1.

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Ele a viu pela primeira vez no elevador do prédio em que vivia. Ele correu para entrar antes que as portas se fechassem, e ela apertou o botão de manter as portas abertas com certa dificuldade, já que carregava pelo menos sete sacolas plásticas de supermercado em cada braço. Ele sorriu em agradecimento ao entrar no elevador, e avançou para apertar o botão de seu andar, impedindo-se ao ver que o mesmo já estava pressionado.

Rafael olhou para a garota pelo canto do olho — tinha absoluta certeza de que nunca a vira no prédio antes. Sentiu vontade de perguntar seu nome, de oferecer ajuda com as sacolas plásticas, de perguntar se era uma nova moradora. Infelizmente, sua ansiedade fez alarmes soarem dentro de sua mente, e contentou-se em dizer um simples "boa tarde", recebendo outro em troca.

Por um segundo, o silêncio instalou-se, e Rafael imediatamente sentiu-se tenso. Talvez devesse dizer alguma coisa?

O telefone da garota começou a tocar.

Ela xingou baixinho, colocando algumas sacolas no chão do elevador para poder tirar o celular do bolso. Atendeu e então pegou as sacolas de volta, o aparelho preso entre sua orelha e seu ombro.

— Alô? Ah, oi, mãe! Eu estou bem, sim, e a senhora? Sim, sim, já fui fazer compras. Sim, sim, já estou quase acabando de arrumar as coisas no apartamento. Não, mãe, você não precisa vir pra cá, você mora do outro lado do estado!

Observava atentamente a conversa da menina, um sorriso surgindo no canto de seus lábios — a cena lhe lembrava de uma muito parecida que ocorrera não muitos anos atrás, quando se mudara pela primeira vez. Sua mãe ficara extremamente nervosa e ligava o tempo todo, como que para ter certeza que seu filho estava vivo.

As portas do elevador se abriram e os dois saíram para o corredor. Andaram praticamente um ao lado do outro, sem graça, até chegarem cada um à sua porta — viviam um na frente do outro.

Sem perceber o sorriso simpático que a garota lhe lançara, Rafael entrou rapidamente em seu apartamento, logo sendo cumprimentado por Eredin. Fechou a porta e jogou as chaves na mesa da sala, sentando no sofá e escondendo a cabeça nas mãos.

A nova vizinha o achava um doido, disso tinha certeza. Suspirou, decidindo que não deixaria sua ansiedade vencer aquela batalha, e se levantou, andando até o escritório.

Que diferença fazia o que a nova vizinha achava, de qualquer maneira? Ela não seria a primeira a achá-lo um doido, nem a última.

Podia viver com isso.

Mas, ah, droga, queria tanto saber qual era o nome dela...

Bom, podia ir até à porta em frente à sua e perguntar.

Riu mentalmente — até parece.

Pois é, tudo indicava que Rafael continuaria desconhecendo o nome da mais nova moradora de seu prédio.

Podia viver com isso.

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora