Não Subestime um Jovem

146 12 3
                                    

Os mais variados tipos de comida estavam sobre a grande mesa no salão, e ao redor dela estavam sentados os conselheiros do Rei, Bianca e Beatriz lado à lado, Gottan em frente às duas e o Rei Magno e a Rainha Charlote na cabeceira.

- Pois bem. - O Rei Magno iniciou seu discurso, deixando todos atentos às suas palavras. - Imagino que vocês devem estar curiosos sobre este jovem de nome Gottan, mas, como eu sou o Rei não pretendo explicar nada. Basta que saibam que de agora em diante ele estará ao meu lado como conselheiro e auxiliador da segurança do Reino.

- Alteza. - Um dos conselheiros, um homem com chifres que apontavam para todos os lados, ergueu a mão e falou o que lhe incomodava. - Não é minha intenção questioná-lo, mas me pergunto se um rapaz tão jovem poderia cumprir tais funções.

- É o que pensamos. - Outro conselheiro se manifestou, um homem de cor amarela e que cheirava a melão. - Um jovem não tem sabedoria necessária para coisas importantes.

- Não me subestimem. - Gottan se defendeu e lançou um olhar determinado à todos os conselheiros na mesa. - Esse é o conselho que o jovem aqui lhes dá.

Um silêncio assustador dominou o ambiente; Bianca estava surpresa e assustada com as palavras de Gottan, a Rainha o analisava desconfiada, assim como os conselheiros, e Beatriz lutava para não sorrir tamanho era o seu orgulho por escolher um noivo tão esperto.

O clima tenso só se foi quando a gargalhada do Rei Magno explodiu nos ouvidos de todos, ele estava vermelho de tanto rir.

- Agora vejo que tomei a decisão certa! Um brinde à esperteza de Gottan, o mais novo conselheiro do seu Rei!

Todos ergueram as suas taças e brindaram, em seguida começaram a comer agora imersos em seus pensamentos preocupantes sobre o futuro. Porém, Beatriz não queria pensar, somente agir diante de um Gottan tranquilo enquanto comia.
Desde que chegou no jantar os olhos alheios se voltavam frequentemente para si, certamente admirando seu belo vestido vermelho e penteado extravagante, mas Gottan não havia desviado o olhar travesso da irmã mais velha; Um fato que Beatriz detestava, mas que estava decidida a superar e agir para mudá-lo em seu favor.
Assumindo um ar gentil, algo incomum de se ver, Beatriz sorriu para Gottan e esperou ser notada, mas não obteve sucesso. Logo, ela deu risadinhas ao fingir se interessar por uma conversa qualquer ao seu lado, mas ele não ergueu a cabeça.
Sem saber o que fazer, Beatriz encontrou com o olhar o pote de molho próximo de seu admirador, e suas sobrancelhas se ergueram com a brilhante idéia.

- Com licença. - Por conta do nervosismo de se direcionar tão diretamente a voz de Beatriz soou tão baixa que Gottan não ouviu do outro lado da mesa, e a vergonha da jovem não pôde ser maior. - Estou lhe chamando.

Os olhos dourados de Gottan se ergueram, se tornando constrangido por dar mais atenção à comida do que as conversas na mesa, e ele tratou de encarar Bianca, que engoliu em seco e desviou o olhar do dele e olhou a irmã mais nova.

- Fui eu quem lhe chamei. - Beatriz respondeu apesar de estar irritada com a repentina conexão de olhares deles, mas sorriu e apontou para o pote de molho. - Passe o molho para mim.

Gottan estranhou quando Beatriz ergueu as mãos de forma espalmada para receber o molho, e ele franziu o cenho e apontou para a esquerda dela.

- Princesa, um pote de molho exatamente igual está bem ao seu lado.

Os olhos negros de Beatriz notaram o pote ao seu lado imediatamente, e ela tratou de recolher as mãos e comer o mais rápido possível, pois a vontade de sair correndo era maior que tudo naquele momento. Seus pensamentos eram xingamentos contra sua própria estupidez, e seus olhos fugiam do olhar desconfiado de Charlote.

No fim do banquete, Bianca acompanhou os conselheiros até as portas do castelo, e Gottan estava logo atrás dela, parando ao seu lado quando todos os outros foram embora.

- Princesa Bianca, estive pensando se dormiu bem depois do tumulto que criei.

Estando no arco das portas, Bianca sentia a brisa suave do vento lhe refrescar, e sorriu para um Gottan corado por estar sozinho com ela mais uma vez.

- Admito que não pude descansar depois do ocorrido, pois estava um pouco nervosa e acabei por congelar as cobertas.

Ambos riram da situação citada, e estavam tão distraídos um com o outro que não notaram Beatriz usando sua frequente esperteza para se esconder por detrás de uma coluna.

- Sua magia é impressionante, princesa. Ouvi boatos de que o gelo que vem de suas mãos pode congelar um lago, e mais que isso, até mesmo água a princesa consegue criar.

- Não precisa… - Bianca se apressou em dizer, ansiosa e sorridente. - Não precisa me chamar pelo título, me chame somente de Bianca.

- Bianca. - Gottan falou e sorriu para ela, que corou e mexeu nos cabelos brancos em um gesto nervoso, algo que ele achou lindo. - Eu gostaria de poder vê-la mais vezes.

- Papai não gostaria disso. - Bianca se virou para ver os jardins mais á frente, fugindo do olhar dourado dele. - Você não deveria dizer essas coisas, Gottan. Como conselheiro do Rei, suas conversas devem ser somente com os outros conselheiros e o papai.

Enquanto os dois conversavam, Beatriz arranhava a coluna de pedras, furiosa por ver aquela cena passar sem que ela pudesse fazer algo, e mesmo que não quisesse se obrigou a dar ás costas e sair em passos duros pela porta ao lado.

- Maldita. - Beatriz disse com o queixo trincado ao imaginar os dois noivos e ela sozinha. - Você não vai tomar o meu noivo, eu garanto que isso você não vai tomar de mim.

Seu vestido vermelho não foi suficiente, seus sorrisos pouco abrilhantaram em seu objetivo, e Beatriz tinha certeza de que a única culpada de seu fracasso era Bianca, a irmã mais velha que sempre ofuscou a irmã mais nova.

- Espere por mim, Bianca.
Só acaba quando eu disser que pode acabar. E tenho dito!

The Queens (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora