6.

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Mudar de cidade nunca é fácil, principalmente quando se está no auge de seus dezenove anos. Maria Vitória morara com sua família por tanto tempo que realmente não sabia como iria viver sem eles — e também são sabia como viveriam sem ela.

Porém, com coragem no espírito e não muito mais de cinquenta reais no bolso, ela foi, mesmo morrendo de medo de como ficaria sua avó, mesmo preocupada com a alimentação de sua família, mesmo sem conhecer ninguém, mesmo sabendo que, eventualmente, teria de pagar de volta o banco após fazer um empréstimo enorme com o qual alugara seu mais novo apartamento.

Mavi não podia se arrepender de suas decisões — sua família não poderia pagar por seu arrependimento. Teria de ir até o fim do curso da USP no qual passara, teria de trazer orgulho.

Não podia desapontar, não agora.

Precisaria de um emprego, também. Talvez conseguisse encontrar algum como cozinheira em um restaurante próximo ao seu prédio? Ou, bom, não. Qualquer coisa serviria.

Das primeiras vezes, realmente cozinhou mais do que deveria. Estava sempre perdida em devaneios e em preocupações, e acabava fazendo comida suficiente para sua família toda, como estava acostumada — mas não precisava mais cozinhar para sua família toda.

Já na sua segunda semana morando sozinha, cozinhava o suficiente para duas pessoas — ela e Rafael. Nunca diria aquilo para ele, mas sua presença era extremamente agradável, gostava de tê-lo por perto. O loiro era uma base de calmaria no meio da tempestade, de certa forma.

Após um mês e meio, ainda não encontrara um emprego. O banco já cobrava o dinheiro do empréstimo, e a faculdade exigia sua atenção.

Céus, às vezes desejava que o dia tivesse algumas horas a mais, nas quais poderia organizar a bagunça que estava sua vida.

— Alô? Oi, mãe! Eu estou bem, sim, e a senhora? Calma, o quê? Não, mãe, eu não preciso de dinheiro emprestado, tudo está sob controle. Ah, um emprego? Não, ainda não, estou procurando alguma coisa. A faculdade vai bem.

Absolutamente nada estava sob controle e a faculdade estava indo ladeira abaixo. Por sinal, precisava de uma boa noite de sono urgentemente.

Suspirou, encarando as contas e os trabalhos não-terminados da faculdade em silêncio, porém também em completo desespero.

Naquela noite, esqueceu-se de jantar.

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora