ANTES
Todo filho de uma puta tem seus momentos de crise, inclusive eu.
Sair da casa da Melissa na surdina não foi o meu feito mais nobre, mas assumir isso não me redime da culpa. Nas semanas que se passaram depois daquele episódio eu sabia que não conseguiria mais ver as coisas como eu via antes. Tanto que assim que voltei para a minha casa terminei com a Jéssica.
-O que aconteceu? – Ela perguntou perdendo a compostura pela primeira vez.
-Não vai dar, Jéssica.
-Mas tem dado até agora, e tem sido muito bom. Duvido que qualquer outra mulher faria como eu faço.
-Isso não está em questão, eu só não quero mais. Acho que fomos muito além do que eu posso te oferecer.
-Mas eu não estou pedindo nada além do que já temos.
-Não, você acha isso, depois você vai começar a se preocupar demais comigo, aí vai se ressentir em ter que me ver com outra mulher, eu sei como essas coisas são e eu não quero isso para você.
Embora eu tenha feito isso com a Melissa.
-Você ama outra mulher? É aquela de quem todo mundo fala? A que quase te dobrou?
Como assim quase? A Melissa me dobrou por inteiro, tanto que eu sempre fugi dela.
-Olha, Jéssica, eu acabei de sair da cama dela, ainda sinto o cheiro dela pelo meu corpo e eu não quero nem me lavar para não perder isso, porque eu tenho quase certeza que eu fodi tudo de vez.
Jéssica me olhou como se eu fosse uma completa aberração.
-Você ama mesmo essa mulher?
-Merda, eu não consigo dizer essas palavras. Hoje ela me olhou com o olhar mais triste do mundo e disse que me ama, que ainda me ama mesmo depois de todas as merdas que aconteceram entre nós nos últimos anos. Ela chorou e sussurrou enquanto fazia amor comigo e eu não consegui sequer responder um "eu também".
Jéssica se ajoelhou diante de mim, segurou o meu rosto e me beijou. Me afastei, pois não queria perder o gosto da Melissa.
-Por favor, Jéssica, não faça com que isso seja pior do que já é.
Ela se levantou sem se abater.
-Que pena mesmo que você seja um covarde de merda, Flávio. Sorte da garota que não ouviu a sua boca estúpida dizer que a ama, pois isso só faria ela se sentir pior, porque você não honra o que tem dentro das suas cuecas. Fique aí então se martirizando sem ter sequer coragem de dizer que ama a pessoa que você ama.
Jéssica se foi e eu me senti solitário. Minha casa era fria quando eu estava sozinho nela, nem mesmo parecia um lar.
E como belo canalha que eu sou, me afoguei em uma garrafa de tequila, daquelas que tem um verme dentro. Eu me sentia como ele, um verme trancafiado em meio ao álcool.
Sérgio, meu vice-presidente apareceu na minha casa dois dias depois querendo saber onde eu havia me enfiado.
-Você está uma bosta, sabia?
-Grande novidade – respondi jogado no sofá fumando o terceiro cigarro seguido.
-Para de fumar igual a um louco.
-A tequila acabou ontem a noite. E eu não me sinto bem para sair e comprar outra garrafa.
-Você não se sente bem nem para um banho – ele retorceu a cara. – Você está fedendo.
-Eu não queria perder o cheiro dela.
-Dela quem?
-Da Melissa.
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Um tempo ao lado dela
RomanceFlávio se encantou por Melissa assim que a viu pela primeira vez. Sua rotina e seu status sempre o fizeram se sentir maior que o mundo, mas Melissa com seu jeito natural e desencanado o desarmou. Após anos de um relacionamento que não saiu do 0 a 0...