elevador • [r.l.]

37.

Rafael nunca quis tanto que o mundo acabasse quanto naquele exato momento.

Parecia coisa de filme, aqueles filmes ridículos que tanto odiava sobre histórias de amor que não faziam sentido nenhum e nas quais tudo conspirava para que o casal principal acabasse junto.

Infelizmente, sua vida não era um filme, então estava ali, preso num elevador (por no mínimo uma hora, de acordo com o síndico — aparentemente o problema era grave) com a garota que amava e que preferia esquecer tudo que acontecera, mesmo após ele dizer muito claramente que sentia algo por ela.

Espera, amor?

O silêncio era desconfortável e ambos estavam completamente estressados pela situação, tanto do elevador quanto entre eles.

Sim, Rafael só queria que um meteoro viesse e acabasse com tudo.

Após quinze minutos, já estavam sentados no chão, em paredes opostas, evitando se olhar. Mais quinze minutos e mexiam em seus respectivos celulares, tentando encontrar algo para fazer, já que não havia sinal no lugar. A voz do síndico soou mais uma vez:

— Olá, olá. Só gostaria de avisar que estamos resolvendo o problema e em que uns quarenta minutos o elevador voltará ao seu funcionamento normal. Eu sinto muito pela situação. Assim que possível, darei mais informações.

Maria Vitória grunhiu pelo que parecia ser a vigésima vez nas últimas duas horas, batendo a parte de trás da cabeça contra a parede em irritação.

Mais quinze minutos e Rafael diria que estava prestes a desejar que o elevador caísse de uma vez, o silêncio pesando em suas costas e fazendo sua pele formigar. Não devia ter dito nada — devia ter esquecido, como ela sugerira.

Não se atrevia a olhar para ela, mas queria muito fazê-lo.

Meu Deus, queria muito que um meteoro acabasse com tudo.