TEMPOS ATUAIS
Estacionei a minha moto em frente ao restaurante em que eu ia me reunir com meus novos parceiros de negócios. Desci e tirei o capacete.
A tarde estava quente e eu me espreguicei antes de olhar para o restaurante. De repente eu vi alguém que eu conhecia muito bem. Senti um peso dentro do peito. Lá estava ela após tantos anos. Seus cabelos agora estavam compridos e um pouco mais claros. Ela conversava com uma amiga. De forma distraída ela coçou o braço direito. A mulher com quem ela conversava disse algo engraçado e então ela riu, riu não, gargalhou. Aquela gargalhada gostosa que eu adorava ouvir, e diferentemente das outras pessoas, ela jogava o corpo para a frente quando ria. Depois observei atentamente quando ela empurrou as mechas revoltas com as pontas dos dedos como sempre fazia.
Continuei de pé olhando para ela do lado de fora do restaurante. Cinco anos e nada mudou, senti a mesma coisa que senti da primeira vez que a vi. Fiz um tipo de prece silenciosa para que ela virasse seu rosto para me ver e para que eu pudesse vê-la de frente. Como se Deus tivesse me ouvido, ela olhou para a rua e me viu. Pude perceber que pensou por um instante, seus olhos em mim, quando enfim ela abriu aquele sorriso que eu adorava. Sorri de volta para ela e ficamos assim por um bom tempo, ela do lado de dentro e eu do lado de fora sorrindo um para o outro. Ela fez um gesto e pude ler seus lábios: "O que você está fazendo aí?"
Apenas balancei a cabeça e entrei no restaurante. Estava nervoso como se fosse a minha primeira vez a falar com uma mulher. Fui em sua direção e ela se levantou e veio ao meu encontro. Parou na minha frente e me olhou. Senti vontade de fazer como sempre fiz, segurar seu rosto e beijar sua boca. O beijo mais gostoso que já provei em toda a minha vida.
– Meu Deus, você está vivo!
Ela sempre dizia isso quando nos reencontrávamos depois de algum tempo separados.
– Estou, firme.
– Você parece bem.
– Posso te dar um abraço?
Foi a coisa mais estranha do mundo, ter que perguntar para uma mulher que já foi minha se eu poderia abraçá-la.
– Claro que sim – e ela me abraçou. Passou seus braços pelo meu pescoço e eu a puxei pela cintura, baixei meu rosto até seu pescoço para sentir o seu perfume. Não a fragrância que ela estava usando, mas o cheiro característico dela, continuava o mesmo, delicioso.
– Quanto tempo, linda.
– Pois é, quanto tempo.
– Cinco anos.
– Nosso recorde.
– Pois é, mas antes tarde do que nunca – ela se afastou e eu olhei para seu rosto.
Melissa parecia mais madura, seu rosto mostrava algumas pequenas mudanças. Com certeza ela pensou a mesma coisa sobre mim, eu também mudei um pouco nos últimos cinco anos.
– Me conta, como vai a sua vida? – Ela perguntou sorrindo e cruzando os braços.
– Estou bem, meio que na mesma. O clube, o bar. Acabei de reformar a sede, está mais profissional.
– É mesmo? Que legal.
– Você podia ir lá conhecer. Você não viu os dois últimos.
– Você mudou de lugar duas vezes desde a última vez?
– Pois é, ficamos como ciganos, mas dessa vez a gente acertou, perto do metrô, com um espaço restaurante bem legal. Somos adultos agora.
– Que bom, fico feliz em saber que as coisas estão indo bem.
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Um tempo ao lado dela
RomanceFlávio se encantou por Melissa assim que a viu pela primeira vez. Sua rotina e seu status sempre o fizeram se sentir maior que o mundo, mas Melissa com seu jeito natural e desencanado o desarmou. Após anos de um relacionamento que não saiu do 0 a 0...