A Lebre e Aragon estavam escondidas em baixo do trono do Rei Magno sem que ele se desse conta, e assim ambos ouviam toda a conversa que ele tinha com um dos conselheiros mais velhos.- Quero vê-lo. - Magno falou. - Se é na floresta da Vila onde o meu filho está, o trarei para junto de mim. Tenho planos longe daqui e não poderei ir sossegado se meu filho não estiver seguro em meu castelo.
- Alteza. - O Conselheiro passou a mão na cabeça sem cabelos, preocupado com a decisão do Rei. - A Rainha Charlote não gostaria de ver o príncipe aqui outra vez, e pense bem, sabemos que ele vive bem naquele lugar.
- Mas eu não vivo bem sem o meu filho!
Magno ficou de pé e apontou para todos os conselheiros sentados ao redor do salão.
- Vocês acham que eu me importo com o que Charlote vai pensar das minhas decisões?! Então eu sou o súdito de minha esposa?! Não! Eu sou o Rei do País das Maravilhas e todos me devem obediência!
As portas do salão se abriram para que o Chefe das Tropas, um centauro de semblante endurecido e lança na mão, entrasse apressado.
- Apollo. - Magno voltou a sentar em seu trono, alisando a barba que crescia agora um tanto grisalha. - Jamais lhe vi neste salão. Não me diga que meus guerreiros exigem mais casas para suas muitas companheiras.
- Antes fosse isso, Alteza. - A voz grave do Centauro causava tremores nos conselheiros ao redor, homens muito velhos que jamais confiaram nele. - Está havendo um grande incêndio outra vez, muitos morreram e o lugar já está sendo chamado de Floresta Negra.
Temendo os problemas que sua filha Beatriz lhe causava, Magno baixou o olhar e pensou no que fazer para pará-la, mas a verdade é que ele não sabia como trazer paz ao País das Maravilhas sem ter que matar a filha.
- Eles contestam sua soberania. - Apollo falou e trotou de um lado ao outro, bufando irritado. - Vamos atacar a Rainha Vermelha e acabar com o sofrimento da floresta e do povo! Devemos prezar pelo bem estar de todos!
Os conselheiros, cientes das crueldades de Apollo, cochicharam entre si sobre o quanto ele era uma farsa por fingir se importar com o povo, pois todos tinham consciência de que o centauro não trazia felicidade nem mesmo para a própria esposa. Sua ida ali e palavras tão bem elaboradas só lhe serviam para tentar mostrar que se sobressaia ao próprio Rei.
Magno arrumou a coroa na cabeça e lançou um olhar cortante ao centauro.
- Não diga ao Rei o que fazer. Se coloque no seu lugar antes que eu lhe jogue naquelas chamas.
A impaciência de Apollo sempre foi muito óbvia para todos, e não foi uma surpresa quando ele ameaçou avançar contra Magno, mas parou quando se deu conta de que tinha muito à perder se enfrentasse o Rei.
- Perdão, Alteza.
- Pois bem. - Magno estalou os dedos e o Coelho Branco surgiu segurando uma bandeja com taças e vinho.
Apollo engoliu sua raiva ao vê-lo se servir de bebida com tranqüilidade e falar preguiçosamente.
- Quero o meu filho junto de mim. Faça algo de útil, vá buscá-lo imediatamente.
Então, pegando todos de surpresa, um grito se fez ouvir de baixo do trono do Rei Magno, em seguida a Lebre saía correndo e pulando para longe dalí, fugindo de mãos que tentavam segurá-la e determinada a falar ao Chapeleiro o que ouviu.
- Peguem ela! - Magno gritava aos outros em vão, aturdido demais para se lembrar de que poderia tê-la parado com uma simples Ordem.
A Lebre fugia à toda velocidade do castelo com Aragon dentro de sua orelha direita, e a lagarta sacudia tanto que sentia que seus pensamentos estavam embaralhados em sua mente. Parar de correr não era uma opção, já que o tempo para ajudar o Chapeleiro era curto, e assim a Lebre chegou na vila e pulou a janela de Maise, caindo em cima da rata deitada no sofá e lhe dando um susto.
- Lebre! - Maise jogou a Lebre no chão e voltou a se virar para dormir. - Vá para lá com as suas loucuras!
- Mas é urgente! - A Lebre disse ofegante. - Onde está o Chapeleiro?! Maise, é urgente!
- O que houve? - Maise sentou no sofá de imediato. - O que você ouviu?!
- Acharam o garoto. - Aragon falou ao sair da orelha da Lebre, ainda tonto e vesgo. - Estão vindo pegar o Chapeleiro. Corra, Maise. Esconda o garoto agora mesmo.
- Não pode ser! - Maise deu um pulo do sofá e abriu a porta para sair, mas a fechou quando ouviu o trote de cavalos entrando na vila. Alarmada, ela foi para a porta de trás.
Mais escapou pela floresta e correu em direção à casa do Chapeleiro ali próximo, mas se escondeu por detrás de uma árvore quando viu Apollo e outros guardas diante do jovem.
Maise acreditou que choraria quando a angelical voz do Chapeleiro pôde ser ouvida.- Apollo, há quanto tempo não lhe vejo! Você gostaria de conhecer a minha casa?
- Levem o bastardo! - Apollo exclamou para os guardas e seguiu o caminho de volta.
- Desculpe. - Um dos guardas disse ao Chapeleiro quando notou o quanto ele estava triste por ter sido mal tratado por Apollo. - Menino Chapeleiro, você cresceu e se tornou um jovem forte, e agora o seu pai quer lhe ver.
- Só agora? - O Chapeleiro perguntou com a voz mesclada à tristeza, e enfim seus olhos verdes encontraram Maise correndo até ele desesperada. - Ah, Maise.
- Não vou permitir que o leve! - Maise se colocou na frente do Chapeleiro e empunhou sua espada contra os dois guardas. - Avisem ao Rei que se quiser ver o garoto, pois que venha até aqui! Ninguém vai tirar o Chapeleiro do pedaço do mundo dele!
- Hei! - Apollo retornou ao ver que demoravam e se enfureceu quando encontrou Maise pronta para um combate. - Matem logo essa rata e peguem o garoto!
- Não! - O Chapeleiro exclamou.
- Vocês só poderão tentar! - Maise respondeu e ameaçou cortar um deles com sua espada. - Não sou das mais fracas, seus montes de bosta!
E foi naquele momento que Apollo rugiu de raiva e correu para atacar Maise, mas o Chapeleiro se colocou na frente da rata e acabou por ser atingido no braço direito com os cascos do Centauro.
Maise gritou assustada e segurou o rapaz, Apollo se afastou receoso por ferir o filho do Rei e os guardas estavam paralisados diante daquela cena. O sangue no braço do Chapeleiro o assustou, e trêmulo, ele caiu no chão e engoliu o choro.- Não é nada. - Sua voz soou embargada e seus olhos derramaram as lágrimas sem que ele quisesse.
- Oh não! - Maise encarou com ódio o centauro Apollo. - Veja o que você fez! Suma da minha frente antes que eu arranque a sua crina, seu maldito!
- A culpa é da rata! - Apollo apontou para ela, orgulhoso como era, e logo se recompôs e fez o que achava mais conveniente no momento. - Prendam a rata e peguem o garoto! Façam isso agora mesmo!
- Vá embora! - O Chapeleiro exclamou contra Apollo, mas já era arrastado pelos guardas e outros vinham para prender Maise. - Parem! Maise! Soltem a minha Maise! Maise!
O grito de dor que escapou dos lábios do Chapeleiro quando tocaram seu ferimento pôde ser ouvido por toda a floresta, em seguida o centauro Apollo tombou para trás numa queda brusca e desajeitada. Seu cérebro parecia ter congelado e o corpo não obedecia mais os movimentos. A garganta se fechou e os olhos sobressaltaram, ainda jogado no chão como se um peso sem igual o esmagasse.
Só então ele se deu conta de que o Chapeleiro dizia diversas vezes a mesma frase, enlouquecido e aos prantos.- ORDENO QUE VÃO AO CHÃO! ORDENO! EU ORDENO QUE CAIAM! AH! ORDENO! ORDENO!
Os gritos rasgavam a garganta do Chapeleiro, agora curvado no chão e sendo acolhido por uma Maise tão surpresa quanto os outros, mas pronta para protegê-lo de tudo.
- ORDENO QUE VÃO EMBORA E NUNCA MAIS VOLTEM!
Um estalo atingiu a cabeça de Apollo, como se fosse preso por um encanto, em seguida ele corria para longe, obediente à ordem da Realeza.
Maise viu com espanto todos indo embora apressados, em seguida abraçou o Chapeleiro o mais forte que podia até que ele estivesse calmo.
Nem mesmo em seus sonhos Maise acreditou que o Chapeleiro pudesse dar Ordens de Soberania, mas então ela se lembrou de que, ainda que ele não fosse filho da Rainha, era o filho do Rei e, mesmo que ele fosse apenas um príncipe ainda, seu poder havia despertado de modo inexplicável.
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The Queens (Em Revisão)
FantasiThe Queens conta a história de Bianca e Beatriz, as princesas que erguerão seus reinos sobre o País das Maravilhas.