28 - EU SOU UM FILHO DE UMA PUTA

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Eu dormi na casa dela todos os dias daquela semana, eu aparecia no fim da noite e saía cedo, antes do Ian acordar.

Todas as noites compensamos os anos separados e foi como se nada tivesse mudado, o corpo dela reconhecia o meu e vice-versa. Porém na semana seguinte eu precisei me dedicar em cem por cento ao bar, as coisas estavam quase prontas, mas certos retoques apenas eu seria capaz de fazer, pois afinal, não seria apenas um restaurante, também seria a sede do moto clube que eu fundei. Eu soube também que estava sobrecarregando a Valentina. Ela por sinal estava se saindo muito bem, sinto pena do Clayton, presidente do outro clube, que perdeu uma menina de futuro. Nina, como a chamamos não tira o sorriso do rosto, mesmo após passar por poucas e boas com o ex namorado, ela se dedicou de corpo e alma ao nosso clube e acabamos desenvolvendo uma certa cumplicidade. Ela também foi um balsamo em meio ao estresse daqueles dias.

Nina estava animada, pois conseguiu passar na prova e pegar a sua carteira de motorista, fizemos uma pré-inaugurarão do bar apenas para comemorarmos entre os mais próximos dela, afinal, a menina merecia. Clayton, estava na comemoração e eu vi o momento em que ele e Valentina conversaram, logo em seguida ela ficou com uma carinha triste, eu soube na mesma hora qual era o motivo: um coração partido.

-Tem uma ruga de preocupação na sua testa – falei ao me sentar ao lado dela

-O Clayton me falou que viu o Jonas depois de dois meses, ele foi aparecer por lá logo hoje.

-E você queria ter notícias dele?

-Não vou mentir dizendo que não pensei nele hoje, foi ele quem me ensinou a dirigir.

-Manda uma mensagem para ele.

-Você acha mesmo que eu devo?

-Não que você deve, mas que você pode. Vocês compartilharam várias coisas, acho que não pode simplesmente esquecer tudo o que aconteceu.

Ela me olhou e sorriu.

-Você é demais, sabia?

-Nem tanto assim, Nina. Se eu seguisse os meus próprios conselhos muitas coisas seriam diferentes na minha vida.

-Quer conversar?

-Agora não, uma outra hora. Só acho que você deve escrever para um cara que deve estar na merda.

-Obrigada, prez.

-À disposição – dei dois tapinhas no joelho dela e me levantei.

Acendi um cigarro e senti falta de algo, foi quando me dei conta que não falava com Melissa há quatro dias. Eu simplesmente não liguei, e ela também não fez questão de ligar. Me senti irritado pelo descaso dela, Melissa sabia que eu estava correndo para finalizar tudo para a inauguração.

Depois que todos foram embora eu fui para a casa dela, já era de madrugada. Quando liguei para ela.

-Flávio? – Ela atendeu sonolenta.

-Claro que sou eu.

-Aconteceu alguma coisa?

-Eu estou estacionado na frente da sua casa.

-Sério? – Ela pareceu desperta dessa vez. – Eu estou descendo.

Melissa parecia cansada ao me receber.

-Você está bem?

-Estou sim, entra.

Entramos e eu a puxei para o meu colo quando sentei no sofá.

-O que foi que aconteceu?

-Eu não dormi bem esses dias, na verdade eu nem dormi nas três últimas noites.

-Por quê? – Afaguei as costas dela.

-O Ian ficou doente, uma febre não passava nunca, fui para o hospital na primeira noite e nada, depois ele começou a vomitar e foi terrível.

-E como ele está?

-Está melhor, ainda tem um pouco de febre, mas já voltou a comer. Dessa vez ele conseguiu me assustar.

-Por que você não me ligou?

-Você estava ocupado com as questões do bar, eu não queria te atrapalhar.

-Como assim atrapalhar? Como você fez com o menino?

-O Júlio ficou com a gente esses dias.

Aí eu me irritei de verdade.

-Como assim o Júlio ficou aqui esses dias?

-Ele ficou na casa dos fundos, ainda bem, pois corremos para o hospital todas as noites quando a febre piorava.

Eu já não estava mais ouvindo o que ela me dizia, eu estava com muita raiva.

-Você não me ligou, mas colocou outro homem para dormir na sua casa.

-Flávio, você está se ouvindo? – Ela perguntou indignada.

-Claro, você ficou quase uma semana sem me ligar e trouxe outro homem para dormir aqui.

-Não é outro homem, é o pai do meu filho. E você estava ocupado demais com as suas coisas.

-Como você sabe se nem se deu ao trabalho de ligar?

-Você não me ligou nenhum dos quatro dias, Flávio. Por que eu quem tenho que te procurar? Por que todas as vezes sou eu quem tem que correr atrás de você?

Melissa saiu do meu colo, irritada, ela apontou o dedo para mim.

-Eu jurei para mim mesma que nunca mais correria atrás de você. Eu tive noites terríveis preocupada com o meu filho. Você não sabe o que é ter um filho com dor ou febre e não saber como fazer isso parar, não sabe como é ter um filho chorando porque precisa fazer um monte de exames e está assustado. Eu agradeço a Deus pelo pai dele ser o Júlio.

Isso doeu muito mais do que qualquer tapa que ela poderia ter me dado. Eu sabia que ela se ressentia comigo, mas não sabia que essa mágoa era tão forte. Eu sei que ela tem razão, mas ainda assim eu me dei o direito de ficar irado.

-Sorte de vocês mesmo. São tão perfeitos, se completam, deveriam ficar juntos. Quem diria, para uma maluca você se tornou uma excelente mãe.

Me levantei e saí. Quando entrei no meu carro, orei para Deus fazer ela ir até mim. Que ela batesse na minha porta e dissesse que me ama, mas isso não aconteceu.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora