Ouviu-a sair de casa pelas dez da noite, e imediatamente preocupou-se. Sentiu vontade de perguntar aonde ela ia, perguntar se queria companhia, mas sabia que ela não queria que ele lhe perguntasse nada — "Rafael, a gente pode conversar mais tarde?" —, e tinha toda a razão do mundo para tal. Após ansiosa reflexão, chegara na conclusão de que não devia se meter na vida dela daquela maneira, mesmo que fosse apenas porque queria seu bem.
Porém, não conseguiu dormir, mesmo horas após desligar o computador, perguntando-se onde ela estava, por que não voltara ainda, será que estava bem?
E então ele ouviu passos apressados pelo corredor. Franziu o cenho, prestando atenção, ouvindo-os se aproximar mais e mais, até que a campainha de seu apartamento soou.
Piscou algumas vezes, confuso, vendo que o relógio marcava duas da manhã, e levantou-se para ir até a porta, levemente preocupado. Ao vê-la pelo olho mágico, porém, girou a maçaneta sem pensar duas vezes, o que não foi a melhor das ideias, já que Mavi perdeu momentaneamente o equilíbrio e quase deu de cara no chão.
Ele ajudou-a a se colocar em pé, de olhos arregalados, enquanto ela resmungava algo sobre mentir para sua prima. Com cuidado, levou-a para dentro do apartamento, e ela se jogou no sofá, Eredin logo vindo cumprimentá-la. Ela riu com as ações do cachorro, acariciando atrás de suas orelhas.
Rafael sentou-se na ponta do sofá, a encarando com atenção, perguntando-se onde ela estava, o que tinha feito, por que estava ali.
Alguns minutos depois, porém, ela mesma resolveu respondê-lo, sentando-se reta no sofá e lhe lançando um olhar.
— Eu fui numa festa — ela informou, as palavras emboladas. Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. — E você — ela cerrou os olhos e colocou um dedo em sua cara. — Você teve a audácia de não sair da minha cabeça nem por um segundo! Tantos caras lindos que queriam ficar comigo, mas eu achei tão injusto ficar com um cara pensando em outro — ela bufou, abaixando a mão, logo arregalando os olhos. — Digo, não que eu pense em você desse jeito, eu só... Quer saber? Tanto faz.
Rafael observou com surpresa enquanto ela suspirava.
— Eu queria pedir desculpas — a morena continuou. — Depois de pensar um pouco e tal, eu percebi que você só 'tava preocupado comigo e essas coisas, e eu... Eu só não 'tô acostumada com as pessoas se importando comigo, sabe? Mas, bom, isso não faz diferença agora. Eu fui uma amiga horrível, e eu sinto muito. Eu vou melhorar, tudo bem? Eu juro.
Houve um estranho momento de silêncio em que ele não conseguiu dizer nada, apenas olhando o modo com o qual ela mexia as mãos sem parar, completamente inquieta. Continuou encarando suas mãos, até ela voltar a falar, atraindo a atenção de Rafael de volta para o rosto bonito de sua vizinha.
— Rafael, sabe, um pedido de desculpas não funciona muito bem sem retorno, então assim...
Ele soltou uma risadinha, passando a mão pelos cabelos antes de olhá-la, sentindo um arrepio percorrer seu corpo no segundo em que seus olhos se encontraram — mas negou-se a desviar o olhar.
— Eu te desculpo — disse com um sorriso ladino. — E já 'tá muito tarde, então...
— Sim, sim, descansar — ela revirou os olhos, levantando-se do sofá e cambaleando um pouco, sendo logo aparada pelo loiro, mas imediatamente afastando-se do apoio que ele oferecia, andando até a porta, segurando em todos os móveis que podia, um tanto quanto tonta, mas também orgulhosa demais para pedir ajuda. — Eu 'tô indo pra casa, então. Manda um beijo pro Eredin.
Rafael, que andava logo atrás dela, conseguiu apenas rir baixinho, mas gargalhou ao receber um olhar ameaçador da morena — Mavi era péssima com olhares ameaçadores.
Ela despediu-se com um aceno meio torto após alguns segundos brigando com a chave na fechadura, e o loiro sorriu ao ver sua porta se fechar.
Maria Vitória era, sem dúvidas, uma pessoa muito interessante.
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elevador • [r.l.]
Fanfictiononde rafael se apaixona pela garota que conheceu no elevador.