CAPÍTULO 1 - PASSADO NEGRO

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||CASSIE||

March 05, 2018. Toronto, Canadá.

"APERTO AS MÃOS do Noah que estão tremendo tentando lhe tranquilizar, mas quando o cano da arma do bandido encapuzado bate no vidro do nosso carro eu pulo do banco do carro assustada e o tremor de seu corpo piora. Papai e mamãe levantam as mãos e pedem que não façam nada conosco, que eles podem levar tudo que quiserem mas que deixem eu e meu irmão mais novo sair do carro. Mas quando os olhos negros do bandido que está de jaqueta preta encontram os meus, através deles eu sinto que eles não vão atender seus pedidos. Os bandidos gritam pedindo para passar tudo e o minha angustia aumenta.

Um deles apontam a arma na cabeça do meu pai e minha mãe se desespera chorando e insistindo que deixem nós sairmos do carro ilesos. No mesmo instante um deles reconhecem que ela é policial. Minha respiração para ao vê-lo com muita raiva e apontando a arma destravada na cabeça da minha mãe. Aperto ainda mais as mãos do meu irmão e tampo seus olhos com medo do que pode vir. Tudo passa em camera lenta.

O bandido atira.

O barulho do tiro ecoa na minha cabeça e eu fico imóvel ao ver a minha mãe cheia de sangue no banco do carona, meu pai grita desesperado segurando seu rosto e vejo minha mãe lutando contra a morte, tentando respirar.

Meu corpo acorda do transe e me inclino com as mãos trêmulas e gritando para que mamãe não morra. Sem eu perceber meu irmão pega seu gameboy e joga na cabeça do bandido que atirou "você machucou a mamãe" sem pensar duas vezes o bandido atira acertando um tiro no peito do meu irmão de apenas 6 anos. 

E a minha vida simplesmente acaba ali.

Meu pai grita sem forças, avança para o banco de trás segurando o corpo do meu irmão e vejo minha mãe fechar os olhos depois de sussurrar "Eu amo vocês".

Eu grito ao ver o meu irmãozinho cheio de sangue ao meu lado, meu pai sacudindo e pedindo a Deus que ele não morra.

Parece um filme de terror.

Parece que eu entrei em um buraco sem fundo. Estou afundando aos poucos e ficando sem fôlego, sozinha e desesperada.

O outro bandido grita brigando com o que atirou falando que ele não deveria ter atirado no menino. Depois os dois sobem na moto e sai levando com eles parte da minha vida, que morreu junto com minha família."

ACORDO ASSUSTADA puxando o fôlego quase sem ar como acontece quase todos as vezes. Esse pesadelo me assombra há anos, relembrando o trágico dia que parte da minha vida morreu. Sento na cama e passo as mãos pelo rosto, vejo que o sol ainda não nasceu e sei que não vou conseguir pregar os olhos novamente. Pego o celular no criado mudo e vejo que ainda são 4:30 AM, decido levantar já que voltar a dormir não é uma opção. Como está tudo escuro, eu tropeço na garrafa de bourbon e metade dela se esparrama pelo chão.

- Droga.

Vou até o banheiro e pego um pano de chão qualquer e limpo a cagada que eu fiz. Caminho até a cozinha e abro a geladeira analisando o que eu ainda tem dentro dela, preciso fazer comprar mais tarde sem falta. Pego a garrafa de leite e o resto de geléia no fundo da geladeira, enquanto faço torradas aperto uma das teclas do telefone para ouvir meus recados da secretária eletrônica.

"Cassie a onde você estava ontem a noite? Te liguei igual um louca e deixei milhares de mensagens no seu celular. Me liga assim que ouvir isso, estou preocupada. Por favor esteja viva. Beijos, te amo."

Sorrio com a mensagem exagerada da Lou, minha única amiga. Deleto e passo para o próximo recado.

"Oi filha, espero que esteja tudo bem, você não me liga a dias... (suspiro) Eu queria saber se você virá mês que vem para homenagem a sua mãe e seu irmão. Quando puder me liga, te amo."

Desejo Perigoso Onde histórias criam vida. Descubra agora