38.

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Maria Vitória nunca sentira tanta raiva de si mesma antes.

Estava ali, presa no elevador onde ainda ficaria — de acordo com suas contas — por mais vinte e cinco minutos, com o garoto por quem era apaixonada, e só conseguia pensar e repensar nas suas próprias palavras de antes, de rejeição.

Tinha certeza que não existia um ser humano mais burro que ela.

Passaram mais dois minutos e sentiu o coração acelerar. Precisava fazer alguma coisa antes que pudessem sair — quando o fizessem, tudo seria estranho. Precisava consertar tudo antes.

Respirou fundo e se levantou, atraindo aqueles olhos azuis que tanto amava para si. Deu alguns passos e voltou a se sentar, agora ao seu lado. Respirou fundo mais uma vez e fechou os olhos, decidindo que não queria ver nada enquanto falasse o que tinha de falar.

— Você sabe que eu não sou boa com pessoas e com relações e essas coisas — começou. — E, bom, parte disso é por causa da minha família e todas essas coisas que você já sabe, mas eu também tenho culpa. Eu vivo me sabotando e dizendo coisas que eu não quero dizer e eu sei disso.

Uma pausa. Ela finalmente abriu os olhos e o encarou, notando que ele a olhava atentamente. Suas próximas palavras saíram quase num sussurro, e ele só pôde ouví-las por conta da proximidade entre eles:

— Eu também gosto de você, Rafael, como mais do que um amigo. Gosto já faz um tempo, na verdade. E gosto muito.

Parecia bobo que se sentisse nervosa agora, já que mais ou menos uma hora atrás ouvira uma declaração do garoto, mas seu coração acelerou do mesmo jeito, e mordeu o lábio inferior.

Rafael analisava seu rosto com a mais completa atenção, sem dizer absolutamente nada. Ficaram assim por alguns segundos, e então ele perguntou, com a voz no mesmo tom da última fala da garota:

— Mavi, eu posso te beijar? Um beijo de verdade, dessa vez?

Vitória não conseguiu segurar o sorriso que tomou conta de seu rosto, seus olhos brilhando tão intensamente que Rafael teve certeza de que infartaria.

Apenas assentiu, e ele sorriu de volta, aproximando-se devagar, trazendo uma mão para segurar o rosto dela com cuidado e deixando a outra descansar na cintura da menina que fora rápida em virar-se de forma a ficar na sua frente. Antes que o loiro conseguisse respirar, ela já tinha ambas as mãos entrelaçadas em seu cabelo, e aproximava-se também.

Quando seus lábios se encostaram, Mavi sentiu tudo dentro de si entrar em pane, todas as partes de seu corpo explodindo ao mesmo tempo enquanto deixava-se aproveitar o momento sem pensar em nenhuma outra coisa.

Após alguns segundos, Rafael sorriu no meio do beijo, levando-a a fazer o mesmo. Separaram-se com delicadeza, ainda ficando próximos o suficiente para que encostassem seus narizes. Ele respirou fundo, meio sem fôlego, e ela deixou uma risada fraca escapar, e ele sorriu ainda mais.

— Você é outra coisa, Maria Vitória.

elevador • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora