The Queens (Em Revisão)

O Reinado de Magno e Charlote

Em um mundo muito distante de nós, no País das Maravilhas, um Rei chamado Magno e sua Rainha Charlote vivem tranquilamente em seu castelo de tijolos dourados, e basta que ambos digam a palavra “ordeno” para qualquer um se ver obrigado a obedecê-los, pois uma negativa á palavra da Realeza resulta em morte instantânea.
Eles têm duas jovens princesas, sendo uma mais velha e outra mais nova, e elas andam para lá e para cá à conversar alegremente, não entre si, já que se evitam ao máximo, e sim com os outros ao seu redor.
Essas duas irmãs um dia herdarão tronos muito diferentes e serão responsáveis por manter a paz nesse mundo tão colorido e pacífico, sendo guiadas por pais zelosos e atentos às suas frequentes mudanças.

Bianca, a irmã mais velha, tem os cabelos longos e brancos como a neve, os olhos são de um azul tão claro que parece branco, e uma misteriosa magia nasceu com ela, um poder que lhe permite congelar todas as coisas ao seu redor. A jovem e bela Bianca é gentil e sorridente, adorada por todos os que a conhecem e muito centrada em suas ações.

Beatriz, a irmã mais nova, tem os cabelos ondulados e vermelhos como o fogo intenso, olhos negros sempre expressando orgulho, a pele é de um tom cinza e seu sorriso tem uma pequena brecha no centro, mas não se vê sempre porque ela quase nunca sorri. Esta é uma princesa geniosa, como todos bem sabem, e ela costuma dar trabalho quando foge do castelo para desbravar o País das Maravilhas sozinha.
Ainda temos o pequeno filho bastardo do Rei, um rapazinho de cabelos ruivos espetados para todos os lados, tão amado e gentil quanto Bianca, mas muito mais esperto que a própria. Sendo chamado de Chapeleiro desde sempre, pois o pequeno garoto ama fazer chapéus, ele passa a maior parte do tempo trancado em seu quarto falando sozinho e costurando. Muitos acham que ele é louco, mas o Rei não permite que fiquem importunando seu menino gentil e sorridente.

Devo dar-lhe os detalhes de como dois reinos tão distintos se erguerão em breve, e o resultado disso cairá sobre o País das Maravilhas, o mundo que se abriu para você agora.

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Beatriz era uma jovem extremamente magra e tinha o rosto fino de traços exagerados, mas sua pele de cor cinza era o que mais lhe incomodava. Ao se olhar no espelho enquanto via sua mãe Charlote lhe pentear os cabelos vermelhos, ela analisou o próprio rosto longo e resmungou contra a sua palidez.

- Detesto a minha imagem, mamãe. Veja como eu pareço apagada. Por mais que eu me enfeite, não consigo me mostrar vívida. Por que eu não nasci como a Bianca?!

Tentando ser paciente, a mãe deslizou a mão pelo rosto de Beatriz e sorriu, nunca cansando de animar a filha que mais arrumava defeitos em si.

- Você é tão bonita quanto a sua irmã, e eu garanto que seus cabelos vermelhos chamam grande atenção para si, Beatriz.

- Ah… - Beatriz segurou uma mecha ruiva e por um momento teve medo de seu futuro. - Essa cor vermelha me acompanha desde que eu nasci, o que indica que eu serei a Rainha Vermelha quando você e papai não estiverem mais aqui, mas eu não quero isso, não quero ser uma Rainha Vermelha. E veja só, Bianca já congela tudo o que toca, o que indica que não nasci para ser Rainha Branca. Se ao menos eu já tivesse com o meu poder manifestado igual ela.

- Deixe que o tempo venha até você. - A mãe respondeu e voltou a pentear os cabelos ruivos da filha. - Bianca é o que é e está acabado. Pare de ser contra o poder que ainda surgirá em você e não tenha medo de nada. Não há problema em ser uma Rainha Vermelha, ao contrário, você seria muito poderosa.

Contrariada, Beatriz fez beicinho e resmungou em um tom de voz quase inaudível.

- Chershire me disse coisas assustadoras outra vez.

- Ah, aquele gato… - Charlote revirou os olhos negros e passou a prender o cabelo ruivo da filha em uma traça que caía nas costas. - Não dê ouvidos à Chershire, o gato só quer comer do bom e do melhor e assustar os outros.

- É a verdade, mamãe. - Beatriz se virou, ficou de pé e andou de um lado ao outro no quarto, um resultado de seu medo. - Ele me disse que o trono vermelho é banhado de sangue, sangue dos culpados, e mais, os Reis Vermelhos terão sede desse sangue. Ah, eu tenho tanto medo, não quero sentar naquele trono. Você consegue se imaginar com sede de sangue? Tenho certeza de que não, mas é o que todos querem para mim, e como sempre, o que eu quero sequer é levado em consideração!

- Você só está vendo um lado do trono, mas precisa ver também que a Justiça estará nas mãos da Rainha Vermelha. - Charlote segurou as mãos dela, que estavam muito quentes por sinal. - Se você for a Rainha Vermelha, então trate de ser a melhor apesar de todas as circunstâncias.

- Mas…

- Me escute bem, Beatriz. - Charlote interrompeu a filha e a encarou com determinação. - Não importa a cor do trono, quem terá poder sobre ele é você.

Beatriz queria poder negar, insistir em ser uma Rainha Branca, mas ao ouvir aquelas palavras e ver o desespero nos olhos da mãe ela assentiu e foi dispensada, indo para a varanda onde Bianca, sua irmã, gostava de estar nos períodos de Escuridão.

Ainda frustrada por conta da conversa que teve com a mãe, Beatriz resolveu descontar seu estresse em Bianca, se escondendo por detrás das cortinas brancas para conseguir lhe dar um susto quando o momento chegasse.
Em meio ao silêncio, Beatriz se preparou para sair de seu esconderijo, mas se surpreendeu quando uma voz masculina e grossa respondeu na varanda.

- Desculpe por isso. Eu me chamo Gottan.

Assustada com aquele intruso, Beatriz espiou pela fina brecha das cortinas e encontrou um homem com asas nas costas se levantando com ajuda de uma Bianca corada.

- Eu me chamo Bianca. - A voz gentil dela, seus cabelos brancos e soltos caindo em ondas por seu ombro direito, e a mão que segurava a mão dele geravam uma raiva que a escondida Beatriz mantinha e crescia cada vez mais. - Você se machucou?

- Ah, não. - Ele respondeu e deixou escapar uma risada, e aquilo encantou Bianca, mas encantou também Beatriz, que agora só olhava para ele da forma que podia. - Eu estou bem, mas fui muito desastrado ao voar tão rápido.

Bianca soltou sua mão da dele e também riu, negando com a cabeça e baixando o tom de voz.

- Fico feliz que você esteja bem, mas temo que não continue assim se o papai pegá-lo no Castelo Real. Desculpe, mas não posso recebê-lo.

- Compreendo. - A voz de Gottan soou decepcionada para uma Beatriz curiosa, que viu ele se aproximar de Bianca no parapeito da varanda. - Não me importo de passar por problemas, mas não quero que esses problemas caiam sobre você. Obrigado por me ajudar depois da queda, você é uma Princesa muito bela e gentil.

Ainda escondida atrás das cortinas que agora se moviam levemente, Beatriz engoliu sua própria raiva, vendo mais uma vez Bianca ser adorada pelos olhos de alguém.
Como ela fazia aquilo? Beatriz se perguntou muitas vezes até agora, mas nunca obteve resposta.

Tantas vezes essa mesma cena já se repetiu, o instante em que qualquer um cai de amores pela irmã mais velha e ignora completamente a irmã mais nova. Aquela situação gerava o ápice da ira de Beatriz por Bianca, e quando coisas como aquela aconteciam o embate era inevitável.

- Bianca.

Bianca e Gottan se viraram assustados para encarar uma Beatriz altiva e corada, e de imediato eles se afastaram receosos com o olhar irado que ela lhes lançava.

- Como ousa trazer um homem ao castelo? Contarei imediatamente ao papai.

- É um engano! - Bianca se aproximou de Beatriz com as mãos estendidas, seu rosto tinha uma expressão desesperada. - Por favor, Beatriz, não…

Ao ouvir os pedidos intensos de Bianca, que agora estava imersa em pânico, Beatriz sentiu uma enorme satisfação em seu coração, e assim ela correu pelo corredor o mais rápido que pôde, chamando aos gritos pelo pai.

Era certeza, sua grande chance havia chego, Bianca seria repreendida e perderia a admiração que os pais tinham por ela, e Beatriz estaria pronta para tomar seu lugar.

No entanto, uma mão grande segurou seu pulso com força, seu corpo girou e ela se perdeu ao ver as imensas asas brancas bloquearem sua visão, e em seguida ela encarou assustada os olhos dourados dele, do rapaz chamado Gottan.

- Garota tola, aonde você pensa que vai?