The Queens (Em Revisão)

A Preferida

Beatriz sempre esteve ciente da preferência que os pais tinham por Bianca, a primogênita e obediente irmã mais velha. Porém, quando ouviu Charlote encher a outra de elogios numa conversa com Gottan em uma mesa no jardim, sua frustração por pouco não foi evidente.
Charlote sorriu orgulhosa de ver que o mais novo conselheiro do Rei gostava do que ouvia.

- Não há dúvida de que Bianca será uma Rainha brilhante.

Gottan apenas concordava com um gesto de cabeça e tomava o chá que lhe foi oferecido. Beatriz decidiu entrar na conversa quando notou com o canto dos olhos negros que Bianca vinha até eles.

- É uma pena que Bianca deteste tomar banho, já que sempre congela. Seu cheiro peculiar não é fácil de aturar, não é mesmo, mamãe?

- Calada, Beatriz. - Charlote repreendeu a filha e olhou de Gottan, que prendia um sorriso, para Bianca, que ouviu o comentário da irmã mais nova e sentou na cadeira.

- Beatriz está brincando, pois sabe muito bem que as impurezas não sobrevivem ao frio intenso que libero quando quero. Sou muito limpa, Gottan.

- A princesa Beatriz é muito jovem. - Gottan lançava um olhar compreensivo à Beatriz, que detestava aquilo. - É normal brincar desta maneira quando a infantilidade ainda permite.

Possessa de raiva e determinada a mostrar que não era a criança que ele pensava, Beatriz arrumou a postura e ergueu o queixo ao falar:

- Sei de técnicas de batalha melhor do que o meu próprio pai, conheço os meios para fazer com que um pequeno Asa de Morgan cresça e se torne o dragão mais feroz e leal de todos e garanto que sou madura o suficiente para saber que Bianca congela sua sujeira, mas não é com frequência que faz a raspagem dela.

- Já chega! - Charlote perde a paciência com a filha e levantou, pegando a jovem pelo braço e levando-a consigo.

Bianca pedia mutas desculpas à Gottan e negava o que Beatriz falou, estava tão constrangida que paralisou quando ele não se conteve e caiu na gargalhada.

- Como eu disse.- Gottan falou com lágrimas por rir tanto. - Coisas de uma princesa muito jovem ainda.

Sem saber o que fazer, Bianca sorriu e se serviu de chá, agora pronta para mudar de assunto o mais rápido possível.
Longe dali, Beatriz era colocada diante do pai, que dispensava uma bandeja de frutas e suspirava já irritado, era o que ela via.

- O que houve dessa vez?

- Beatriz mente o tempo inteiro! - Charlote sacudiu a filha pelo braço.

- O mesmo problema. - Magno revirou os olhos.

- Não é verdade! - Beatriz se defendeu. - Eu só disse que Bianca não toma banho e também não raspa a sujeira.

- Mas... - Magno engasgou e lançou um olhar alarmado à filha. - Pelo brilho das fadas! Beatriz, qual é a necessidade de falar essas barbaridades sobre sua irmã por aí?! Bianca, ora, ela... Pouco nos importamos com os métodos de higiene de sua irmã porque sabemos de seu esforço para se manter limpa sem poder usar água para isso! Charlote!

Magno se voltou contra a esposa por estar envolvido em uma conversa que julgava perda de tempo.

- Você realmente trouxe Beatriz aqui para me fazer perder tempo com as idiotices que ela diz?! Tranque-a no quarto como sempre!

- Ela pula a janela! - Charlote soltou o braço de Beatriz à contra gosto, pois a garota não parava de se mexer. - Devo ordenar que Beatriz durma outra vez?

- Não quero dormir! - Beatriz respondeu contrariada e cansada de sempre ser colocada em sono profundo quando se cansavam dela. - Eu não fiz nada de mais! Papai, é justo usar seu poder de ordem para fazer sua filha dormir sempre que se cansa dela?! Eu exijo falar com os conselheiros!

Magno xingou baixo e apontou na direção da filha.

- Ordeno que cale a boca, Beatriz.

O que se seguiu dali foi o desencadeamento da raiva de uma Beatriz incapaz de falar, mas suas duras pisadas no chão deixavam bem claro sua revolta contra o pai.

- Tranque-a no quarto. - Magno se direcionou à Charlote e se viu satisfeito quando ela levou a filha rebelde embora. - E ordene que surjam grandes na janela!

As portas do salão se abriram e Juhio, um homem corpulento e de barba negra e longa, veio até o trono de Magno.

- Meu grande amigo, Juhio, me conte as novidades da Vila.

- Seu menino foi visto por lá. - Juhio respondeu e coçou a barba. - Você não pretende manter o garotinho maluco em seu quarto de costuras?

Magno ficou muito vermelho ao ouvir o amigo falar de modo arrogante sobre o seu filho mais novo.

- Veja como fala do meu filho, Juhio. Não vou aturar desrespeito, nem que ele venha de um velho amigo como você.

Juhio sentou no degrau onde se encontrava o trono e gesticulou com as mãos ao falar.

- Ora, você sabe que eu não falo por mal, afinal, todos conhecem o menino por ser um tanto maluco. Não vejo problema nisso, já que seu filho nunca fez nada contra os animais que vivem lá. Mas veja bem, Magno, as Sereias Selenas da Lua não ficam nada felizes quando vêem pernas na sua área e podem acabar arrastando seu filho para o lago.

- Eu mato cada uma delas! - Magno ficou mais irritado ainda, o que fez Juhio limpar a garganta num pigarrear breve.

- Você precisa se acalmar e manter o menino dentro do quarto de costuras. Matar todas as sereias causaria um grande desequilíbrio de peixes.

Magno não tinha grande preocupação com o pequeno Chapeleiro por saber que muitos no País das Maravilhas amavam o filho e cuidavam dele, e sim com Beatriz, a filha rebelde que era o motivo de suas frustrações.

- Preciso dar um jeito de manter Beatriz sob controle. Quem me dera ela fosse igual a irmã mais velha, perfeita em suas obrigações e obediente aos pais.

- Case a princesa Beatriz de uma vez e se livre do problema. - Juhio foi direto, falou sem pensar e nem mesmo notou que Magno lhe lançou um olhar intrigado.

- E qual seria o homem que desejaria casar com Beatriz, a princesa rebelde, mentirosa, implicante, pouco feminina, comilona...

E assim Magno continuou a citar os muitos defeitos que via na filha, deixando Juhio cansado de sempre ouvir a mesma ladainha, porém incapaz de continuar contrariando o seu Rei.