elevador • [r.l.]

34.

Antes mesmo de abrir os olhos, sentiu uma dor de cabeça descomunal. Alguns flashes rápidos da noite anterior passaram por sua mente.

Lembrava de chegar na casa da Lívia. Lembrava de ser carregada por Artur de um lado pro outro. Lembrava das conversas e das risadas e das primeiras taças de vinho. Lembrava dos shots de tequila. Depois disso, as coisas ficavam um pouco embaçadas.

Tinha certeza de que tentara se jogar na piscina e de que, em algum momento da noite, beijou algum de seus amigos, provavelmente Ricardo ou até Luana, mas não lembrava de mais nada.

Não fazia a mínima ideia de como tinha ido embora para seu apartamento.

Levantou-se e tomou um Advil junto de um copo da água antes de entrar no banho. Depois de limpa e com uma aparência considerável, saiu para o corredor de seu andar, parando diretamente na frente da porta dele.

Respirou fundo, passando uma mão pelos cabelos e checando seu rosto na câmera do celular uma última vez antes de bater.

Aquela era uma rotina comum de fins de semana. Mesmo que inconscientemente, tentava parecer bonita o suficiente para ele, e só pra ele. Esperava do fundo de seu coração que Rafael não a tivesse visto no dia anterior.

Ele abriu a porta e ela sorriu. Não conseguiu deixar de notar, porém, o modo com o qual o corpo dele se encheu de tensão quando ela sem querer encostou nele enquanto entrava.

Céus, esperava não ter feito nada de errado enquanto bêbada. Jogou-se no sofá, ignorando suas preocupações e sentindo aquela sensação confortável que acompanhava a companhia do loiro tomar seu corpo. Ele sentou-se ao seu lado com um sorriso cheio de nervosismo.

— Se divertiu muito ontem à noite?

A garota praticamente grunhiu, cobrindo o rosto com as mãos.

— Por favor, me diz que eu não te falei merda ontem.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Você não lembra? Eu fui te buscar na casa da sua amiga.

— Ah, não. Eu não fiz nenhuma besteira, né? Eu não lembro de absolutamente nada. Tipo, nada. Aconteceu alguma coisa importante?

Pânico instalou-se no rosto de Rafael, e isso não passou despercebido pela morena.

— Rafa? — perguntou, preocupada. Ele parecia querer falar algo, mas não saber se devia. Sentou-se no sofá, colocando a mão no braço dele, as sobrancelhas franzidas. — Ei, você pode me falar. Eu quero saber, eu tenho que sofrer as consequências dos meus atos, caso eu tenha feito algo errado.

Ia continuar seu pequeno discurso quando o ouviu murmurar algo. O loiro ficou vermelho e desviou o olhar para o chão. Vitória sentiu o coração disparar, mas não podia ter ouvido certo, claro que não.

— Como é? — repetiu, sentindo as mãos tremerem levemente.

Ele encarou-a nos olhos, ainda vermelho, porém determinado, e repetiu, com firmeza:

— Você me beijou.