Dona Maria foi liberada e todos foram para casa. Ela insistia em dizer que não fora nada demais, mas Mavi soube, por meio de sua mãe, que ela sofrera uma leve concussão, e que os médicos avisaram que, se surgisse qualquer tipo de espasmo ou dor de cabeça, precisavam voltar para o hospital o mais rápido possível.
A família Souza era grande e os quartos da casa eram poucos.
— O quê?
— O seu antigo quarto agora é da Luiza. Sinto muito, Vi, mas ela já tem dezessete anos e nós achamos que seria apropriado deixá-la ter seu próprio quarto, da mesma maneira que você tinha o seu.
— E onde eu vou dormir?
— Dorme com o seu namorado no quarto de hóspedes!
Vitória lançou um olhar irritado na direção de Beatriz, que soltou uma risadinha e voltou a prestar atenção no programa que passava na televisão.
Eram quatro irmãs: Maria Vitória, Maria Luiza, Maria Beatriz e Maria Júlia. Quando a mais velha ainda morava na casa, ficava em um quarto, enquanto Maria Luiza ficava no de hóspedes e Maria Beatriz dividia um terceiro com Maria Júlia. Quando havia visitas (e sempre havia visitas, já que Clara morava mais lá do que em sua própria casa quando ainda estava no ensino médio, e a cama de Vitória não era grande o suficiente para ambas), a segunda mais velha dormia em um colchão no quarto das duas mais novas, e Mavi sempre achou esse sistema muito, muito bom.
Porém, sua mãe obviamente discordava.
— Vi, eu entendo o seu ponto, mas você não mora mais aqui. Qual o problema de termos dado o seu quarto pra Lu?
A morena suspirou, passando a mão pelos cabelos antes de responder, derrotada:
— Nenhum, mãe. A senhora 'tá certa. Eu posso dormir no sofá ou no quarto das meninas, não tem problema.
Cansada, dirigiu-se até o quarto de hóspedes, onde sabia que Rafael aguardava muito paciente. Sorriu ao entrar e ver o loiro mexendo no celular.
— Sabe, eu posso dormir no sofá, se precisar. A casa é sua — ele comentou, sem encará-la, e ela revirou os olhos.
— Até parece, você é visita! Não se preocupe.
— Durmam no mesmo quarto de uma vez!
Vitória não conseguiu conter um sorriso ao ouvir a voz de Beatriz novamente. As paredes eram finas demais.
Rafael ficou vermelho e respondeu, sem graça:
— Até que não é uma má ideia, sabe? A gente dormir no mesmo quarto. A não ser que você se incomode, é claro, você não precisa...
— Ei, ei, 'tá tudo bem. Pode ser, então. Não é nada demais, mesmo, a gente vive dormindo juntos no seu sofá.
— Sim, é verdade. Nada demais.
— Nem um pouco.
— Nem de longe!
Uma batida na porta tirou os dois de sua conversa. A cabeça do avô de Maria Vitória apareceu e ela sentiu o coração apertar. Assentiu e começou a ir atrás dele, lançando um rápido "já volto" para seu novo colega de quarto antes de sair e fechar a porta atrás de si.
Seu avô era bem quieto, sempre fora. Nunca fora um homem de muitas palavras, e sim de ações: as pequenas flores que ele colhia do jardim e deixava em seu quarto todos os dias, os olhares apaixonados que lançava a Dona Maria, os grandes sorrisos dados para cada um daquela família.
— Ela quer falar com você — disse simplesmente, parando no meio do caminho. — Quando você sair, eu entro.
Mavi sorriu e foi em direção à cozinha, onde ficava a porta que levava ao quarto dos fundos.
Os pais de sua mãe moravam na casa, também, mas num quarto separado, no fundo do quintal, onde, há muito tempo atrás, era o escritório.
Abriu a porta e entrou, sentindo seu corpo relaxar com aquele aroma conhecido e que lhe fazia tanta falta. Sua avó estava deitada na cama, tranquila, olhando-a de longe. Aproximou-se e se sentou no chão ao lado da cama, da mesma maneira que costumava fazer todas as noites.
— Oi, vó.
— Oi, querida. É bom te ter aqui.
— Obrigada, vó, é bom estar aqui.
Houve um momento de silêncio confortável, as duas acostumando-se novamente à presença uma da outra.
— Sabe, aquele seu namorado é muito charmoso. Ele te olha de um jeito tão bonito, minha querida, me lembra de seu avô quando nos conhecemos.
— O Rafael? Ah, não, ele...
Interrompeu-se. Os olhos de Dona Maria brilhavam em animação, apaixonados. Sabia que devia explicar que o loiro não era seu namorado e que eram apenas amigos, mas ao ver a expressão de sua avó, não teve coragem.
— Ele é charmoso mesmo, não é? E ele é muito gentil, também. Fico feliz que tenha gostado dele, vovó.
— Gostei mesmo! Ele parece muito simpático, muito bom. E tem uns olhos claros tão lindos... Olha, Vivi, você conseguiu um partidão, hein?
A morena riu, sentindo-se brilhar em tranquilidade por estar novamente em sua casa, perto de sua família. Sentira falta das conversas que tinha com sua avó antes de dormir.
— Amanhã você vai fazer o almoço? — questionou Dona Maria após alguns minutos de diálogo.
— Posso fazer — respondeu simplesmente, e a senhora abriu um enorme sorriso.
— Graças a Deus! Eu não aguento mais a comida da sua mãe, de verdade. Já falei que deveríamos proibir ela de entrar na cozinha, mas seu avô brigou comigo e disse que eu fui indelicada. Indelicada é a cara dele!
Vitória riu novamente, feliz, e seguiram conversando.
Céus, sentira falta de casa.
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elevador • [r.l.]
Fanfictiononde rafael se apaixona pela garota que conheceu no elevador.