Capítulo 4

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O Bluejeans cavalgou por todo aquele campo, o vento fresco embatia no meu rosto, os meus cabelos esvoaçavam e eu deixava-me ir por onde Bluejeans me levava. Oiço o som de um cavalo que não o meu e olho para trás, vendo a égua branca linda com o pãozinho sem sal do Harry em cima dela. Eles apanham-nos e a bonita égua começa a cavalgar ao mesmo ritmo do Bluejeans.

"Vai uma corridinha?" Ele pergunta e eu rolo os olhos. Mas este não me pode deixar em paz?

"Para perderes?" Provoco e ele ri-se.

"Eu não tenho mau em perder." Ele diz.

"Eu não disse nada disso." Digo e começo a abrandar. Ele parece reparar e abranda também. "Podes continuar, não te preocupes." A ironia presente na minha voz.

"Posso mostrar-te os sítios mais lindos daqui." Ele sugere.

"Porque achas que eu vou passear contigo?" Pergunto com desprezo.

"Não sei, eu sou engraçado." Ele diz inocentemente e eu rolo os olhos para a sua inocência.

"Faz-me um favor, Harry." Ele assente. "Pega na tua inocência e na tua simpatia e vai para bem longe de mim." Digo rudemente e ele torce o nariz.

"Podias ser mais simpática, sabes?"

"Desculpa mas ser simpática não faz parte de mim." Estalo e ele bufa.

"Não te fiz mal nenhum para falares assim comigo."

"E eu não te fiz mal nenhum para falares comigo de qualquer maneira." Digo e ele ri-se.

"Sim, até porque isso fez sentido." 

"Já acabaste?" Pergunto.

"Já." Responde.

"Obrigada."

"De nada." Diz e eu rio-me. Este rapaz é um cromo de primeira... "Gosto de ouvir-te a rir." Paro de rir e ele sorri, mostrando umas covinhas nas suas bochechas. Não tinha reparado que ele tinha covinhas mas isso também não interessa. "Mas tu tinhas de estragar o momento."

"Eu gosto de ser desmancha prazeres." Digo e bato com os pés no Bluejeans, fazendo um som com a boca para este recomeçar a afastar-se do Harry. "Adeus, Harry." Sorrio falsamente e concentro-me no caminho de volta para casa.

Este Harry acha-se importante mas eu dou-lhe o importante! Ele até pode ser importante mas é aqui nesta terra porque na cidade coitado... Avisto a minha casa ao longe e paro o Bluejeans. Saio de cima dele e tiro a as rédeas e a cabeçada. Sento-me no chão e o Bluejeans deita-se, pousando o focinho no meu colo. Acaricio o mesmo e olho para o vasto terreno à minha frente.

Lembranças da noite de ontem invadem a minha mente. Os meus pais abandonaram-me num orfanato e disseram à minha avó que eu morri! Que tipo de pessoa faz isso? Como é uma mãe e um pai abandonarem a filha num orfanato e mentirem sobre o seu paradeiro? Que tipo de mãe e pai é que faz isso?! Desculpem mas isso não faz sentido nenhum! É cruel e se os meus pais fizeram isto, não me tinham! Isto foi demais! Se era para me abandonarem num orfanato, o meu pai que ficasse com o seu amigo dentro das calças ou que usassem proteção, se é que isso existia na altura!

A égua branca do Harry aparece no meu campo de visão e rolo os olhos. Eu não sei porque raio está ele sempre a aparecer! Ele pára a linda égua e sai de cima dela. Tira as rédeas e a cabeçada e a égua começa a cavalgar pelo espaço. Harry caminha na minha direção e senta-se ao meu lado.

"Olá, outra vez." Ele sauda e eu bufo.

"Podes, por favor, deixar-me em paz?" Digo, a minha voz a falhar. Posso ser como sou mas há algo que me vai sempre fragilizar, mesmo que eu não queira. E esse algo é a minha mãe e o meu pai.

"Estás bem?" Pergunta-me.

"Ótima." Minto e sinto o meu nariz crescer como o pinóquio. 

"Não estás nada, eu sei disso."

"Então se sabes que não estou, porque é que perguntaste?" Pergunto-lhe rude.

"Porque tinha esperanças que não me fosses mentir." Ele responde.

"Não tenhas esperança em mim." Aviso.

"Porquê?"

"Porque eu definitivamente não sou uma pessoa na qual devas ter esperança." Digo.

"Porquê?"

"Pára de fazer perguntas!" Resmungo e ele ri-se. "Não tem piada." Estalo.

"Ok, ok, calma." Ele pára de rir e olha-me intensamente. Eu posso não estar a olhar para ele mas sinto que o seu olhar está posto em mim porque o meu corpo está a arder. "O que se passa?"

"O que se passa o quê?"

"O que se passa contigo? Estás triste." Olho para ele.

"Como sabes se estou triste ou não?"

"Os teus olhos já não têm o brilho lindo que tinham quando estavas a rir há minutos atrás..." Explica e sinto a minha pele arrepiar.

"Desampara-me a loja, Harry." Cuspo e ele bufa.

"Como é que consegues ser tão rude?! Eu estou a tentar ajudar-te mas tu só sabes afastar-me! Tu não podes fazer isso!" Ele explode.

"Observa." Dou-lhe um sorriso falso e retiro com cuidado o focinho do Bluejeans do meu colo. Levanto-me e começo a caminhar para longe.

"Ei, volta aqui!" Ele grita e eu ignoro. "Miúda!" Olho para ele.

"Miúda, o quê?!"

"Desculpa mas não sei o teu nome, tinha de te chamar à atenção." Ele diz, já perto de mim.

"Que queres?"

"Ajudar-te."

"Eu não preciso nem quero a tua ajuda." Estalo e ele baixa a sua cabeça.

"Tu estás magoada com alguma coisa, eu só quero ser teu amigo."

"Pois mas eu não." Digo e viro costas. 

Que chato! Mas quem é que ele pensa que é para me dizer se eu estou magoada e se estou triste ou não?! Ninguém! Ele não é ninguém! Porque ele não passa de um rapaz de campo que nem um telemóvel ele deve saber o que é!

Chego a casa e abro a porta. Entro na cozinha para beber água e encontro a minha avó no fogão. Esta olha para mim e sorri. Sorrio de volta e caminho até ao armário dos copos. Tiro um copo e encho-o com água, levando-o aos lábios. Engulo o líquido e aprecio a sensação fresca na minha garganta seca.

"Vieste cedo." A minha avó diz e eu olho para ela.

"É." É tudo o que digo.

"Hoje temos visitas para o jantar." Ela avisa.

"Quem?"

"Um casal muito simpático com os filhos." Rolo os olhos mentalmente. Vou ter de aturar um puto?

"Filhos?"

"Sim, o mais novo é da tua idade." Sorrio. Ao menos isso... Mas daqui deve ser um cromo como o Harry.

"Como se chama?" Pergunto e ela faz uma cara pensativa.

"Quem?"

"O mais novo."

"Harry." 

Olá! Espero que estejam a gostar da fic! Bem, agora vou almoçar fora, beijinhos! <3

Charlotte |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora