42 - DOU MINHA VIDA POR ELA

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Eu sei que um relacionamento é cheio de altos e baixos. Sei que há dias bons e dias ruins.

Mel e eu estivemos em momentos altos, bons e maravilhosos. Eu me esgueirava para seu quarto às noites, e nos finais de semana do Júlio ela ia para a minha casa para quebrarmos a rotina.

Estávamos deitados no sofá da casa dela quando eu falei:

-Quero dar o próximo passo.

Ela levantou a cabeça e me olhou.

-Que próximo passo?

-Quero me casar com você. Quero uma família. Quero um filho seu.

Vi o choque em seu rostinho.

-Flávio, só estamos juntos há dois meses.

-Não, Mel, estamos juntos há mais de dez anos. Eu já passei dos quarenta eu quero um futuro, e só vejo o meu futuro ao seu lado.

Melissa ficou inquieta.

-Não diga coisas que você não pode cumprir.

-Eu tenho total certeza que vai dar certo, Mel. Eu te amo, amo seu filho, amo o que a gente está construindo.

-Sei que você está nessa crise dos quarenta, está vendo seus amigos cansando e tendo filhos e está ficando para trás, mas isso é algo muito sério. E não somos só nós dois. Tem o meu filho também. Se a gente se casar, vamos dividir o mesmo teto, de verdade.

-Eu quero isso.

-Não sei - ela falou em pânico e eu deixei que ela se afastasse, eu não poderia deixar que ela pensasse que era uma crise idiota.

-Não precisa ser hoje, nem amanhã. Só quero que você saiba que eu quero isso.

-Preciso pensar, tá bom? Vou pensar.

Não vou dizer que não fiquei frustrado, claro que fiquei, imaginava que ela fosse dar pulos de alegria, me encher de beijos e dizer que também me ama. Desde que ela me deu essa última chance, ela não disse nenhuma vez que ama, nunca correspondeu, e olha que eu digo isso várias vezes todos os dias.

Mel ficou hesitante durante quase uma semana. Ela ergueu um pequeno muro, eu compreendia seu medo, mas ainda assim me magoava.

Eu ficava admirando seu rosto enquanto dormia, admirava cada movimento quando ela andava pela cozinha fazendo algo para a gente comer. Adorava quando ela cantava algo para o Ian. Meu coração estava cheio deles, por todos os lugares.

Em certo fim de semana saímos de madrugada desesperados procurando uma farmácia vinte e quatro horas, pois ela havia esquecido de comprar os benditos anticoncepcionais e já fazia dois dias. Encontramos uma não muito distante da minha casa, era o fim de semana do Júlio e a gente aproveitava cada segundo de privacidade. Então se ela esquecesse esses dois dias, certamente eu poderia fazer um filho nela. Eu queria, mas a decisão era dela.

Estávamos no balcão esperando a farmacêutica trazer a caixinha mágica, quando dois moleques de capacete entraram armados. Imagine que foi uma gritaria e todos ficamos apavorados. O telefone da Mel estava sobre o balcão, passava da uma da manhã e era uma chamada do Júlio, se o meu coração acelerou, imagine o dela. Um dos caras já nervoso apontou o revólver para a minha garota enquanto ela já levava o celular ao ouvido.

Eu não sei em que horas aconteceu ou como. Só sei que senti algo atingir o meu ombro. Atingir foi pouco, estraçalhar seria a palavra correta. Foi por reflexo, quando vi aquele imbecil atirar em direção a ela eu me joguei em sua frente. Eu jamais deixaria alguém fazer mal para a minha Mel, eu já tinha sofrido tanto para chegarmos neste ponto, não ia ser um vagabundo que a tiraria de mim.

Só que eu esqueci que não sou de aço como a minha moto.

O meu corpo caiu sobre o dela e eu senti outro impacto no meu outro ombro. A dor foi forte demais. E depois disso eu não sei o que aconteceu.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora