Você tem a minha resposta

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O Gato Chershire tentava pegar um dos peixes do cesto que pertencia à Maise, que estava distraída com a linha e a isca de frente para o rio, mas ele foi afastado quando o Chapeleiro o pegou e o colocou no colo.

- Não se esqueça, Chershire. - O jovem o alertou. - Roubar é algo imperdoável no País das Maravilhas.

Chershire ronronou quando o Chapeleiro acariciou seu pêlo listrado, esquecendo de sua gula e admirando a vista da floresta colorida ao redor do rio de águas cristalinas chamado Rio de Ogulídell.

- A Lebre não quis vir? - Maise estranhou que a Lebre não estivesse intrometida no lazer deles, pois esse era seu costume.

- Ela está ouvindo as novidades por aí. - O Chapeleiro respondeu. - Aragon está com a Lebre para impedi-la de cometer algum erro.  Ele sabe que ela não é muito discreta.

- Pois bem. - Maise jogou a isca no lago e aguardou, agora notando que o Chapeleiro tinha o olhar vago, na certa, distraído com seus pensamentos. - E você, Chapeleiro, tem sido discreto? Não é bom chamar atenção para si em tempos como esses. Não se esqueça de que por pouco que não morreu queimado.

- Fico em casa na maior parte do tempo, Maise. - Ele suspirou e baixou o olhar verde, agora um tanto chateado com seu modo atual de viver a vida. - Ficar sozinho não é tão ruim, mas isso não quer dizer que eu gosto mais do que desgosto. Na verdade, às vezes me imagino voltando para o castelo de meu pai.

- Seu pai… - Maise travou quando percebeu que falaria coisas desagradáveis do Rei Magno diante do filho dele, o que também lhe fez travar ao lembrar do alerta dado pela Rainha Vermelha, que deixava bem claro que a rata jamais poderia magoá-lo, e tratou de camuflar suas idéias. - Você tem à nós, seus amigos como uma família. Aconteça o que acontecer, estaremos com você, Chapeleiro.

Maise desatou a rir quando sua vara de pescar mexeu, e o Chapeleiro sorriu para ela, feliz por ter tido a sorte de ser deixado aos cuidados da rata mais valente e fiel do País das Maravilhas.



Beatriz se colocou em frente ao espelho de seu quarto e admirou seus cabelos vermelhos soltos e longos, os olhos de fogo que guardavam uma mágoa frequente, e também a imagem de Gottan refletida logo atrás de si.

- Veja o que eu vejo por todos os céus, Gottan. - Beatriz levou a mão ao rosto triste. - Se imagine sentindo o fogo queimando constantemente o seu corpo, um poder quase incontrolável exigindo sair de si para matar até ter um pouco de satisfação. Você não faz idéia do quanto eu odeio me segurar e ainda ser vista como um monstro. Eles não entendem que não tenho como não queimar, não consigo segurar o peso do que me foi dado. E a verdade é que eu sempre tive medo do meu destino, sempre temi ocupar o trono de Rainha Vermelha, mas nunca foi me dado o direito de escolha.

- Somos o que somos. - Gottan se colocou ao lado dela e pôde sentir o calor daquele corpo aparentemente frágil e cinza. - Todos nós temos um peso à carregar, Beatriz, e isto não vai mudar só porque você não aceita ser quem é.

- E qual é o peso que você carrega, Gottan? - Beatriz o encarou de imediato, franzindo a testa e analisando seu rosto confuso. - Diga a verdade. Se todos carregam um peso, como você diz, qual é o seu?

Encarar os olhos de Beatriz ainda era intimidador para Gottan, e mais intimidador do que aquilo era a sensação de sempre se sentir encurralado quando conversavam, pois ele nunca sabia como responder as perguntas que ela lhe fazia.

- Eu não sei. - Gottan foi sincero e voltou a olhar para o espelho, agora analisando à si mesmo.

Suas grandes asas nas costas estavam fechadas e pesavam como nunca antes, seus ombros pendiam para frente aparentando estar cansado, e no seu rosto de traços finos não havia a mesma altivez de sempre.
Gottan levou um pequeno susto quando se deu conta de que parecia mais velho agora, e chegou também a esquecer da última vez em que sorriu com sinceridade.

The Queens (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora