7.

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Não a via fazia duas semanas, e estava ficando cada vez mais preocupado.

Sentia vontade de perguntar ao porteiro se ela estava no prédio, ou de bater à sua porta para garantir que estivesse bem, mas não queria invadir sua privacidade.

Voltou a pedir comida, agora que Mavi não vinha mais chamá-lo diariamente. Era estranho voltar a um hábito já esquecido.

Não tinha o número de celular dela, droga. Por que nunca pensara em pedí-lo? Bem feito, agora ficaria preocupado em casa, sem saber de nada.

O interfone tocou, informando-o que seu jantar chegara. Ainda perdido em pensamentos, saiu de seu apartamento e desceu de elevador até o térreo.

Chovia forte lá fora, notou. Parecia que ia cair o mundo.

Enquanto pegava sua comida com o entregador, viu-a atravessar a rua correndo, encharcada dos pés à cabeça. Observou a morena entrar no prédio, claramente exausta. O entregador foi embora, e Rafael começou a dirigir-se até o elevador novamente. Entrou e segurou a porta, esperando-a.

Mavi nem mesmo lhe lançou um olhar. Agradeceu baixinho e encostou a cabeça na parede, com os olhos fechados, praticamente dormindo em pé.

— Vitória? — ele chamou, sem graça, fazendo com que ela virasse a cabeça em sua direção e abrisse um dos olhos, mostrando que escutava. — Você 'tá bem?

Ela soltou um riso sem humor.

— Eu arranjei um emprego, e, sabe, a faculdade — ela resmungou apenas, fechando os olhos novamente e suspirando enquanto o fazia. — Mas eu 'tô bem.

Rafael tinha certeza de que ela não estava nem um pouco bem. Podia ver que estava mais branca que o normal, e que tinha fundas olheiras debaixo de seus olhos. Parecia que tinha sido atropelada por um caminhão.

O resto da subida foi silencioso. Como há muito tempo não acontecia, ansiedade martelava na mente do loiro, dizendo-lhe que devia deixá-la em paz e que, se ela quisesse conversar com ele, já o teria feito.

Saíram do elevador, caminharam lado a lado. Cada um parou na frente de seu apartamento e, sentindo uma onda de determinação, Rafael perguntou, antes que ela terminasse de fechar a porta:

— Mavi, você já jantou? Eu comi muito no almoço e acho que não vou conseguir comer o meu sanduíche inteiro sozinho.

Ele observou com atenção a morena congelar por alguns segundos, como que se processando suas palavras, água pingando no carpete. Ela saiu para o corredor novamente, um brilho desconhecido em seus olhos cansados.

— Obrigada — sussurrou, apenas, antes de dar um passo para frente e abraçá-lo com força.

Rafael sentiu o ar sumir de seus pulmões: era a primeira vez que tinham algum contato físico proposital. Geralmente, seus toques eram acidentais e rápidos, com raras exceções — tinha a impressão de que Vitória não era uma pessoa que gostava muito de afeto físico, e isso nunca o incomodara. Agora, porém, sentia-a próxima, e, apesar do frio por abraçar uma pessoa molhada pela chuva, sentiu seu corpo todo aquecer.

Sentiu o coração bater forte no peito, e chegou na conclusão de que era por nervosismo, resolvendo ignorar o sentimento.

— De nada — sussurrou como resposta, finalmente abraçando-a de volta.

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora