Gottan voou ao redor do castelo branco, buscando alguma janela que pudesse entrar, mas muros de gelo bloquearam todas elas, inclusive as portas.
Por mais que procurasse caminhos, de nada adiantava, não havia como entrar ou sair, e a nevasca só dificultava sua capacidade de enxergar direito.
Ele pousou nas portas principais e acabou por afundar até os ombros na neve fofa, o que lhe causou tremores e falta de ar. Porém, suas chamas voltaram a surgir e a neve derreteu ao seu redor, somente assim Gottan poderia andar, tomando cuidado para não escorregar com a água que se formava do gelo.
Sua mão tocou uma das grossas portas de gelo e mais fogo surgiu, no entanto, aquele seria um trabalho demorado e tempo era algo que ele não tinha mais.Como Rei Branco, posso ordenar sobre esse gelo? Oh, só assim eu poderia chegar a tempo! Mas, como eu poderia? Meu corpo é como uma chama sempre viva, sequer tolero a frieza deste castelo. Quem sobreviveu? Quantos deles? Não houve tempo! Bianca, por favor pare com isso!
Numa vista de cima era possível ver que o gelo tomava conta de todo o território do País das Maravilhas, cobrindo os lagos, florestas, casas e até mesmo o castelo da desaparecida Rainha Vermelha.
Não havia mais gritos de socorro, o silêncio era cortado apenas pelo som do vento, causando uma tristeza maior ainda nos poucos sobreviventes.- BIANCA! - Gottan estava desesperado para entrar e exausto de conjurar tanto fogo e não conseguir derreter nem o suficiente para atravessar a mão. - EU ESTOU AQUI!
De súbito, a nevasca parou de cair, o vento cessou e Gottan desabou no chão quando a grande porta de gelo começou a quebrar e cair de forma perigosa.
Num impulso rápido ele se arrastou para longe quando pedaços imensos e pesados tombaram perto dele, e água por pouco não o afogava. Um grunhido desesperado escapou de sua boca, ele ficou de pé e adentrou o castelo sem pensar em mais nada. Correu pelo salão, não deixando de estar chocado com os corpos dos criados que morreram de frio, o que só lhe fazia acreditar que apenas Bianca restara viva naquele lugar.
Os degraus das escadas estavam escorregadios, só restando a Gottan voltar a abrir suas asas e voar tão rápido quanto antes. Ao dobrar no corredor que dava acesso ao seu quarto, um impacto desconhecido o lançou contra a parede.- Você voltou. - A voz de Bianca soou no corredor.
Dolorido e ainda no chão, Gottan abriu um dos olhos e se assustou ao ver o estado da esposa. A porta de gelo do quarto estava despedaçada e com pontas perigosas, o gelo no chão do corredor parecia vivo e crescia para as paredes, e a mulher tinha o corpo inteiro endurecido e congelado.
Seus cabelos brancos já não eram mais sedosos, estavam assim como a neve, densos e sem brilho, a face estava mais branca que nunca e opaca, e seus olhos eram apenas branco, sem nenhum sinal expressivo.- Você me deixou tão sozinha, Gottan.
- Estou aqui. - Ele levantou e ergueu uma mão na direção dela, receoso com até mesmo a mínima atitude de Bianca. - Voltei para você, meu amor. Vamos descansar agora, está bem?
- Claro. - Um largo sorriso foi dado por Bianca, e o rosto endurecido voltou ao seu estado normal, assim como os seus olhos, agora cheios de lágrimas. - Mandarei que preparem a nossa refeição, e depois de comermos poderemos sair para ver os jardins.
- Os...
E foi naquele momento que Gottan se deu conta de que Bianca não fazia ideia das coisas que tinha feito, das mortes que causou e da grande mudança que se abateu sobre o País das Maravilhas. O que fazer? Como dar a notícia a ela sem lhe causar um novo surto?
- Deixe que eu falo com os criados. - Gottan decidiu tomar tempo, foi até Bianca e lhe abraçou com força. - Teremos um belo jantar, eu garanto.
- Ah, Gottan, você voltou tão gentil. - Ela se encolheu nos braços dele. - Eu lhe amo tanto!
Um suspiro escapou dos lábios de Gottan, estava cansado, preocupado e com o coração ferido. Tudo o que ele queria era não estar ali, queria poder abrir as suas asas, como disse uma vez, e voar para bem longe, mas não podia, na verdade, não poderia fazer isso nunca mais. As lágrimas brotaram em seus olhos quando ele cogitou todas as possibilidades de uma vida feliz, e beijou o topo da cabeça de Bianca para depois lhe dizer:
- Eu também, meu amor. Eu amo você.
O Chapeleiro correu para abraçar Maise assim que a viu descer as escadas, e notou que ela tinha preocupação no olhar.
- As fadas, sereias, tantos outros. - Ele a soltou e enxugou as lágrimas. - Precisamos sair, Maise. Temos que procurar por eles. Você não acha vergonhoso estarmos aqui, em segurança, quando os nossos amigos estão morrendo? Vamos sair depressa!
- Não podemos. - Maise tratou de negar veementemente. - Nem pense em sair por aí e correr riscos! Você vai ficar aqui muito bem aquecido e protegido do que há lá fora.
- Não encontro Chershire. - Ele bufou. - Não vejo a Lebre ou Aragon. E os gêmeos? Como você pode não querer procurar os nossos amigos?! Pare de magoar o meu coração! Você não é egoísta desta maneira!
Charlote passou por Maise e apontou para o Chapeleiro sem hesitar.
- Ordeno que vá para o seu quarto.
A Ordem caiu sobre o Chapeleiro e seus olhos verdes ficaram vidrados, em seguida ele subiu as escadas e foi para o seu quarto.
- Por favor... - Maise não disfarçava sua raiva naquele momento. - Não faça isso com o meu menino. O Chapeleiro não merece perder seu senso de independência. Deixe isso para o restante de nós.
- O que você queria? - Charlote deu um passo na direção da rata. - Preferia que eu deixasse ele sair para morrer congelado? Eu não me importaria com isso, mas Magno jamais me perdoaria. Você deve me agradecer por Ordenar sobre o bastardo, já que tem tanto amor por ele.
Ainda que não concordasse com aquilo, Maise se conformou com o desfecho, pois era o meio mais fácil de manter o seu menino seguro.
- Vossa alteza tem razão. Obrigada por protegê-lo e me perdoe a estupidez, minha Rainha.
Naquele momento seus pensamentos já estavam nos outros que não puderam chegar no castelo. Ah, a pobre Lebre era tão pequena ainda, e ainda havia os gêmeos, tão garotos e completamente humanos.
- A nevasca parou! - Ouviram gritar no salão lotado e Maise encarou Charlote com determinação.
- Com licença, estou saindo para procurar os meus amigos.
A rata deus às costas à Rainha e abriu as portas, dando espaço para a neve entrar, em seguida passou por cima dela com pressa e medo de não encontrar os outros vivos. Porém, Maise não estava disposta a desistir, pois as palavras do Chapeleiro foram sua grande motivação para lutar pela vida de seus amigos.
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The Queens (Em Revisão)
FantasíaThe Queens conta a história de Bianca e Beatriz, as princesas que erguerão seus reinos sobre o País das Maravilhas.