Rafael não conseguira dormir por muito tempo. Após a felicidade intensa pelo beijo passar, a dúvida surgiu.
E se ela não gostasse dele de volta?
Até então, tinha-se deixado consumir pela ideia de que ela apenas o beijara porque sentia o mesmo, mas sabia que essa não era a única opção. Sim, sim, ela dissera que "gostava muito dele" e que o achava muito bonito, mas ela podia ter dito tudo aquilo na amizade e o beijado só por beijar.
Certo?
Agora, encarando a morena que parecia prestes a ter um ataque de pânico, esse pensamento voltava.
— Eu fiz o quê?!
E foi aí que ela começou a hiperventilar, e tudo foi ladeira abaixo — vê-la em desespero deixou-o completamente desesperado e perdeu controle sobre suas próprias palavras:
— Você me ligou pedindo pra ir te buscar, aí eu fui, aí eu vim com você pra cá, aí a gente 'tava no elevador e você simplesmente começou a falar que gosta muito de mim e que me acha bonito e que gosta do meu apartamento e do Eredin e aí eu tentei responder mas você simplesmente pulou em cima de mim e me beijou, aí eu me afastei porque eu nunca tiraria vantagem de você desse jeito (você 'tava completamente bêbada!), aí você ficou toda mal-humorada e aí quando eu vi a gente já 'tava cada um no seu apartamento e eu não sei, eu não faço a mínima ideia, e eu não consigo parar de pensar em tudo isso e — ele se interrompeu por um segundo, recuperando o fôlego e tentando ignorar o completo pavor no rosto de Maria Vitória —, e é.
Um silêncio pesado instalou-se entre os dois. A morena virou-se devagar para encarar a televisão desligada na frente do sofá. Ele podia ver que ela tremia levemente, e começou a pensar que talvez não devia ter dito nada para começo de conversa.
— Eu... — ela finalmente começou, antes de soltar um grunhido frustrado e esconder o rosto nas mãos. — Eu sinto muito, Rafael. Eu espero que isso não afete a nossa amizade, porque ela significa muito pra mim. O que eu fiz ontem... Foi estúpido.
O loiro sentiu algo dentro de si quebrar, e passou a encarar a televisão, da mesma maneira que ela. Algo começou a crescer em seu estômago, mas não conseguia dizer exatamente o que era. Era um sentimento conhecido, que já havia experienciado antes, mas não sabia qual.
— Eu sinto muito se eu te fiz desconfortável — ela continuou, e Rafael apenas assentiu, pensativo. Ela tentou melhorar o clima, olhando para ele de canto de olho e chamando sua atenção com um soco de brincadeira no braço. — O que você acha da gente ir tomar um sorvete e esquecer tudo isso?
— Eu gosto da ideia do sorvete.
Trocaram um sorriso sem graça, levantando-se. Ele pegou suas coisas rapidamente e esperou na porta enquanto ela pegava dinheiro. Ela começou a falar sem parar daquele jeito que fazia quando nervosa, e a coisa estranha em seu estômago apenas aumentava e aumentava e aumentava. Deixou-a falar e permaneceu em silêncio, tentando identificar o que era.
Enquanto andavam pelo corredor e ela tagarelava, percebeu.
Frustração. A mais pura e completa frustração. "Esquecer tudo isso". Não! Não, gostava dela desde o primeiro dia e em nenhum momento ela negou suas próprias palavras da noite anterior, então talvez elas fossem verdade. Nervosismo borbulhou dentro de si, mas a decisão já estava tomada.
Pararam na frente do elevador e ela apertou o botão para chamá-lo. O elevador, porém, estava no térreo, e viviam num dos andares mais altos: tinha um, dois, talvez dois minutos e meio. Ficaram parados, ela falando e ele não ouvindo uma palavra, tentando formular uma boa frase antes que as portas se abrissem.
Tomou coragem e foi a vez dela de ficar em silêncio.
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elevador • [r.l.]
Fanfictiononde rafael se apaixona pela garota que conheceu no elevador.