16.

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Já estavam no carro fazia algumas horas, e ele ainda não acreditava que um Uber aceitara o trajeto.

Presidente Prudente é longe demais de São Paulo.

Apesar de parecer cansada, Maria Vitória não caíra no sono e nem estava perto de fazê-lo. Apenas encarava a janela, encolhida no banco de trás, as lágrimas já secas, porém ainda marcadas em seu rosto.

Quando finalmente ouviu a voz rouca da morena ao seu lado, Rafael sentiu um arrepio percorrer seu corpo, imediatamente atraindo seu olhar. Mavi se mexera, e agora se colocava observando-o, os lábios presos entre os dentes como uma forma de descarregar o nervosismo.

— Eu sinto muito por ter te ligado — falou, baixinho, sem graça, virando o olhar para o chão do carro. — Você provavelmente 'tava dormindo, e não é como se eu não conseguisse pedir um Uber sozinha, eu só... Eu fiquei nervosa.

— Não faz mal, e eu 'tava conversando com uns amigos, então você não me acordou. Você não precisa pedir desculpas por precisar de ajuda, Vitória — ele pegou na mão dela com cuidado, e ela soltou um suspiro. Ele a analisou, finalmente resolvendo perguntar: — Você quer me contar o que aconteceu?

Mavi hesitou por um segundo, mas acabou respondendo:

— A minha... A minha mãe ligou. A minha avó está no hospital — engoliu em seco.

Rafael ficou em silêncio e apertou a mão dela com carinho, recebendo outro aperto carinhoso de volta.

— Desculpa por tudo — ela continuou, apoiando a cabeça no banco e fechando os olhos. — Por ficar te metendo em problemas e por ficar inventando problema onde não tem.

Ele sorriu levemente, virando o olhar para a janela por um segundo antes de voltar a encará-la.

— Se te consola, eu não me importo de viver imerso em problemas se for por sua causa.

Suas palavras fizeram com que Vitória abrisse os olhos e o olhasse com um sorriso ladino.

— Quem diria! Rafael Lange, a pessoa mais brega do mundo.

O loiro revirou os olhos antes de soltar o cinto dela e puxá-la para perto, ignorando suas reclamações e abraçando-a. Ouviu-a resmungar sobre como morreria sem cinto, e colocou-o novamente, só que agora com ela sentada no meio do banco, ao seu lado.

Sentiu o ar faltar em seus pulmões, aqueles olhos verdes tão intensos concentrados nos seus — tê-la entre seus braços parecia extremamente... Certo.

Pigarreou, soltando-a quase que imediatamente, ignorando o calor que subiu ao seu rosto, olhando para uma sujeirinha na janela, que lhe parecia, de repente, tão interessante.

— Você devia dormir um pouco — comentou, os olhos presos no vidro. — Você deve estar com muito sono, e seria melhor se você estivesse descansada quando a gente chegasse.

Viu, pelo canto dos olhos, o modo com o qual ela mordeu os lábios novamente, tentando impedir um sorriso de escapar.

— É, você 'tá certo — ela concordou, antes de apoiar-se nele, colocando seus braços em volta de si novamente, fazendo com que Rafael ficasse ainda mais vermelho, mesmo que, fingindo não perceber que o fazia, a abraçasse da mesma maneira que segundos atrás.

Com a cabeça no ombro de seu vizinho, a morena caiu no sono, deixando um inquieto loiro completamente acordado para trás.

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora