4.

7.8K 697 358
                                    

Rapidamente, os jantares e as noites de filme no apartamento de Maria Vitória se tornaram o ponto alto de seus dias.

Estar perto de Mavi era fácil, e logo fez-se essencial — não havia pressão. No começo, sua ansiedade apitava toda vez que abria a boca pra falar alguma coisa, mas, com o tempo, passou a se sentir extremamente confortável, e percebeu que com ela não foi muito diferente. Aos poucos, Vitória começou a se abrir um pouco mais, também, (não muito, mas, ainda assim, era alguma coisa), e se mostrava mais e mais divertida. Rafael adorava passar tempo com ela, e não sabia nem exatamente o porquê.

— Calma aí, você trabalha na internet faz quanto tempo? — ela perguntou, indignada, o filme que passava na televisão já esquecido.

— Ah, sei lá. Eu comecei a fazer vídeos com uns catorze anos, mas trabalho na internet faz mais tempo do que isso.

— Pelo amor de Deus — ela arregalou os olhos. — E eu até hoje não sei mexer direito na TV.

Rafael gargalhou, sentindo o estômago gelar ao ver o olhar brilhante com o qual ela o observava.

— Bom, até hoje eu ainda não sei fritar ovo — o loiro argumentou, fazendo com que ela negasse com a cabeça, sorridente.

— Fritar ovo é uma arte — brincou, fazendo com que ele risse mais uma vez.

— Mas, viu, desde quando você cozinha?

Rafael viu-a hesitar, e imediatamente se arrependeu da pergunta. Talvez não tivessem intimidade suficiente para isso. Talvez tivesse tocado numa ferida aberta. Pronto, tinha estragado tudo, e conhecia a menina há apenas três semanas! Parabéns, Rafael, você é um desastre!

Ela pigarreou, chamando sua atenção.

— Desde que eu tenho nove anos, acho — ele a encarou com atenção, feliz ao vê-la falando sobre si. — Eu não sei se eu já te contei, mas eu sou a mais velha de quatro irmãs e, além de nós e dos meus pais, os meus avós maternos moravam na minha casa também. A minha avó sempre cozinhou pra todo mundo, e eu adorava assistir. Depois de um tempo, ela começou a me deixar ajudar, e eu simplesmente amava — ela riu levemente, fazendo com que ele sorrisse. — Mas, bom, sabe como é — o sorriso de ambos se desmanchou. — Ela 'tá bem velhinha agora, sabe? Foi diagnosticada com Alzheimer quando eu tinha uns quatorze anos. Depois disso, eu fui a encarregada de cozinhar lá em casa, por isso que eu acostumei a fazer comida demais. Sei lá.

Um silêncio pesado instalou-se na sala, quebrado apenas pelo som de diálogo vindo da televisão. Rafael suspirou, tomou coragem, e segurou a mão dela. Mavi levantou os olhos do chão para encará-lo com curiosidade, o rosto ficando vermelho. Ele sorriu, ansioso, apesar de sentir calor por todo o seu corpo.

— Você é uma pessoa incrível — disse com a voz suave, vendo-a prender a respiração. — E uma cozinheira maravilhosa — sorriu de canto, e ela ficou ainda mais vermelha. — Obrigado por me contar tudo isso. Você é... Você é outra coisa, Maria Vitória.

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora