Fogo nas Masmorras

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Passos se faziam ouvir pelo corredor das masmorras, chamando atenção dos muitos guardas por perto. O calor intenso era quase insuportável, o cheiro de queimado fazia com que ficasse difícil respirar e quanto mais ele se aproximava da grade da cela, pior ficava aquela sensação.

- Não há como se aproximar mais, Senhor. - Um guarda falou com a voz trêmula. - As chamas estão ultrapassando as grades.

Os olhos dourados de Gottan lançaram um olhar de tédio para o guarda.

- Seu grande covarde. Está tremendo como um animal assustado.

Gottan seguiu em frente até estar no pequeno corredor depois da curva e viu as chamas para além das grades vermelhas por conta do calor.

- Beatriz! - Ele a chamou uma vez. - Beatriz, sou eu, Gottan!

As chamas não apresentaram mudança, mas grunhidos no quarto se fizeram ouvir. Gottan insistiu, decidindo não sair dali sem falar com ela.

- Eu quero conversar! Me deixe entrar e assim poderemos falar!

Receoso com as chamas que aumentaram no corredor, Gottan deu um passo para trás e levou a mão ao rosto para se proteger.

- Beatriz! Me deixe entrar!

Temendo não ter sucesso, Gottan deu mais um passo para trás, mas se surpreendeu quando as chamas desapareceram das grades ainda vermelhas e quase derretidas.
Engolindo em seco, Gottan deu alguns passos à frente e ficou diante da grade, vendo agora Beatriz agachada e encolhida no canto extremo do chão do quarto e lhe encarando de volta. Aqueles olhos vermelhos brilhavam como fogo derretido, ainda mostrando não ter controle sobre seu poder.
Tentando não mostrar seu medo, Gottan abriu as grades quentes com ajuda de sua espada e entrou no quarto com as mãos erguidas, agora incapaz de encarar Beatriz ao se dar conta de que ela estava nua.

- Suas roupas…

- Queimaram. - A voz de Beatriz estava rouca e fumaça saia de sua boca quando ela falava. - Isso não é óbvio, seu idiota?

Ainda mantendo os olhos no chão, Gottan assentiu com a cabeça e buscou formas de falar sem que fizesse com que ela se irritasse e voltasse a queimar.

- Queremos ajudá-la. - Ele começou a falar. - Nos diga o que podemos fazer para que você consiga controlar sua magia.

- Vocês querem me ajudar? - Beatriz olhou ao redor, em seguida riu sombriamente. - Só vejo uma pessoa aqui e essa pessoa nem mesmo faz parte da minha família.

Fogo surgiu em seu corpo nu quando Beatriz ficou de pé e se apoiou na parede, fazendo com que Gottan lhe encarasse à contra gosto, temendo por sua vida.

- Que conveniente mandar um capacho da realeza para morrer quando seus argumentos não surtem efeito. O Rei deve estar aliviado por ter escudos vivos para confrontar o monstro.

- Não sou um capacho e ninguém me mandou aqui. - Gottan lutava para não desviar o olhar daqueles olhos de fogo.

- Ah não? Por que você está aqui, Gottan? Você tem esperanças de ter a aprovação do meu pai para se enfiar entre as pernas da minha irmã depois que me “ajudar” a acabar com essa maldição?

Alarmado com as inadequadas palavras vindas de uma garota tão jovem como Beatriz e também pelo fato de as chamas estarem aumentando no corpo dela, Gottan negou com a cabeça e tentou argumentar o melhor que pôde.

- Seus pais estão muito abalados para vir, assim como Bianca. Aliás, eu não tenho segundas intenções com a sua irmã.

- NÃO MINTA PARA MIM!

A boca de Beatriz se abriu mais que o normal, fogo saiu de lá e foi na direção de Gottan, que fechou suas asas em volta de si e se abaixou assustado com aquele ataque.
Quando voltou a abrir suas asas, elas queimavam intensamente, mas ele não sentia dor e para a surpresa de Beatriz, Gottan tinha fogo intenso nos olhos dourados.

- Nós somos mais parecidos do que você pensa, Beatriz.

Paralisada diante de Gottan, Beatriz sentiu uma ponta de reconhecimento quando ele fez surgir fogo de uma das mãos, fogo esse que cresceu e também tocou o teto.

- Tenho uma duplicidade desde que nasci. - Gottan lhe falava e agora apontava para os olhos em chamas. - Tenho a aparência de um ser puro, controlo o vento ao meu favor e tenho asas, mas também posso controlar o fogo e mudar completamente quando estou irritado. O que eu quero dizer é que posso lhe ajudar a controlar esse poder, Beatriz. Me deixe fazer isso por você.

As chamas que vinham de Beatriz voltaram a sumir, tamanha era a sua surpresa diante daquela descoberta.

- Você não pode me ajudar, ninguém pode.

- Está com raiva. - Gottan se livrou do fogo e seus olhos em chamas voltaram a ser dourados e gentis. - É por isso que você não consegue se controlar. A raiva dentro de você lhe faz querer queimar.

- Sim! - Beatriz admitiu irritada, sentindo o fogo querer surgir novamente de dentro de si. - Estou com uma raiva frequente, um ódio que surge dentro de mim e me faz querer queimar tudo que estiver vivo na minha frente! Quero queimar quem me abandonou dessa maneira! Quero queimar os culpados por eu ser assim!

- Não existem culpados. - Gottan falou e deu um passo para trás quando Beatriz o encarou com ódio. - Desculpe.

- Todos são culpados. - Ela disse entre dentes. - Mamãe, Papai, Bianca e até mesmo você! Todos são culpados por eu ter me transformado em um monstro! Lidem com o que vocês criaram, apenas lidem com isso!

De imediato, Beatriz começou a queimar tanto que Gottan não teve outra alternativa a não ser sair dali às pressas, deixando ela sozinha e gritando tão alto quanto antes.

- EU VOU VOLTAR, BEATRIZ! EU GARANTO À VOCÊ QUE VOU VOLTAR!

Gottan saiu do corredor superaquecido às pressas e determinado a não desistir de Beatriz.

The Queens (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora