30.

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Azul.

Não importava em quantos encontros fosse ou quantos beijos trocasse com outras pessoas, seus pensamentos sempre voltavam à cor azul.

Tinha vontade de rir — sua mente se tornara uma daquelas músicas melosas do Tiago Iorc, mas era difícil não acreditar em amor tendo alguém como Rafael em sua vida.

O sentimento cresceu escondido, atrás dos sorrisos e das palavras "meu amigo", e, quando percebeu, já não dava mais para cortar o mal fora, nem pela raiz.

Senhor, como sentia ódio de si mesma por isso. Logo ela, que passou a vida inteira dizendo que não acreditava em paixão ou em amor.

E ele.

Às vezes tinha vontade de pular em cima dele e enforcá-lo.

Ou beijá-lo.

Ainda estava decidindo.

Não era culpa de Rafael, claro que não. Ele nem sabia, não tinha como saber. Era culpa dela, completamente dela, por não perceber até que fosse tarde demais.

Tinha vontade de fazer que nem aquelas meninas de filmes e de ignorá-lo para ver se o sentimento ia embora, mas aquilo seria injusto. E não conseguia. Gostava demais dele pra isso — seu corpo ardia com o simples pensamento de estar longe dele.

Não diria nada, obviamente, até porque sabia muito bem que não tinha como ele sentir o mesmo. Mas, sinceramente, não fazia diferença, porque logo chegariam as férias e planejava passá-las em Presidente, ao lado de sua família, longe da cor azul.

Se bem que via azul por todos os lados — naquele cachorrinho que vira na rua ("o Rafael ia achar uma graça!"), na pizza que comera com seus amigos da faculdade ("esse é o sabor preferido do Rafael") ou até nas séries que assistia ("talvez eu devesse esperar para assistir com o Rafa no fim de semana").

Rafa.

A outra chamava ele desse jeito, não era? Rafa. Ou Rafinha? Não se lembrava. Ele gostava muito dela. Talvez ainda gostasse. Qual era o nome dela mesmo? Flávia? Bom, não importava tanto assim. O nome podia ser Beatriz, Amanda ou até Giovanna, e ele ainda não seria apaixonado por uma Maria Vitória.

Gostava de assistir às lives dele, quando tinha tempo ou quando a lanchonete estava pouco movimentada. Também gostava de usar as tais lives como som de fundo enquanto estudava — sua voz a acalmava.

Céus, queria odiar a cor azul mais do que tudo, mas é difícil odiar sua mais nova cor favorita.

Gostava tanto dele e doía tanto saber que ele não sentia o mesmo.

Suspirou, escondendo o rosto nas mãos. Estava no limite, mas tinha que se manter sã por mais um tempo, só mais um tempo.

Azul. Azul a manteria sã, certo? Certo. Talvez não do jeito que realmente queria, mas qualquer coisa vinda dele era suficiente.

Soltou um resmungo, irritada. Havia poucas coisas que odiava mais do que estar apaixonada. Odiava essa dependência, essa necessidade, odiava aquela vontade que subia em sua garganta de gritar por aí sobre o quanto gostava de Rafael, e odiava o conhecimento de que seus sentimentos não eram recíprocos, não tinham como ser.

Mas tudo bem. Tudo bem. Tudo bem. Só precisava se manter sã por mais um tempo.

Certo?

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora