36 - TENTANDO UM CONTATO

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Fui pego de surpresa quando meu telefone tocou, era Manu, a esposa do Lino.

-Oi, Flávio.

-Manu? Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

-Não, está tudo bem. Estou ligando, pois acho que o assunto te interessa.

-Me fala.

-Eu estive com a Melissa essa tarde, nós saímos para almoçar.

Com isso ela conseguiu atrair a minha atenção.

-O que vocês falaram?

-Bom, ela estava curiosa sobre a minha gravidez. E eu sentia saudades dela também, você sabe perfeitamente que ela sempre foi a melhor garota com quem você ficou.

Eu sabia disso, pena que só compreendi muito tempo depois.

-Como ela está?

-Ela me pareceu bem, pelo menos fisicamente. Então ela perguntou sobre você. Sobre como foram seus últimos anos. Eu achei um pouco estranho, pois o Lino havia me contado que vocês se reencontraram e até sobre o que aconteceu no dia da inauguração do bar.

Já fazia quase duas semanas desde a fatídica noite que a Mel saiu correndo do meu bar.

-Nós ficamos juntos por um tempo, até acontecer o que aconteceu. Não sei também por que ela queria saber sobre mim.

-Acho que ela queria ter certeza se você tinha realmente mudado, ou se continuava a ser o idiota de antes.

-Muito obrigado.

-Disponha. Mas você sabe que sempre foi um idiota e que todas as suas mulheres saíram da sua vida sem sequer conseguir olhar para a sua cara.

- Eu fui atrás dela, mas o Júlio falou para eu não me aproximar, para dar um tempo para que ela pudesse pensar.

-Ele está morando na casa dos fundos.

Senti o ciúme me corroer, mas eu não podia fazer nada, estava em débito com ela, bom, sempre estive em débito com ela.

-O que ela falou sobre ele?

-Eles são muito amigos, mas não há nada entre eles.

-Menos mal.

-Mas acho que isso não te ajuda muito. Nós conversamos sobre a atual condição dela e eu descobri algumas coisas que acho que você ainda não entendeu.

-Sobre a Melissa?

-Sim. A Melissa parece o tipo durona, sempre se mostrou um lado forte e destemido, mas essa não é toda a verdade.

-Eu não estou entendendo.

-A Melissa passou por poucas e boas e você nunca soube, ou se soube simplesmente ignorou.

-Manu, para de me enrolar e fala logo.

-A Mel sofre de transtorno de humor. Ela tem altos e baixos. Todas as vezes que ela sumia era alguma coisa que a deixava mal. Mas quando eu digo mal, é mal de verdade. É uma patologia, Flávio.

Fiquei sem saber o que falar, sem compreender a princípio. Depois puxei pela memória os momentos em que Melissa perdeu o controle. A maneira como ela se divertia em excesso, de como parecia nunca ter medo, como ia até o limite quando estávamos juntos. Mas também havia momentos em que eu via toda a sua vulnerabilidade, como quando a levei para aquele encontro estúpido com o Pablo e a outra garota. A maneira como ela ficava sentimental quando se sentia rejeitada. Geralmente ela sumia quando eu pisava na bola.

-O Júlio havia falado algo sobre duas tentativas de suicídio.

-Isso não seria de se estranhar, geralmente quem sofre com esse tipo de patologia tende a ter pensamentos suicidas.

Um tempo ao lado delaOnde histórias criam vida. Descubra agora