Se deparar com o sofrimento alheio não era lá uma novidade para Chershire, e tal costume o deixava tranquilo para lidar pacientemente com o Rei Magno, que insistia em soltar suas farpas na conversa fervorosa.
- Agora podem haver dois Reis no País das Maravilhas, mas ainda sou o mais poderoso. Você acha que não posso manter um mundo inteiro e os meus filhos com as duas mãos que me foram dadas? Está mesmo questionando a magnitude do seu Rei?
- Não vamos colocar o seu ego na conversa, Rei Magno. - Chershire respondeu e ignorou a expressão de fúria na face de Magno. - Pense por um instante nas atuais circunstâncias. Está aqui, sentado em seu quarto a chorar enquanto o País das Maravilhas está um caos e seus filhos estão bem longe de ceder aos seus propósitos. Sabe-se que o senhor não está acostumado a estar em um situação derrotista, tampouco admitiria esta realidade, mas não estou aqui para lhe fazer gracejos, o que significa que vou sim fazê-lo entender que está no fundo do buraco, pois, só estando consciente de todos os seus problemas arrumará uma forma de se reerguer.
Em choque por conta das palavras tão sinceras de Chershire, Magno não soube o que responder à ele. Nunca foi tão confrontado daquela maneira, nem mesmo por Beatriz!
- Me matar lhe traria prejuízos. - Chershire abriu um largo sorriso debochado quando notou que Magno lhe lançava um olhar mortal. - Quem gostaria de se livrar do sábio que sou?
- Alguém mais sábio que você? - Magno retrucou e passou a mão no rosto cansado. - Continue, me diga o que devo fazer para controlar Beatriz, dar paz à Bianca e trazer o meu filho para junto de mim. Dos três, apenas o Chapeleiro ainda é um princípe, o que significa que minhas Ordens poderiam cair apenas sobre ele. Isto é algo que me recuso a fazer, já deixo aqui bem claro.
- Esqueceu de algo. - O gato esticou as patas dianteiras com preguiça. - Está desesperado porque ainda não compreende que controlar seus filhos não é sua principal meta.
Filhos são como os frutos de uma árvore, foram feitos para cair. Certos frutos vão germinar e se transformar em novas árvores, já outros frutos vão apodrecer e, muito provavelmente, serão devorados por algum animal de gosto alimentar duvidoso.- Me recuso a acreditar nisso! - Magno rugiu como um bicho raivoso e bateu na própria perna. - Posso controlar todas as coisas! Eu sou...
- Um pai. - Chershire o interrompeu. - Ao falar sob Bianca, Beatriz e o Chapeleiro vossa alteza não é nada mais que isto, um pai que só pode esperar ser respeitado.
Batidas na porta tiraram Magno daquela conversa exclarecedora, em seguida a voz de um criado se fez ouvir.
- Rei Magno, sua presença foi solicitada no salão principal.
- Volte de onde veio! - Magno gritou contra o criado e sequer se moveu de sua cama, voltando a dar devida atenção ao gato quando ouviu os passos se afastando. - Você ainda não me disse o que devo fazer, gato.
- A Rainha Vermelha viverá em guerra contra a Rainha Branca, isto é de conhecimento de todos agora e sabemos que dificilmente esta situação irá mudar. Dois reinos em guerra num país de paz. Em algum céu o seu próprio reino não estará mais neste mundo, porém, aqueles dois reinos ainda estarão vivos. Quem nos dará paz, Rei Magno?
- Ninguém é digno de erguer o terceiro Reino de Soberania neste mundo! - Magno estava cansado de falsas esperanças. - O coração mais bondoso se encontra no peito do meu menino Chapeleiro e Charlote jamais aceitaria isto. E, ainda que meu filho subisse ao trono, quem seria tão bom quanto ele para dividir este fardo tão pesado?! A única forma de fazer com que o meu filho suba ao trono que governaria sobre os outros dois seria encontrar alguém como ele, mas que seja admirado aos olhos de Charlote! Quem sabe assim...
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The Queens (Em Revisão)
FantasíaThe Queens conta a história de Bianca e Beatriz, as princesas que erguerão seus reinos sobre o País das Maravilhas.