5 - SERÁ???

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Continuei observando Melissa interagir com o menino. Ela disse algo engraçado que ele adorou ouvir, abaixou a cabecinha e gargalhou, a mesma maneira dela de gargalhar. Parece idiotice, mas senti carinho por aquele moleque. Eles conversavam como se ele fosse um adulto, ele olhava para ela com a cabeça de lado, assim como eu fazia quando prestava atenção as coisas psicodélicas que ela falava quando entrávamos em assuntos profundos, nos momentos em que eu admirava sua inteligência. Foi aí que algo me pegou. A última vez em que ficamos juntos estávamos tão bêbados que eu nem ela nem eu lembrávamos se usamos camisinha e tendo em vista que ele tinha cerca de quatro a cinco anos, ele poderia ser meu.

Continuei observando os dois, ele franzia o cenho como um adulto, e parecia muito com a maneira que eu fazia isso. Senti minha pulsação acelerar. Ela não seria capaz de me esconder algo tão importante por todos esses anos, principalmente quando liguei para ela pouco depois que ela ficou noiva.

Já que estava no bar, aproveitei para pedir uma dose de uísque, tomei em um único gole e me amaldiçoei por isso, estava ficando bêbado depressa demais. Talvez fosse por causa das emoções, da expectativa e do desejo desenfreado de falar com ela. Saber o que aconteceu em sua vida nos últimos cinco anos e por que ela não me ligou desde a última vez que nos falamos.

A raiva começou a tomar conta de mim, ela me abandonou, me esqueceu e seguiu a vida dela. Bom, eu também fiz questão de dizer que estava morando com outra mulher, mas isso nunca foi um empecilho para nós dois. Como ela mesma disse: "Eu nunca consegui dizer não para você".

Olhei cada detalhe do garotinho, os cabelos eram volumosos, diferentes dos cabelos de Melissa, se pareciam mais com os meus. Ele também tinha uma covinha, mas a dele ficava do lado direito do rosto. Mesmo longe percebi que seus olhos não eram tão escuros quanto os dela.

Melissa tirou um caderno e um giz de cera da sua bolsa e entregou para o menino, ele começou a pintar com a mão esquerda, ele era canhoto, assim como eu.

Droga, a cada instante a aflição aumentava em mim. Não sabia como agir. Olhei para a minha mesa, vi Rogério me olhar e lembrei que estava em uma reunião de trabalho. Mesmo contra a minha vontade voltei para a minha mesa.

-Conseguiu resolver o problema? – Perguntou em tom de brincadeira.

-Coisa do passado.

-Uma mulher?

-Sim, talvez algo mais.

-Amor antigo é complicado. Recentemente reencontrei minha primeira namorada, ela continua linda como sempre, acabou de se divorciar.

-E você teve sorte?

-Não, ela me dispensou. Está namorando um cara mais jovem que ela, parece até que estavam para se casar.

-É uma merda receber a notícia de que a mulher por quem você cai de quatro está se casando com outro filho de uma puta.

-Pois é. Mas posso te garantir, você se recupera. Basta conhecer alguma equivalente.

-É difícil. Já tive uma boa cota de mulheres e nenhuma se aproxima dela.

-Se ela é tão boa assim, por que você não a pegou para você?

-Porque eu sou um idiota, um galinha metido a besta que acha que as mulheres precisam rastejar até mim. Ela era diferente, nunca correu atrás de mim, sempre me deu o espaço que eu precisava, mas sempre que eu a chamava ela vinha.

-Um mal de nós homens, acreditar que elas sempre virão.

-Bom, vamos falar de trabalho?

-Bom, eu não posso ficar mais muito tempo, preciso encontrar alguém.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora