Capítulo 29.

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Saímos da casa da Carol, e fomos pra boca, quando cheguei lá já me sentei na minha cadeira, e fiquei esperando junto com os meninos os cara chegar.

- E aí, viado. - GB falou entrando, fazendo um toque comigo.
- E aí, minha puta. - Brinquei.
- Já tá tudo certo, né? eu trouxe meus homens.
- Sim. Pô irmão, obrigado mesmo! quando precisar de uma ajuda, tamo aqui. - Falei fazendo um toque com o mesmo.

Começamos a falar sobre o plano.

- Nós precisamos ver como vamos achar ela. - Eu disse.
- Não tem como rastrear ela, não? - GB perguntou.
- Não, o celular dela tá... - Fui interrompido.

Meu celular começou a tocar, era um número desconhecido.

- Me desculpem, vou atender essa porra. - Falei, e eles assentiram.

Peguei meu celular, e atendi.

- Alô? - Perguntei.
- Olá... como você está, meu amigo? - Reconheci a voz logo, DG.
- O que você quer, desgraçado? - Coloquei meu celular no viva voz.
- Calma calma. Que mau educado, nem pergunta como seu velho amigo tá, que feio. - Ele falou dando uma risada, mas logo depois parou. - Você sabe que eu estou com a princesinha, e nós sabemos que você não quer que ela se machuce. Você me dá seu morro e eu dou ela. - Encarei o celular sem acreditar. Os meninos me olharam assustados. - Hum... eu preciso pensar.
- Te dou só hoje. Amanhã eu te ligo.
- ESPERA! ela... ela tá bem? - Perguntei.
- Tá sim, quer ouvir a voz dela?
- Sim. - Então ele não me respondeu e depois de segundos, ouvi ela.
- Coringa, não aceite isto, ok? é o seu morro, por favor não aceite. - Ela gritou.
- Cala a boca, vadia. Quero você aqui, perto daquele galpão em que a gente vinha quando era moleque, mas venha sozinho e com 1 milhão. Se você vir com seus varporzinhos de merda, eu mato essa cachorra. - DG falou, e eu ouvi um barulho de alguém batendo no rosto dela, provavelmente foi ele. Me subiu uma raiva na hora, se eu já estava com vontade de matar ele, agora estou mais ainda.

Sem falar mais nada, ele desligou. Guardei meu celular, e olhei para os meninos.

- E aí cara, o que você vai fazer? - Binho me perguntou.
- Eu realmente não sei, cara... não posso perder minha comunidade, aqui é a minha favela, aqui é a minha casa! nasci e cresci aqui. - Falei nervoso.

Minha história não é uma das melhores, não é uma história feliz... aqui é só a realidade. Nasci aqui na comunidade, sempre amei muito ela. Quando eu tinha sete anos, eu vi minha mãe apanhando, imaginem... uma criança de sete anos ver e ouvir os gritos de sua mãe, foi desesperador, eu não sabia o que fazer, mas eu tentei ajudar ela.

Flashback

- Para, pai! você tá machucando a mamãe. - Falei indo até eles correndo.
- Saia daqui, vá pra seu quarto, filho. - Mamãe falou chorando.
- Não, mãe! ele tá te batendo, a senhora tá chorando. Não posso deixar a senhora sofrendo! - Falei.
- Cale a boca, moleque! quer vir apanhar no lugar da sua mãe, é? - Meu pai falou, dando uma risada.

Eu estava com muito medo, pois meu pai sempre me batia, e eu não fazia nada demais. Era sempre assim, eu ou mamãe apanhavamos por besteiras. No final, eu tive que ir pro quarto, mesmo querendo muito ficar com minha mãe. Lá do quarto deu para ouvir os gritos de mamãe, acho que a comunidade toda ouviu. Papai antes não era assim, ele era amoroso, se importava com a gente, e não batia a mãe, mas depois que começou a beber, tudo ficou ruim, assim que eu chegava de escola, eu ia jogar futebol na rua com os meus colegas, e quando eu chegava ficava com a mamãe, papai sempre chegava tarde e eu não tava com sono, e só por isso ele me bateu, mas bateu mesmo, mamãe tentou impedir, mas ele acabou batendo nela também. E foi assim que tudo começou, todo o nosso sofrimento, todo aquele inferno. Com o tempo eu fui crescendo, e mamãe ficando mais velha, chegou um certo tempo em que ela acabou adoecendo, e meu pai cagando pra isso. Assim que fiz 16, comecei a trabalhar, com um trabalho digno, mas não deu certo, então eu fui pro crime. Mamãe quando soube disso, ficou furiosa, e eu nunca tinha a visto assim, antes disso ela nunca tinha encostado a mão em mim, mas depois desse dia, ela me bateu, me bateu tanto, e eu fiquei com raiva dela, eu só queria salvar ela, pagar os remédios e quem sabe, sair daqui. A raiva passou, mas o meu sonho de sair daqui não. Eu comecei de baixo pô, ralei pra chegar onde eu estou agora... não é um bagulho que eu me orgulho muito, tá ligado? mas foi com isso que eu consegui pagar os remédios da minha mãe, e botar meu pai pra fora! o miserável nunca mais botou os pés aqui, e se botar eu quebro ele na porrada. Eu antes era um moleque sonhador, pensava que se eu entrasse pro crime ia ter dinheiro fácil, e daria dessa comunidade, mas quando eu vi já não tinha como sair mais. Só eu sei como eu sofri, e por isso eu falo, se meu filho quiser seguir meu caminho, eu não vou deixar, pois a vida do crime, no fim é a cadeia ou o caixão.

Amor na comunidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora