não achei que fosse fazer. Ao olhar para seus universos, que refletiam sobre a luz das estrelas, estendi os braços em sua direção, envolvendo seu corpo como se fosse um travesseiro, e ali comecei a chorar como uma criança que perdera algo muito valioso.

Roy retribuíra, me abraçando de uma forma tão boa e aconchegante, que eu não queria que aquele momento acabasse.

— Minha mãe está no hospital internada.

— Meu Deus... O que aconteceu, ela está bem?

— Está bem melhor agora. Foi apenas um susto.

— Se acalme corujinha. Está tudo bem. Eu estou aqui com você. Tudo bem. Não vou a lugar algum.

— Eu não deveria estar chorando. Ela está bem. Por que eu estou chorando?

— Foi um grande choque para você, corujinha. Se acalme. Venha, vamos entrar...

— Não, eu não quero entrar. Quero ficar aqui.

— Está frio aqui.

— Mas quero ficar aqui. Por favor, fica aqui comigo.

Roy, junto a mim, nos sentamos na escada.

Eu estava com a minha cabeça deitada sobre seu ombro, enquanto ele envolvia seus braços sobre mim, tentando me aquecer e me acalmar naquele momento.

E eu ainda não conseguia parar de chorar.

Por mais que minha mãe estivesse bem, algo dentro de mim não estava certo sobre isso. Algo estava me corroendo, me fazendo sentir dor. Não sabia o que estava acontecendo. Não sabia.

Mas Roy estava ali. E as estrelas. E nós dois.

Eu só precisava de um pouco daquilo. Só um pouco.

Precisava de Roy.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora