Mavi demorou muito para voltar ao quarto, e Rafael esperou pacientemente, os olhos grudados no teto, infinitos pensamentos percorrendo sua mente.
As coisas na casa Souza passavam muito rápido, mais do que ele estava acostumado — e Rafael vivia uma vida muito rápida, em sua opinião —, e era fácil se perder. As conversas eram rápidas e sobre diversas coisas ao mesmo tempo e ninguém parecia parar para processar o que cada um falava, a única exceção sendo Maria Vitória, que parecia ouvir tudo e absorver tudo, sem dizer uma palavra.
A garota era muito mais quieta quando estava em casa, o que era estranho — já tinha se acostumado com a tagarelice da morena, e era desconcertante vê-la afogada no mesmo silêncio de quando se conheceram.
Ela abriu e fechou a porta com vagareza, como se pensando que ele já estivesse dormindo. Quando virou-se para a cama e viu o loiro com os olhos abertos porém, relaxou, suspirando e se jogando no colchão ao lado dele. O garoto logo reparou que ela já havia tomado banho e que já estava de pijamas — provavelmente passara no banheiro da irmã ou no do corredor antes de vir.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, encarando o teto, um ao lado do outro. Rafael não conseguiu se segurar antes de perguntar:
— Como ela 'tá?
Maria Vitória soltou outro suspiro, escondendo os olhos com o braço direito.
— Eu não sei. Às vezes, ela parece normal, e outras vezes ela parece uma doida — ela riu sem humor antes de tirar o braço do rosto e virar a cabeça para encará-lo. — Por sinal, assim, meio sem querer, eu posso ter dito pra ela que a gente namora? Tipo, não de propósito, mas ela assumiu que sim, e aí ela ficou tão animada, e eu não tive coragem de negar — ele pôde vê-la morder o lábio por sua visão periférica. — Mas não se preocupe, ela 'tava morrendo de sono e provavelmente nem vai lembrar mais amanhã.
A morena manteve os olhos no rosto do loiro, que apenas franziu as sobrancelhas, ainda encarando o teto. Sem saber exatamente o que dizer, abriu a boca uma, duas, três vezes, antes de decidir calar-se e mudar de assunto, finalmente virando para retribuir seu olhar.
— A sua família é gente boa. Suas irmãs são hilárias.
Rafael não conseguiu prender o sorriso no momento em que a expressão dela se iluminou, obviamente feliz de falar sobre sua família.
— Elas são, não são? Você tem que conhecer o meu pai! Ele é ótimo — realização assolou o rosto da menina, que imediatamente ficou levemente chateada. — Ele não pôde aparecer hoje por causa do trabalho. Eles são muito estritos, os chefes dele. Ele faltou uma vez, quando a Juju quebrou o braço e, desde então, ficou decidido que, se ele faltasse e não apresentasse um atestado que provasse que ele estava indisposto para trabalhar no dia seguinte, ele seria demitido.
O loiro piscou algumas vezes, confuso.
— Espero que eles paguem bem, pelo menos, já que são doidos desse jeito — brincou, mas sentiu um aperto no peito quando a viu respirar fundo e desviar os olhos para a parede do quarto.
— Meu pai precisa desse emprego — ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, ajeitando-se para que estivesse sentada na cama enquanto Rafael fazia o mesmo. — Ele... Ele tem um histórico criminal, entende? Nós temos sorte que ele 'tá conseguindo trabalhar, já que, desde que eu fui pra São Paulo, minha mãe anda trabalhando menos, porque meu avô não pode cuida da minha vó sozinho. É... Complicado. Ele nunca fez nada quando eu era menor — ela adicionou rapidamente, vendo o olhar preocupado no rosto do loiro. — O que aconteceu... Não foi nada violento, e foi bem antes de ele conhecer a minha mãe. Só é complicado.
Rafael assentiu e houve um momento de silêncio confortável, no qual nada precisava ser dito — ele não julgaria, ela não explicaria mais do que aquilo que pensasse necessário.
O garoto de olhos azuis passou a mão pelos próprios cabelos antes de bocejar, o que fez com que a morena soltasse um leve sorriso antes de deitar-se novamente e se esticar até o interruptor, apagando a luz.
Ficaram quietos por alguns minutos, deitados um ao lado do outro, sem se encostar, até o momento em que ela o chamou, baixinho, e ele resmungou, demonstrando que ouvia, e então ela continuou:
— Eu vou ficar aqui por mais uns dias, pra ajudar no que for possível, e eu super entendo se você preferir ir embora amanhã ou depois de amanhã. Eu sei que a minha casa e a minha família são muito com o que lidar às vezes, e eu realmente não me importaria. Eu não quero que você se sinta obrigado a ficar, você já fez demais vindo até aqui.
O loiro sorriu um sorriso calmo e, em um momento de insanidade por conta do sono, entrelaçou seus dedos aos dela debaixo do lençol, desenhando círculos nas costas da mão de Vitória com seu dedão. Ela pareceu prender o ar por um segundo, mas logo o soltou, fazendo carinho na mão dele com seu próprio dedão de volta. Rafael bocejou uma última vez antes de responder, já quase dormindo:
— Eu fico onde você estiver.
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elevador • [r.l.]
Fanfictiononde rafael se apaixona pela garota que conheceu no elevador.