30 - EU SOU UM IDIOTA

25 5 2
                                    

Eu fiquei tão irritado com a Melissa que ignorei a minha própria culpa. Eu não tinha o direito de falar com ela como eu falei, não tinha o direito de chama-la de maluca. A Melissa não era maluca. Quando nos conhecemos ela era uma menina doce e animada, depois de algum tempo ela tornou-se amarga e fria, mas eu compreendia os motivos dela. Agora ela era mãe e é claro que seu filho era muito mais importante que qualquer homem.

No dia da inauguração do "Mustang Selvagem", meu novo bar e sede do meu clube, liguei para ela pela manhã. Eu queria que ela viesse prestigiar o evento. Queria que ela reencontrasse meus amigos, queria mostrar para todo mundo que a Melissa voltou para a minha vida. Mas para um homem de quarenta anos, às vezes eu me comporto como um idiota.

Melissa não atendeu. Eu não sabia se ainda estava com raiva de mim, mas fui tomado pelo ciúme. Imaginei aquele idiota do Júlio se achando o responsável por ela. Fiquei imaginando se ele estava mesmo dormindo na casa dos fundos ou se ele se esgueirava pelos corredores até chegar ao quarto dela no meio da madrugada. Só o pensamento me deixou irritado.

Me enfiei de cabeça no trabalho. Eu queria que tudo estivesse perfeito, pois enfim depois de anos na comodidade eu resolvi ter um negócio de adulto.

Lino, Nina e eu começamos cedo e no começo da noite, tudo estava perfeito. O lugar encheu e todos estavam adorando a banda, o bar, tudo. Os membros do clube ficaram loucos com o espaço que criei especialmente para nós nos fundos do lugar.

Em certo momento vi Nina pensativa, olhando para o nada com a mão sobre o ventre. Imaginei como ela estava se sentindo após perder um bebê e ser magoada pelo homem que ela amava.

-Está tudo bem? – Perguntei invadindo seu espaço pessoal.

-Estou sim.

Sua voz era baixa e ela parecia tão frágil que senti vontade de protegê-la. Segurei seus braços com delicadeza.

-Obrigado por tudo, Nina.

Nina me olhou com admiração, seus lábios abriram um pouco e a imagem de uma mulher tão bela e jovem despertaram o meu lado macho, porém, imbecil. Me aproximei, meus lábios próximos aos dela.

-Flávio... – ela sussurrou.

E de repente aconteceu, eu a beijei. Nina se entregou ao beijo. Foi perfeito, pois percebi que tirei a preocupação de sua cabeça, não apenas isso, eu me senti mais leve.

-Eu devia pedir desculpas, mas acho que não vou – assumi ao me afastar.

-Eu não pediria – ela sorriu timidamente para mim.

Voltamos ao trabalho, mas eu não consegui tirar o beijo da cabeça e me peguei seguindo-a com o olhar. Quando percebia ela sorria. A atmosfera mudou ao nosso redor.

A banda começou a tocar e o fluxo de pedidos diminuiu. Olhei para Valentina e ela sorriu para mim, naquele instante lembrei-me da Melissa, como ela era quando nos conhecemos, Nina e ela tinham tantas coisas em comum e eu desejei sentir aquilo novamente. Só um gostinho de como era quando as coisas eram descomplicadas.

Fui até ela, segurei sua mão e a levei até os fundos do bar. Ela veio de bom grado. A puxei para um beijo quente e ela gemeu em minha boca. Foi o suficiente para um homem perder o controle. A sentei na mesa de bilhar e me coloquei entre suas pernas. Ela era quente e receptiva. Sua boca tinha um sabor diferente, sabor de juventude. Comecei a explorar seu corpo miúdo. Senti seus seios em minhas mãos, deslizei minha boca por seu pescoço e ela arqueou as costas vindo em minha direção. Voltei a beijá-la sem dar importância para o que acontecia do outro lado da porta. De repente ela se abriu e ouvi uma voz muito conhecida dizer:

-Olha quem eu trouxe para te ver.

Meu corpo reagiu no mesmo instante. Me afastei da Nina como se ela fosse fogo. Olhei para a porta onde estava Mel e o Ian segurando sua mão.

Seu lindo rosto estava pálido e em choque. Meu coração doeu quando percebi o que eu tinha acabado de fazer. Eu a magoei novamente.

-Mel, você veio – foi a única frase estupida que eu consegui formular.

-É, parece que sim, mas nós já vamos – ela disse furiosa, porém tentando não assustar o filho.

-Não, espera, por favor – implorei me aproximando dela.

Nina desceu da mesa envergonhada, se desculpou e saiu da sala de jogos.

-Me deixa explicar, Mel.

-Você não precisa me explicar nada. Eu devia saber que isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde, não sei como eu me convenci a acreditar que você tinha mudado.

-Mel, me escuta, por favor.

-Eu não tenho que te escutar. Eu vi – ela olhou para o chão balançando a cabeça. – Sabe o que é pior, é que eu coloquei o meu filho no meio dessa merda.

Ela se virou e saiu puxando Ian que olhava para trás sem entender nada.

Eu tremia sem saber o que fazer. Ela veio atrás de mim depois das merdas que eu falei. Ela trouxe o filho. Ela me pegou em flagrante me comportando como um completo idiota.

Em meio ao choque me forcei a correr atrás dela.

Mel já estava do lado de fora do bar olhando para rua, estava inquieta. Se eu não fosse tão durão eu certamente teria chorado.

-Mel, por favor – eu implorei enquanto seguia em sua direção.

-Não se aproxime de mim, Flávio.

-Eu nunca fiz isso antes, eu nunca beijei a Nina.

-E isso faz você se sentir melhor com o que fez? É essa a desculpa que você criou?

-Escuta, por favor, eu não sinto nada por ela, eu fiz isso porque ela me fez lembrar você, de como você era quando te conheci.

-Eu não sou mais aquela menina, Flávio – ela olhou para o filho que a observava com olhos atentos. – Se toda vez que você vir alguém que te faz lembrar a minha versão mais jovem eu estaria perdida por estar com você.

Um carro se aproximou e ela fez sinal para que ele parasse.

-Vamos, filho – ela falou abrindo a porta para o Ian entrar.

-Melissa, por favor.

-Não, Flávio, eu cansei, tá bom. Não sou tão corajosa como a Letícia que teve estômago para suportar suas merdas por tanto tempo.

E com esse tapa com luvas de pelica, ela entrou no carro e se foi.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora