O Primeiro Combate

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Tempos depois Maise estava na casa do Chapeleiro e cuidava de seus ferimentos enquanto ele dormia, e sua mente não deixava de repetir aquela mesma cena. Mesmo depois de tanto sofrer, a rata nunca viu o Chapeleiro dar uma Ordem antes, e ela acreditou que nem mesmo ele sabia do poder que tinha. Já não bastava o coração de seu protegido ter sido magoado tantas vezes pela família, agora até mesmo seu corpo tão magro e delicado machucaram. Maise fez o melhor que pode para deixá-lo limpo, tratado e confortável, e agradeceu em silêncio por ele cair no sono depois de um chá calmante.

- Maise. - O Gato Chershire estava na porta do quarto e ficou grato quando ela se ergueu e foi até ele. - Vamos conversar lá em baixo.

Aragon e a Lebre já esperavam os dois, e quando Maise desabou no sofá, Chershire tomou a palavra.

- Sinto muito não poder aparecer naquele momento, meus motivos não têm porquê serem explicados. O que importa agora é o que vamos fazer daqui em diante.

- Eu nunca pensei nisso. - Maise estava aturdida com a descoberta. - Como ele pode ter Ordem de Soberania se ainda não é um Rei? As princesas podiam dar Ordens e eu não fui informada?

- Garanto que não. - Chershire foi direto. - Estive muito tempo naquele castelo, acompanhei o crescimento das duas, até então princesas, e também vi suas tentativas de dar ordens aos outros, mas nunca surtiu efeito.

Os outros acreditaram que Chershire estava mesmo convicto do que dizia, porém, hesitaram quando ele ponderou uma questão.

- Bem, devo salientar um ponto. Depois de muito tentar, soube que Beatriz, esperta como sempre, aprendeu a Ordens sobre si mesma.

- Como assim?! - Maise sem querer, aumentou o tom de voz, tamanha era a sua surpresa, em seguida baixou o tom e sussurrou para Chershire. - Nunca ouvimos falar disso!

- O Rei não queria que esta informação se espalhasse. - O gato respondeu. - Ah, e nem era para tanto, afinal, quem poderia ter medo de uma princesa que só podia dar Ordens sobre si mesma? Ela sequer fazia coisas grandiosas.

- Mas o Chapeleiro... - Aragon voltou seu olhar para as escadas. - O nosso menino é capaz de fazer ordenar como um Rei e isto causará um grande alvoroço. O Rei Magno já deve estar à par das novidades, e se ele pegar o garoto, não poderemos fazer nada. Precisamos escondê-lo para que não passe a vida inteira preso numa cela assim como fizeram com a princesa mais nova.

- Não sabemos de nada. - A Lebre batia os dentes uns contra os outros, nervosa com o desenrolar daquela conversa. - E se o Chapeleiro for como as princesas? Se uma delas tem poder sobre o gelo, e a outra tem poder sobre o fogo, qual é poder do Chapeleiro?

- Eu não sei. - Maise tentava controlar seus nervos, mas aquela era uma tarefa difícil. - Pode ser que ele não tenha nada disso, que possa ficar bem e apenas dê ordens.

- Maise. - Chershire falou. - Sei que é loucura dizer isso mas, a Lebre tem razão.

- Oh.. - A Lebre se surpreendeu ao ouvir aquilo, até porque ninguém nunca lhe dava razão, e quis sorrir largo, mas achou melhor não se animar muito naquele momento tão triste. - Quero sorrir, mas sei que é errado.

- Cale a boca, sua maluca - Maise ficou de pé e correu para fechar as janelas da casa do Chapeleiro. - Precisamos nos apressar. Temo que sejamos cercados à qualquer momento.



No castelo vermelho, Beatriz deixava sua xícara de chá escapar de seus dedos ao ouvir aquela frase.

- … pode ordenar sobre qualquer um.

Perdendo o controle, sem querer Beatriz tocou na mesa de chá, que pegou fogo depressa, fazendo sua informante sair correndo para longe dali.
Beatriz não conseguia acreditar no que lhe contaram, e logo ela caminhava rumo aos portões e apontava o punho para o céu. Em um de seus dedos havia um anel de ouro com uma pedra vermelha.

- Asa de Morgan!

O vento soprou mais forte, um estrondo se fez ouvir ao longe, em seguida um gigantesco dragão vermelho pousou bruscamente, jogando terra e pedra para todos os lados. Logo, Beatriz estava em cima dele e voava pelo céu colorido, ainda jogando fogo pelos ares por conta de seu descontrole.

Magno estava chegando nos portões quando Gottan veio até ele seguido de Bianca, ambos estavam ofegantes e perplexos com a novidade.

- Papai! - Bianca foi até o pai, mas ele a empurrou para o lado e continuava a ir aos portões.

- Magno! - Charlote vinha correndo atrás dele, seu rosto enfurecido estava contorcido e vermelho. - Não se atreva ir até lá! Magno!

- Cale-se! - Magno estava cego de ansiedade e receios, e quando os portões se abriram para ele o grande dragão vermelho pousou rapidamente e abriu sua boca imensa repleta de fogo.

- ORDENO QUE SE APAGUE! - Magno exclamou muito rápido e caiu no chão, não sendo atingido por muito pouco.

Gottan o arrastava pelas vestes para longe e encarava Beatriz, que descia rapidamente do dragão e lhes mostrava uma espada de fogo, estando também totalmente em chamas.

- ASA DE MORGAN, DERRUBE!

O Dragão voou por cima dos portões e alcançou as torres, caindo sobre elas e causando grandes destruições.

- MALDITA! - Magno ficou de pé e empunhou sua espada. - SAIA DO MEU CAMINHO!

Beatriz correu muito rápido até eles e riscou a terra com sua espada de fogo, os prendendo num espaço muito apertado e em chamas.

- Não pretendo sair do seu caminho tão cedo! - Ela respondeu e puxou Charlote para fora do círculo de fogo, prendendo os braços da mãe nas costas e encarando o pai apavorado diante daquela ameaça. - Olhe para você, papai. Eis aí o medo em seus olhos, não é? Também posso deixá-la em pedaços e entregá-la aos poucos para você, assim como você disse que faria com o meu irmão. Você se importaria se eu lhe ameaçasse assim, papai?

- Ordeno que as chamas.. - Magno foi seguro por Gottan quando tombou para trás quando as chamas aumentaram, e seu medo por nunca conseguir se livrar do poder de Beatriz voltou.

A risada sombria de Beatriz deixou Magno alarmado, em seguida ele puxou Bianca pelo braço, agora irritado com ela.

- Faça alguma coisa!

Bianca queria ajudar, mas o calor estava lhe deixando tonta e fraca, sendo amparada por um Gottan confuso. Por fim ele tomou uma decisão e deixou Bianca no chão, em seguida passou pelas chamas, e quando se colocou na frente de Beatriz ele queimava vivo sem sentir dor alguma.
Charlote virou o rosto para não ver o poder que tanto temia vindo também do genro, mas pôde sentir o aperto das mãos de Beatriz afrouxar, o que lhe dava a certeza de que Gottan era o ponto fraco da filha.

- Por que você está aqui? - Gottan se direcionou à uma Beatriz orgulhosa de si. - Beatriz, você se importa com aquele garoto, como eu sempre soube.

- Não se engane. - Beatriz virou seus olhos de fogo para os guardas que vinham para atacá-la, mas não demorou nada para que eles caíssem no chão em chamas e aos gritos. - Não darei uma nova arma aos meus inimigos.

Um grito estridente e feminino os colocou em alerta, e eles se viraram para ver água no círculo de fogo, exatamente no lugar onde deveria estar Bianca.

- Bianca! - Magno estava pálido com a cena que presenciou, em seguida ergueu a cabeça em direção ao céu quando o calor intenso evaporou a água.

Beatriz ergueus seus olhos de fogo para aquele vapor, em seguida grunhiu de ódio ao ver que a irmã mais velha havia arrumado uma forma astuta de fugir do fogo.
Sem saber o que fazer naquele momento, Beatriz soltou a mãe que caiu no braços de Gottan, em seguida desapareceu nas chamas.

- Como?! - Beatriz surgiu nas costas de seu dragão ainda na torre dourada do castelo e voou com ele em busca de Bianca. - Eu vou pegar você, Bianca! Dessa vez você não vai escapar de mim!

The Queens (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora