ANTES
Fiquei meses me recuperando, entre fisioterapia, dor, irritação, limitação, gente me sufocando e a ausência de liberdade.
Mesmo com todo o drama, Letícia não saiu do meu lado.
-Acho que você já pode retomar a sua vida, eu já estou bom o suficiente para me cuidar sozinho – falei assim que voltei para a minha casa, após uma longa temporada na casa dos meus pais para fazer o tratamento adequado.
-Você mal voltou a andar e já está me botando para correr? – Ela falou, mas não me pareceu ofendida.
-Não estou te botando para correr, eu simplesmente acho que você já ficou tempo demais vivendo a minha vida. Agora você precisa voltar a trabalhar, precisa voltar ao seu cotidiano.
-Eu sei disso, amor, mas eu ainda me sinto mal em sair e te deixar sozinho.
-Pode ficar tranquila, eu vou ficar bem.
E ia mesmo, já estava me reunindo com os caras do clube novamente e já estava tomando algumas decisões para mudar de vida. Depois do acidente percebi que a vida é muito curta, e que nós não sabemos qual será o dia da nossa morte, então resolvi deixar o trabalho que tanto ocupava a minha vida, fiz as contas e com o dinheiro que eu ia receber e as minhas economias eu podia investir em algumas coisas que me manteriam bem. Comprei um terreno para abrir um estacionamento, depois outro para fazer um lava-rápido. O Sérgio, membro do clube me falou para abrirmos um bar para usar como sede e eu gostei da ideia.
Não demorou muito para eu criar uma rotina e me adaptar a algumas mudanças. Precisei de um tempo para pensar em subir em uma moto novamente. Os meus amigos me incentivaram, alguns deles já passaram por maus bocados depois de um acidente de moto e juntos eles me fizeram voltar a ser quem eu era, mas é claro que muito mais cuidadoso, pois o processo para voltar a ser o homem que eu era não foi nada agradável.
Letícia continuou a frequentar a minha casa, logo após o acidente ela pareceu uma mulher doce, compreensiva, foi minha companheira em todos os momentos, mas bastou eu começar a ficar um pouco mais independente que ela voltou a pirar. Ela me ligava a cada hora querendo saber onde eu estava e com quem, começou a vasculhar o meu celular e a me interrogar. Acho que o tempo que passamos juntos durante a minha recuperação fez com que ela acreditasse que enfim eu a pediria em casamento. Eu sou mesmo um filho de uma puta, e ela ficar comigo não me obrigava a casar com ela sem sentir vontade.
No começo eu aceitei por me sentir em dívida, mas com o passar das semanas a minha paciência foi esgotando.
-Aonde você pensa que vai? – Ela gritou agarrando o meu braço quando avisei que ia encontrar os caras do clube.
-Eu já falei, vou me reunir com os caras.
-Onde?
-Eu não sei, eles estão me esperando lá embaixo e de lá a gente vai decidir para onde vamos.
-E por que você não me convidou?
-Por que é dia de reunião do clube, só vão os homens.
-Vocês vão para o puteiro, não é?
-Não fala assim.
Bem que era verdade, um dos caras estava prestes a ir morar com a namorada e a gente queria fazer uma despedida de solteiro para ele, mas a Letícia não precisava ficar sabendo disso. Eu me aproximei dela, segurei seu rosto entre as minhas mãos, dei um beijo em sua testa e falei:
-Estou indo, não me espere acordada – me virei e saí.
Claro que ouvi o som de várias coisas sendo quebradas dentro da minha casa, mas eu não podia culpá-la por isso, esse sempre foi o jeito dela, e tem certas coisas que não mudam.
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Um tempo ao lado dela
RomansaFlávio se encantou por Melissa assim que a viu pela primeira vez. Sua rotina e seu status sempre o fizeram se sentir maior que o mundo, mas Melissa com seu jeito natural e desencanado o desarmou. Após anos de um relacionamento que não saiu do 0 a 0...