34 - CURTINDO UMA BAD

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Voltei para o bar e já estava tudo fechado e vazio.

Perdi duas coisas muito importantes naquela noite, a inauguração do meu bar e a confiança da Melissa.

As palavras do Júlio ficaram martelando em minha cabeça. Ela não estava sozinha, ela tinha alguém ao seu lado. E ele era um homem com quem ela quase se casou e com quem teve um filho. Um homem bem-apessoado, podemos assim dizer. Mas duvido que eles tenham a mesma química que nós temos.

Ele falou em tentativas de suicídio, mas eu nunca soube nada sobre tentativas de suicídio. Melissa sempre pareceu tão pra cima, tão cheia de vida. Eu não a deixaria pra baixo nem se eu pretendesse, Júlio não precisava se preocupar com isso, mas às vezes ainda lembro do que falamos na nossa última noite juntos há cinco anos "eu não tenho mais nada a perder".

Entrei no meu bar, peguei uma garrafa de Jack Daniels e fui para os fundos. Não foi uma boa ideia, pois dei de cara com a mesa em que coloquei a Nina antes de ser pego em flagrante.

-Você é mesmo um idiota, Flávio – falei comigo mesmo. – Por isso você está sozinho, por isso todos nessa hora estão em suas casas com suas esposas e filhos e você está olhando para o espaço vazio do bar que você inaugurou. Grande merda, cara – levantei a garrafa. – Um brinde a sua burrice – e dei um gole generoso.

O álcool desceu bem, me ajudou a aquecer o oco que se formou no meu peito. Não sei em que momento eu descobri que amava a Melissa, talvez tivesse sido há muitos anos atrás quando nos conhecemos, quando eu me sentia ansioso para falar com ela, como eu adorava leva-la para dançar, quando eu me sentia o cara ao ver como os outros tinham inveja da minha companheira. Conectei meu celular ao sistema de som do bar e comecei a tocar a playlist que me fazia lembrar da minha Mel. Quando tocou Kiss eu lembrei de como ela dublava "I was made for lovin' you". Quando tocou Scorpions, lembrei de como puxava seu corpo para junto do meu para dançarmos "Still loving you". Quando tocou Queen, lembrei de como ela performava com os meus amigos "Crazy little thing call love". Quando tocou The Doors, lembrei de como ela dançava "Roadhouse blues" só para mim.

Bebi tanto que nem consigo lembrar quando apaguei.

-Flávio, ei, acorda – ouvi alguém me chamar.

Os meus olhos pareciam cheios de areia e aminha boca tinha gosto de cinzeiro. Quando minha visão se ajustou vi que era Nina.

-Oi – falei sentindo vergonha de mim mesmo.

-Você está bem?

-Não mesmo.

-Quer ajuda?

-Não, obrigado, ninguém pode me ajudar nesse momento miserável.

-Não deu certo?

-Claro que não, eu consegui estragar tudo.

-Mas ela te ouviu?

-Como ela poderia me ouvir depois do que ela viu?

-Me desculpa, Flávio, eu não devia ter deixado as coisas chegarem naquela proporção.

-Não esquenta, fui eu quem provocou.

-Se quiser eu posso falar com ela.

-Valeu, mas eu mesmo tenho que arrumar isso. Sem contar que o cara com quem ela tem um filho ainda me deu uma chamada daquelas.

-Como assim?

-Eles são amigos, ela estava sofrendo e ele estava lá para ouvir e consolar. Isso faz eu me sentir ainda pior.

-Sinto muito.

-Está tudo bem, eu só preciso me sentir um pouco mais digno para poder correr atrás do prejuízo.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora