Aceite o meu pedido

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Bianca estava no salão principal e hesitante diante de Charlote e uma visitante inusitada. Muriel, esposa do Centauro Apollo veio até o castelo para falar com o Rei Magno, no entanto foi comunicada de que ele não poderia vir, e só lhe restou recorrer àquelas que julgava não serem uma provável esperança.
Seu corpo de um centauro saudável estava ferido aqui e ali, seu rosto feminino e largo mantinha roxos de uma briga recente.

- Eu preciso falar com o Rei. Por favor, insistam em chamá-lo.

- Seu Rei já disse que não pode vir agora. - Bianca tinha uma expressão de nojo ao sentir o cheiro desagradável que vinha de Muriel. - Se você, súdita, não quer nos relatar o que lhe aconteceu, apenas tome um banho bem demorado e resolva sozinha os seus problemas.

- Bianca!

Charlote repreendeu a filha, alarmada com o olhar raivoso que recebeu de Muriel, e esta última confirmou suas suspeitas, as duas Rainhas não poderiam ajudá-la.

- É claro que Bianca não quis dizer isso, ela ainda não conhece as funções da realeza como um todo.

- Só posso duvidar. - Muriel respondeu ao encarar Bianca. - Quando vossa alteza se casou, ainda em sua festa disse que protegeria o seu povo. Gostaria de dizer que me surpreende sua atitude em relação a minha dor, porém, não estou surpresa pelo simples fato de nunca ter acreditado em suas palavras.

Ao ouvir tamanha afronta de uma súdita, Bianca perdeu o pouco da paciência que tinha.

- Ordeno que...

- Cale a boca! - Charlote interviu imediatamente, incrédula com as atitudes da filha. - Muriel, eu realmente não posso recebê-la agora. Estamos em guerra contra a... a Rainha Vermelha, e isto tem deixado todos nós muito nervosos. Volte em outro céu, especificamente quando os ânimos não estiverem exaltados.

- Pode não haver mais um céu para mim. Meu... Meu esposo me agride. Estou aterrozada e não suporto mais viver desta maneira. Vim aqui pedir ao Rei que tome uma providência em relação à Apollo, o chefe de suas tropas.

Aquele era um problema dos grandes, foi o que Charlote concluiu em seus pensamentos. Os boatos de que Apollo era um descontrolado arrogante não se faziam ouvir discretamente, porém, agredir a esposa estava longe de ser uma possibilidade, foi que Charlote preferiu acreditar.

- Apollo é, como você bem disse, o Chefe de todas as Tropas do Reino. Falar sandices de nosso competente capitão pode lhe custar a vida.

O impacto daquelas palavras atingiu em cheio Muriel, que recuou para trás num impulso desconhecido, e sua dor conseguiu se tornar mais forte.

- Não estou mentindo! Veja as marcas em meu corpo! Quem mais poderia ter feito isso dentro de uma própria floresta-lar?! Chamem o Rei! Ele jurou proteger todos os habitantes do País das Maravilhas! Prefiro morrer a viver com aquele centauro!

- Vá embora! - Bianca apontou para as portas, ainda trêmula de raiva. - Sabe quando perderemos um grande Chefe de Tropas tão competente?! Nem mesmo depois da guerra que se aproxima!

Muriel deu alguns passos furiosos para trás, bufando de raiva das duas mulheres indiferentes aos crimes do marido. Não, ela sabia que não conseguiria paz se fosse pedir àquelas duas, pois suas auras não combinaram desde que chegou. Centauros eram muito sensíveis e dificilmente se deixariam enganar pelas aparências e, infelizmente, Muriel gostaria de nunca ter se enganado com Apollo, aquele que estava fazendo de sua vida um tormento.

- Venho em busca de socorro e sou tratada como o chão sujo que vocês pisam. Está tudo muito bem que eu seja agredida sem cessar, desde que seu Chefe das Tropas continue seu bom serviço no castelo. Pois bem, realeza, lhes desejo muito mais do que podem segurar, e não estou falando de coisas boas.

O som dos cascos no chão do salão ecoou por todos os lados e Bianca, revoltada com Muriel, foi segura por Charlote, que não sabia mais o que fazer para que a filha tomasse o controle de suas emoções.
Jamais viu a filha tão enlouquecida daquela maneira, e só podia deduzir que o sumiço de Gottan era o motivo por trás daquilo. E por falar em Gottan, este pousava bruscamente com um Juhiu roxo e com a boca escancarada de medo e frio.
Gottan largou o homem no chão e encarou os grandes e assustadores portões vermelhos mais à frente.

- Você deveria ter matado aquelas piranhas!

Gottan limpou a garganta e, ainda com a atenção para os portões, respondeu do modo mais rude possível.

- Você é quem deveria ter sido triturado por elas. Ter você, seu medíocre, como Rei é a pior de todas as piadas.

Juhio se recuperou de seu mal estar e estava determinado a enfrentar Gottan, mas paralisou ao ver os grandes portões se abrindo e uma leva de soldados de baralho vindo em sua direção.

- Não.. não.. - Juhio correu para detrás de Gottan, que matinha o olhar firme à tropa da Rainha Vermelha. - Gottan, por favor, não deixe ela me machucar. Eu não trouxe as pedras preciosas! Não deixe...

- Maldito covarde. - Gottan disse entre dentes e engoliu em seco quando a tropa de cartas deu passagem para a Rainha Vermelha passar.

O coração de Gottan perdeu uma batida quando ele viu Beatriz vir até ele, estando tão bela e altiva como nunca antes, séria e com o olhar negro que guardava duas chamas intensas. Seus lábios vermelhos e delicados formaram um bico zombeteiro quando encontrou Juhio escondido por trás de Gottan.

- Minha diversão chegou. - Beatriz sorriu para Juhio, que quase gritou assustado apenas por vê-la.

- Beatriz. - Gottan se pronunciou. - Peço que não machuque Juhio.

O dedo indicador de Beatriz foi para a têmpora e pensou no que fazer com os dois Reis na sua frente.

- Gottan, você quer entrar para conhecer o meu castelo.

A mente de Gottan girou quando ouviu aquela frase, pois não havia ali um tom de questionamento, e sim uma obrigação que ele deveria cumprir.

- O que acontece se eu negar?

Juhio tremeu atrás dele e deixou escapar um resmungo desesperado, em seguida ouviu a voz de Beatriz descer um tom.

- Entre.

Confiante e em passos largos, Beatriz deu às costas a eles e entrou em seu castelo vermelho. Não demorou nada para Gottan fazer o mesmo, ainda ouvindo Juhio lhe encher de agradecimentos exagerados.
Por todos os céus em que esteve no País das Maravilhas, Gottan jamais esteve em um lugar tão escuro e de mal gosto como aquele castelo. Simplesmente não havia decoração alguma nos corredores, as paredes eram de pedras desiguais, o chão era vermelho como o sangue e o salão principal tinha grandes janelas, mas todas estavam fechadas por cortinados vermelhos.
De repente, Juhio foi seguro por um Homem-Trigre que lhe disse para acompanhá-lo até seu aposento real, e só restou a Gottan seguir Beatriz para onde ela quisesse ir.

The Queens (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora