33 - E ELA VOLTOU

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ANTES

Melissa saiu do meu radar por meses. Pensei por diversas vezes ligar para ela. Saber se ela aceitaria me encontrar, fazer alguma coisa mais calma além das bebedeiras e saídas com o pessoal do clube. Nesse meio tempo eu passei por algumas situações que me fizeram enxergar um pouco além do que eu via antes. Amigos que não eram verdadeiramente amigos, mulheres que estavam comigo apenas pelo dinheiro e pelo status. Quando eu chegava no meu quarto à noite e deitava a cabeça no travesseiro eu percebia que não tinha conversado profundamente com ninguém. Aí eu lembrei do tempo em que conheci a Mel. A gente se divertia sem fazer nada, bastava estarmos juntos. De repente senti uma saudade sufocante. Nunca fiz o tipo sentimental, mas eu queria estar perto de alguém que conhecesse a mim de verdade.

Como se fosse por transmissão de pensamentos, na tarde em que pensei nela, ela me ligou.

-Mel, eu jurava que você nunca mais quisesse falar comigo depois do que aconteceu.

-Você se dá muita importância, cara pálida, eu tenho muitas coisas para me preocupar para pensar em ter raiva de você.

Eu sabia que no fundo, no fundo ela não se sentia assim em relação a mim.

-Quer colar aqui hoje? – Perguntei.

-Sim, eu estava te ligando justamente para isso, preciso sair um pouco da toca. Preciso de ar e de um pouco de uísque.

-Então venha e me faça companhia.

E ela apareceu naquela noite. Linda como sempre, um vestido preto curto e botas de cano alto, um casaco diferente que parecia algum pelo de algum bicho. Ela não usava mais aquela franja cobrindo seus lindos olhos. Seu sorriso mexeu com alguma coisa dentro do meu peito.

-Oi, linda – falei quando a encontrei na porta do meu clube.

-Oi, nossa como você está barbudo.

Sorri e passei a mão sobre a barba comprida que eu havia deixado crescer.

-Você ficou bem assim, combina com o personagem.

-Adoro você sem aquela franja escondendo seus olhos e essas sobrancelhas zombeterias.

-Quanta rasgação de seda – ela provocou e seguiu para dentro do bar.

Mel foi direto para a minha mesa e sentou-se ao lado da minha cadeira. Deu uma cruzada de perna que eu percebi que os poucos caras que estavam lá naquela noite ficaram babando. Sentei-me ao seu lado e segurei sua mão.

-Senti saudades, pensei que nunca mais fosse te ver novamente.

-Deixa de drama, Flávio. Você fala como se isso fizesse muita diferença para você.

-Faz, você é uma das poucas pessoas que eu sei que está comigo sem interesse.

Por um instante ela deixou a marra de lado e se tornou a Mel que eu conheci.

-Deve ser muito solitário.

-E é.

-É como ter alguém ao seu lado que te ignora. Alguém cujo status de relacionamento só parece verdadeiro no Facebook.

-Você ainda está com aquele cara?

Ela assentiu e fechou os olhos.

-O que está acontecendo, Mel? Ele está te machucando?

-Sim, mas não fisicamente, ele está acabando comigo por dentro.

Ver seu sofrimento me fez sofrer. Melissa não precisava de alguém que tirasse sua essência, alguém que a fizesse se sentir inferior.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora