Capítulo 2

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Avisto a pequena casa de campo da minha avó e despacho-me a chegar lá mais rápido. Estaciono o carro mesmo à porta da mesma e saio. O calor a embater no meu corpo. Ah, adoro calor... Dirijo-me para o porta bagagens e abro-o. Tiro a mala do mesmo e fecho. Encaminho-me para a porta com a mala na mão e bato na mesma.

Passos são ouvidos do outro lado da porta e esta abre-se. A minha avó com a sua habitual saia azul escura comprida, os seus chinelos da mesma cor com flores brancas e a t-shirt branca aparece no meu campo de visão. O seu habitual sorriso brilhante é dirigido a mim e os seus braços abrem-se para me receber.

"Char..." Ela diz.

"Avó..." Digo.

"Como estás?" Ela pergunta e olha-me. Os seus lindos olhos verdes nos meus.

"Estou ótima, avó e tu?" Respondo e pergunto sorridente. Impressionante como a minha avó me faz sorrir tão rapidamente...

"Vou andando, minha querida. Entra, entra." Ela abre caminho para o interior da casa e eu despacho-me a entrar. Os meus olhos vagueiam pelo espaço já tão conhecido. "Queres ajuda com a mala, Char?" A sua voz doce pergunta.

"Não, obrigada. Eu consigo levar." Sorrio e caminho até ao meu habitual quarto. Abro a porta e vejo que está tal e qual como o deixei no fim de semana passado... Impecável.

"Vais tomar um duche?" Ela pergunta.

"Não, tomei antes de vir para cá. Quero é comer o precioso frango com laranja!" Esfrego as mãos uma na outra e a gargalhada adorável da minha avó ecoa pelo espaço.

"Então, põe-te confortável para depois vermos um filme!" Ela diz entusiasmada. "Trouxeste a televisão pequena e portátil?" Ela pergunta e eu rio-me.

"Avó, aquilo é um computador..."

"Ou isso, querida."

"Trouxe. E a internet também." Digo.

"Mas eu tinha-te dito que o vizinho aqui do lado tem essa coisa." Ela coloca as mãos nos seus quadris.

"Eu sei, avó mas podia não ter um sinal bom o suficiente para vermos o filme." Ela assente e deixa o quarto. Descalço as minhas botas e dispo-me. Puxo uma t-shirt branca pelo meu tronco e deslizo uns calções pelas minhas pernas. Tiro as meias e calço uns chinelos de enfiar no dedo.

Saio do quarto e vou até à cozinha, onde está a minha avó a servir um prato com o famoso e delicioso frango com laranja. Sento-me numa cadeira e um prato bem constituído é posto à minha frente. Esfrego as mãos e humedeço os meus lábios com a língua, fazendo a minha avó rir. Pareço uma criança...

"Obrigada, avó." Sorrio-lhe e ela sorri de volta.

"De nada, espero que gostes." Ela diz e senta-se, começando a comer.

Espeto o garfo no peito do frango e arranco-o do grande bocado. Molho-o no belo molho e levo-o à boca, mastigando lentamente. O sabor do frango e do molho de laranja misturam-se, criando um sabor único e perfeito. Como eu adoro isto... Engulo e ponho um pouco de arroz no garfo, levando-o à boca.

"Eu vou engordar uns dez quilos se continuar a comer os teus cozinhados..." Digo e ela ri-se levemente.

"Ainda bem que gostas, Charlotte." Olho-a desconfiada. Ela só me chama Charlotte quando quer falar comigo sobre algo importante.

"Queres falar comigo sobre alguma coisa importante?" Pergunto e ela olha-me.

"Sim, eu quero." Ela responde e eu pouso os talheres. Entrelaço os meus dedos e apoio os meus cotovelos na mesa.

"Estou a ouvir-te." Digo e ela suspira.

"Tu não queres saber o que se passou?" Fico confusa.

"O que se passou com o quê?" Pergunto, a minha testa franzida.

"Com os teus pais..." Ela responde baixinho e eu engulo em seco.

"Não sei se quero ouvir, avó..."

"Já passaram quatro anos desde que voltaste... Nunca tiveste curiosidade em saber a história toda?" Ela olha-me.

"Não era não ter curiosidade mas sim não ter coragem..." Suspiro.

"Charlotte... Eu acho que mereces saber... Podes esclarecer muitas dúvidas presentes na tua cabeça." Ela aconselha.

"Achas, avó?" Pergunto.

"Sim, Charlotte." Ela diz e eu assinto.

"Está bem, eu vou ouvir." Digo e ela sorri.

"Come primeiro, Char." Ela diz e eu despacho-me a acabar com toda a comida que tenho no prato.

"Pronto, já está." Engulo o último bocado de frango e ajudo a minha avó a arrumar a cozinha.

Depois de arrumada, eu e a minha avó dirigimo-nos para fora de casa e sentamo-nos num banco ao pé de uma das janelas. Olho para o céu estrelado. Lembro-me desde sempre, ia para um pequeno terraço do orfanato ver as estrelas. Era lindo. E é lindo.

"Desde pequenina que gostavas de ver as estrelas." Ela diz e eu sorrio levemente.

"No orfanato, ia sempre para o terraço ver as estrelas." Desabafo e olho para ela.

"Não sei como é que os teus pais foram capazes de fazer o que fizeram..." Ela diz e eu baixo a cabeça.

"Pois, nem eu... Eles estavam constantemente a dizer que me amavam e que fariam tudo para que eu fosse feliz..." Digo e ela agarra na minha mão.

"Talvez eles tenham tido uma razão para fazer isto." Ela diz e eu rio-me secamente.

"Sim, claro..." Cuspo e olho para ela. "Eles deixaram-me num orfanato. Que porcaria de razão iria ser essa?!"

"Não sei, meu amor... Só eles te podem responder a isso."

"Pois, mas eles não estão cá." Olho para longe.

"Queres saber a história?" Ela pergunta e eu olho novamente para ela.

"Quero." Digo reticente.

"Então..." Ela ajeita-se no banco e agarra na minha mão. "A tua mãe era muito simpática e encantava qualquer homem. Até que uma família rica veio para cá e comprou o grande casarão que há a uns quarteirões daqui. Essa família era composta pelos teus avós e pelo teu pai. Ele era um rapaz mimado e arrogante. Mas quando viu a tua mãe ficou encantado e quis conhecê-la. Ele mudou muito, tornou-se num homem diferente do que era. Os teus avós não aceitaram a relação dos teus pais e deserdaram-no. Eles ficaram aqui e tiveram-te. Quando nasceste, eles foram para Londres, tentar arranjar uma casa e um trabalho. Três anos depois, eles vieram dizer-me que morreste atropelada. Fingiram culpar-se pelo assunto... E agora não sei nada deles..." Ela conta e o meu queixo cai.

Quem é a pessoa cruel que impede duas pessoas que se amam de estarem juntas? E quem são as pessoas capazes de dizer que a filha morreu quando na verdade a abandonaram numa porra de um orfanato?!

"Isso é tão mas tão... Cruel..." Comento. Eu sou cruel mas eu sou cruel porque a minha vida foi complicada! Eu sofri muito e o melhor para mim foi construir um muro à minha volta.

"Eu sei, Charlotte..." Ela diz.

"Bem, vamos ver um filme?" Levanto-me como se não tivesse ouvido a história de vida dos meus pais.

"Char, não tens de fingir que esta história não te afetou..."

"A sério, avó, vamos esquecer isto." Digo e ela assente, levantando-se. "Vamos ver um filme!" Sorrio e seguimos para dentro de casa.



Olá! Espero que gostem! O Harry vai aparecer no próximo capítulo ou no próximo. Ainda não sei... Beijinhos! <3

Charlotte |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora