Um tempo ao lado dela

29 - ELA SE TRANSFORMOU

ANTES

Alguns meses se passaram e eu não tive notícias da Melissa, desde a noite em que ela saiu da minha casa sorrateiramente. Nesse meio tempo, eu enfim terminei com a Letícia, mas desta vez não tinha volta. Alguma coisa mudou dentro de mim depois daquele acidente, percebi que foi por muito pouco. Então resolvi viver a minha vida da maneira que eu achasse correto, independentemente de se for certo ou não. Definitivamente Letícia era um empecilho para a minha liberdade. Claro que teve muito choro, muito drama, e muitas visitas inesperadas na minha casa.

Melissa sempre dizia que a melhor coisa na vida era ouvir uma música que se gosta muito, fechar os olhos e dançar como se não tivesse mais ninguém ao redor. Eu sabia qual era a música favorita dela e no bar em que eu estava naquela noite tocou, "Wicked game". Não consegui parar de pensar em Melissa dançando de forma sensual como só ela é capaz de fazer. E naquela mesma noite, eu sonhei com ela. Acordei desnorteado e excitado, então na noite seguinte deixei o orgulho de lado e liguei para ela.

-Oi – ela atendeu sorridente.

-Oi, onde está você?

-Está ouvindo o barulho?

-Sim.

-Estou naquele bar, "A caverna".

-Estou indo até aí.

Desliguei, subi na minha moto e fui até "A Caverna" que é um bar que nós costumávamos ir quando ficamos juntos a primeira vez.

Não demorou para eu encontrá-la. Melissa dançava na pista atraindo a atenção de todos ao redor. Dessa vez ela se parecia com a minha Melissa, usando jeans e coturnos. Vi uma tatuagem diferente no ombro dela, uma rosa pequena e delicada. Me aproximei por trás e a abracei acariciando sua barriga. Sem pudor algum ela se esfregou em mim e eu fiquei de pau duro.

-Você faz isso com todos os caras? – Perguntei ao pé do ouvido.

-Eu sabia que era você, seu idiota – ela sorriu e virou a cabeça para me beijar.

Dançamos e nos beijamos o resto da noite, sem falarmos absolutamente nada. A levei para a minha casa.

-A Letícia e eu terminamos – falei assim que entramos.

-Por quê? – Ela perguntou arqueando uma sobrancelha.

-Eu não tinha mais condições de viver ao lado dela.

-Ela te amava.

-Eu sei disso.

-É uma pena – Ela falou com pesar.

-Por quê?

-Por nada, deixa para lá.

-Você estava sozinha essa noite?

-Sim.

Uma pontada de preocupação me atingiu.

-Você sabe que não é seguro você andar por aí sozinha.

-Eu não preciso de ninguém para cuidar de mim.

Não entendo por que ela parecia tão amargurada, mas não queria entrar em detalhes.

-Você está ficando com alguém?

-Eu estou namorando um cara, faz algumas semanas.

-É sério?

-Sim, eu cansei de ficar sozinha.

Eu não deveria, mas fiquei incomodado em saber que naquela noite eu era o outro.

-Como ele te deixa sair sozinha por aí?

-Já te falei não preciso de ninguém para cuidar de mim.

-Eu gostaria de cuidar de você – falei me aproximando e a abraçando.

-Você não consegue nem cuidar de si mesmo – ela provocou e sorriu.

-Não consigo mesmo.

Não sei quais eram os problemas que ela tinha com o novo namorado, mas eu o agradeço por isso, pois diferentemente das últimas vezes em que ficamos juntos nas quais ela foi fria comigo, desta vez ela parecia me amar, a forma como se entregou à mim, depois se aconchegou no meu corpo. Até me despertou de madrugada para fazermos amor.

Pela manhã eu não queria levá-la embora, queria que ela ficasse comigo, queria passar o dia com ela.

-Fica comigo – pedi.

-Não posso – ela simplesmente respondeu enquanto se vestia depois do banho.

Sem conseguir segurar, perguntei:

- Isso sempre acontece?

- Isso o quê?

-Você sair sozinha a noite enquanto tem um namorado?

-Ele não está nem aí para isso.

-Ele sabe que você fica com outros caras?

-Quem te disse que eu fico com outros caras?

-Você passou a noite comigo.

-Não é a mesma coisa de ficar com outros caras.

-É um relacionamento aberto?

-Ele não faz ideia de que eu saio com você, se ele soubesse com certeza não aceitaria muito bem.

Fiquei chateado, pois vi Melissa se transformar em uma pessoa igual a mim.

-Quer que eu te leve para a sua casa?

-Não precisa, tenho algumas coisas para fazer não muito distante daqui.

Ela me deu um beijo e saiu.