O Destino

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Coisas estranhas aconteceram no País das Maravilhas no período seguinte ao acontecimento no castelo em ruínas da Rainha Vermelha.
Diferente do que Gottan acreditou, Beatriz não voltou a aparecer, o deixando deprimido e calado perto de qualquer um. Sua vida se resumiu ao trabalho de manter em ordens dois castelos e um mundo ainda cheio de um gelo que não acaba.
Bianca teve o bebê em uma situação muito delicada, pois o calor que emanava do bebê lhe queimava inteira por dentro. No entanto, ele nasceu forte e belo, tinha os olhos dourados do pai e uma pequena protuberância nas costas que indicava que ele teria asas.
De início, o desespero tomou conta da mente de Bianca, que tinha medo que o filho estivesse voando por aí à fora, num mundo tão perigoso no futuro.
Ela bem que tentou fazer com que Gottan tomasse amor pelo filho, mas seu esposo parecia agir de forma enlouquecida, como se não ouvisse ninguém completamente. E de fato, Gottan estava alheio a qualquer coisa que estivesse fora de seu escritório, mas não pôde fugir de ficar parado ao lado da esposa e filho numa pose para um quadro pintado por um artista do castelo depois de alguns céus.

Nesse período, as pequenas asas do bebê, que recebeu o nome de Guilhermo, já eram evidentes e fofas.

Na casa de madeira na floresta fria o Chapeleiro corria de um lado para o outro na sala, arrumava tudo para um banquete em homenagem ao nascimento de uma árvore chamada "Árvores das Lamentações". E ela tinha esse nome porque, mesmo pequena, sabia falar e tinha um rosto gentil no rosto, mas se lamentava o tempo inteiro.

- Detestável. - Chershire lambeu a pata e alisou os pêlos da barriga fofa. - De quê serve uma plantinha que só sabe reclamar de tudo? Por que alguém adoraria uma coisinha dessa?

- Dizem que ela prevê o futuro! - A Lebre atacou o pão do cesto e apontou para Aragon no encosto do sofá. - E você, Aragon? Você também prevê o futuro, certo? Conte para nós das coisas boas que a Árvore das Lamentações nos trará!

- Desculpe, não estou inspirado neste céu.

- Preguiçoso. - Maise veio da cozinha com o Chapeleiro, ela trazia tecidos para pôr na mesa. - Ouvi por aí que a Árvore fala como um poeta, é muito sensível. Ainda irei lá vê-la.

A risada sombria de Chershire ecoou na sala e não parou nem mesmo quando recebeu um olhar de raiva da rata.

- Está pronta para voltar de lá aos prantos, rata velha?

O Chapeleiro se meteu na frente de Maise e pegou os tecidos que ela segurava, aproveitando ainda a distração para que ela deixasse as brigas com o gato de lado.

- Agora nós temos que pegar a comida. Onde estão os gêmeos? Ah, aí vem eles. Coloquem as bandejas no centro, por favor. Agora nós vamos sentar e...

O Coelho Branco atravessou a sala correndo e gritando com tanto desespero que pouco se entendia, mas enfim, ele recuperou a fala coerente e soltou:

- O REI MAGNO ESTÁ DE VOLTA! ELE ESTÁ DE VOLTA!

Todos desataram a correr, o primeiro deles era o Chapeleiro, que tinha um largo sorriso no rosto e pulava pela neve no intuito de ser mais rápido.
Maise vinha atrás, carregava a Lebre nos ombros, assim como Aragon, que apressava a rata.

Na parede de tijolos dourados estava Magno, muito mais velho e com as costas curvadas, e tinha consigo uma menina de cabelos dourados e rosto sereno.

- Papai!

O Chapeleiro se jogou nos braços do pai e chorou de saudades e alegria, e Magno abraçou seu garoto com carinho e amor.

- Meu filho amado, você cresceu tanto. Está lindo! Muito lindo, meu filho! Ah, Maise! Você não mudou nada, nada mesmo! Venha aqui e me dê um abraço.

Sem demora, Maise soltou uma risada esganiçada e recebeu o abraço do homem, que parecia mudado até mesmo por dentro.

- Sentimos a sua falta, Rei Magno. Aquele mundo lhe transformou na aparência.

- É verdade, estou velho. Mas veja, está é Ariela, minha convidada especial. Chapeleiro, venha conhecê-la direito. Ela não é bonita?

- Oh, sim. - O rapaz estendeu a mão para a tão jovem Ariela, que ergueu seus olhos azuis para ele e sorriu largo. - Estou muito feliz em conhecê-la, Ariela. Eu me chamo Chapeleiro.

- Seu nome é engraçado. - A voz doce de Ariela se infiltrou nos ouvidos de todos e eles puderam perceber o quanto ela era uma garota gentil. - É um prazer conhecê-lo, eu me... Ah, você já sabe o meu nome.

- Eles já se adoram! - Magno ergueu os braços e os abraçou com força, deixando o dois jovens muito próximos e envergonhados. - Vamos para casa, temos muito o que conversar!

Maise queria intervir sobre a ida do Chapeleiro para o castelo de Charlote, mas Magno estava ali e ainda era um Rei. E o homem os levava com tanto empenho e alegria que a rata não pôde fazer outra coisa, senão segui-los.

- ... Mas por que está tão frio, meu filho? Há neve por todos os lados! Não, não, teremos que dar um jeito nisso e logo. Ariela não pode ficar doente!

- Acabar com o gelo é tudo o que queremos e...

Seguiram caminho conversando sobre  tudo o que aconteceu no passado, e Ariela exclamava encantada toda vez que via uma flor os cumprimentando e cantando lindamente.

Longe dali, Bianca entregava o bebê para uma criada e o via parar de chorar aos poucos, agora longe dos braços frios da mãe.
A mão trêmula tentou tocar a cabecinha do filho, mas ele voltou a chorar e ela se afastou aos prantos.

- Ele me odeia! Como um filho pode odiar a mãe?!

- Alteza, por favor. - A criada ninou o bebê e o colocou no berço quentinho e delicado. - Guilhermo ainda é um bebê, não compreende as coisas. Tenho certeza de que quando ele crescer vocês saberão lidar com as diferenças de temperatura.

- Detesto que ele tenha nascido com os poderes do pai. Eu só queria que Guilhermo fosse como eu sou, que tivesse o gelo como sua fonte! Por que o fogo insiste em me perseguir?! Por quê?!

- Está precisando descansar. - A criada a guiou até a cama do outro lado do quarto, o mais longe possível do bebê, e a sentou com cuidado. - Não fique nervosa, senão o bebê sentirá mais frio nesse quarto. Deixe que o tempo passe e as coisas melhorem, minha Rainha. Estarei aqui para lhe ajudar com o príncipe.

- Sim, você está aqui, mas Gottan nunca está. Não importa quantas vezes eu fale, ele se recusa a ficar aqui comigo. Ainda irei força-lo a se manter ao meu lado, você verá. E o pior é que tenho me sentido mais quente, é como se o fato de Gottan não estar aqui me enfraquecesse no gelo que me foi dado ao nascer. Me sinto cada vez menos completa!

- Acalme-se, Rainha, pode descansar que eu cuidarei de tudo.

The Queens (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora