Em momentos assim, Maria Vitória sentia-se a pessoa mais egoísta do mundo.
Céus, por que deixara Presidente Prudente, pra começo de conversa? Pra perseguir um sonho bobo e se tornar juíza ou advogada ou promotora ou qualquer merda do tipo? Não podia fazer isso em algum lugar mais próximo de sua cidade natal, ao menos?
Agora, estava no carro, sentada ao lado de sua prima, com Rafael no banco de trás, no caminho para o hospital.
E, ah, Rafael, pobre Rafael, que ela puxara para dentro de seus problemas como se ele já não tivesse os dele. Senhor, aquele menino merecia mais — ele não merecia paranóias e ligações no meio da madrugada, ele não merecia viagens de Uber até o outro lado do estado. Sentia que estava estragando tudo e desgastando sua amizade, e se arrependia fortemente por trazê-lo com ela.
— Da última vez que a sua mãe mandou mensagem, disseram que ela estava estável — informou Clara, atraindo a atenção da morena. — Talvez ela possa voltar pra casa hoje mesmo. Ela 'tá ansiosa pra te ver — a ruiva lançou-lhe um rápido olhar. — Ela vai ficar bem, Vi, sério. Só... Não se culpe.
Mavi assentiu, mas sabia exatamente o quão culpada era, e não tentaria fingir o contrário.
Ao chegarem, foi tudo muito rápido. Como Rafael não era da família, ficou na recepção, acompanhado pelos olhos curiosos das irmãs mais novas de Vitória, enquanto a mesma se segurava para não correr para dentro do quarto de sua avó.
Dona Maria estava deitada muito tranquilamente, conversando com a mãe da menina, que, ao ver sua filha, correu para abraçá-la.
— Vitória! Fico tão feliz de te ver, minha menina, você 'tá fazendo tanta falta, você...
— É a Vivi?
A voz da senhora deitada partiu o coração da mais nova, que obrigou-se a sorrir e aproximou-se da cama, sentando-se na poltrona e pegando a mão de sua avó.
— Oi, vó — sorriu, sentindo a voz ficar rouca. — Sim, sou eu. Como a senhora está?
— Eu 'tô muito bem, minha querida, e você? Você sumiu! Está passando um tempo na casa de alguma amiguinha, é isso? Espero que você esteja indo para a escola direitinho, viu? O ensino médio é muito importante na vida de uma menina esperta como você!
A morena engoliu em seco.
— Sim, senhora, não se preocupe. O que aconteceu, vovó?
A senhora revirou os olhos, trazendo um pequeno sorriso aos lábios de sua neta.
— Eu caí da escada, acredita, querida? Mas não foi nada demais, faltavam dois degraus pra chegar no chão, eu nem me machuquei, mas a sua mãe insistiu em me trazer aqui...
— A senhora desmaiou — interviu a outra mulher no quarto, de quem Vitória quase se esquecera. — Óbvio que eu insisti em te trazer!
— Desmaiar! Eu apaguei por menos de cinco segundos, quanto exagero...
A garota apertou a mão de Dona Maria fraquinho, atraindo sua atenção.
— Melhor prevenir do que remediar, não é, vó?
— Sim, sim. Certo, talvez faça sentido. De qualquer maneira, quando você vai voltar pra casa, Vivi? 'Tô com saudades da sua comida! A sua mãe é um desastre na cozinha, não aguento mais comer a comida dela.
Maria Vitória soltou uma risada e sua mãe encarou as duas com indignação. O coração da morena estava apertado e ela sentia culpa por todo o seu corpo.
Lágrimas invadiram seus olhos, mas ela continuou sorrindo e segurando a mão da avó, pois esta era a única coisa que podia fazer no momento. A única coisa que deveria fazer.
Lidaria com todo o resto depois.
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elevador • [r.l.]
Fanfictiononde rafael se apaixona pela garota que conheceu no elevador.